Conheça a origem da uva Syrah, fruta cultivada na antiga Pérsia e com história que remonta ao Oriente Médio

Conheça a origem da uva Syrah, fruta cultivada na antiga Pérsia e com história que remonta ao Oriente Médio


Syrah se consolidou como uma das variedades emblemáticas da região, levando à produção de vinhos reconhecidos mundialmente

Arquivo Pessoal/Esper Chacur Filhovinho da uva Syrah
Syrah ganhou destaque, especialmente na região de Bekaa Valley, que possui um clima favorável ao cultivo de vinhedos

A uva Syrah tem uma história rica e fascinante que remonta ao Oriente Médio, onde suas raízes se estabelecem em regiões que hoje correspondem ao Líbano, Síria e Irã. Acredita-se que a Syrah tenha sido cultivada na antiga Pérsia, onde era apreciada por
suas qualidades excepcionais. Acredita-se, também, que a uva tenha viajado ao longo das rotas comerciais, sendo introduzida em várias regiões ao longo do caminho.

Registros da antiguidade indicam que a viticultura no Líbano e nas regiões vizinhas é uma prática que existe há milênios. Acredita-se que os fenícios, navegadores e comerciantes antigos, desempenharam um papel crucial na disseminação da uva através do Mediterrâneo. A Syrah chegou à França através de diversas rotas comerciais, sendo a mais famosa a que conecta o Oriente Médio ao Vale do Ródano (Rhône). O nome Syrah pode ter origem na cidade de Shiraz, no Irã, um dos centros históricos de viticultura. Embora a conexão exata entre a Syrah persa e a variedade cultivada na França seja debatida, a uva encontrou um lar ideal no Vale do Ródano, onde começou a ser cultivada com sucesso. A partir do século XIX, a Syrah se consolidou como uma das variedades emblemáticas da região, levando à produção de vinhos reconhecidos mundialmente. À medida que os vinhos da Syrah ganhavam popularidade na França, o cultivo da uva começou a se espalhar para outras partes do mundo, resultando na diversidade de estilos que conhecemos hoje. A Syrah, portanto, é um testemunho da rica herança cultural e histórica do Oriente Médio, uma variedade que atravessou fronteiras e se adaptou a diferentes terroirs, enriquecendo o mundo do vinho.

No Líbano, a Syrah ganhou destaque, especialmente na região de Bekaa Valley, que possui um clima favorável ao cultivo de vinhedos. Os vinhos libaneses de Syrah são conhecidos por sua elegância e complexidade, frequentemente apresentando notas de frutas escuras, especiarias e um leve toque terroso. As vinícolas, como Château Musar, são renomadas por suas produções de alta qualidade, que refletem a herança vinícola milenar do país. Na Síria, a produção de vinhos a partir da Syrah é menos conhecida, mas a variedade é cultivada em algumas regiões, como na área ao redor de Qusair, onde o clima e o solo são propícios para o cultivo. Os vinhos sírios de Syrah tendem a ser encorpados e frutados, refletindo as tradições locais na viticultura. Na Grécia, especialmente em Creta, a Syrah tem ganhado notoriedade, sendo cultivada em microclimas que favorecem o amadurecimento da uva. Os vinhos de Syrah cretenses são frequentemente caracterizados por uma boa estrutura e uma diversidade de aromas, incluindo frutas escuras e ervas mediterrâneas.

Já no chamado “Novo Mundo”, esta casta se mostrou promissora ao extremo e hoje tem uma preponderância considerável em vários países produtores. Na Austrália, a Syrah é conhecida como Shiraz, e é uma das variedades mais emblemáticas do país. Os vinhos australianos costumam ser mais robustos, com sabores intensos de frutas maduras, um caráter picante e notas de chocolate. Regiões como Barossa Valley e McLaren Vale são renomadas por suas Shiraz de alta qualidade. Já na Argentina, especialmente na região de Mendoza, tem se destacado por sua expressão frutada e suculenta. Os vinhos frequentemente apresentam notas de frutas vermelhas, como cerejas e framboesas, acompanhadas de nuances de especiarias e um toque terroso. A altitude das vinícolas argentinas contribui para uma boa acidez e frescor. Na Califórnia,
a Syrah tem se tornado cada vez mais popular, especialmente em regiões como Paso Robles e Sonoma.

Os vinhos americanos costumam ter uma abordagem mais frutada e acessível, com taninos macios e um perfil aromático vibrante. No Uruguai, a Syrah é cultivada principalmente na região de Canelones, onde o clima ameno e a diversidade de solos favorecem o cultivo. Os vinhos uruguaios de Syrah são conhecidos por sua intensidade aromática, com notas de frutas escuras, especiarias e um toque de frescor. Os produtores uruguaios vêm investindo em técnicas de vinificação modernas, resultando em vinhos encorpados e acessíveis que têm ganhado reconhecimento internacional. A África do Sul é uma das regiões mais promissoras para a produção de Syrah, especialmente em áreas como Stellenbosch e Swartland.

Os vinhos sul-africanos de Syrah costumam apresentar uma rica paleta de sabores, incluindo frutas escuras, pimenta preta e notas herbais. A diversidade de microclimas e terroirs permite que os vinhos variem, desde opções mais frutadas e suaves até aquelas com estrutura robusta e complexidade, refletindo o caráter único da região. O Chile, em que pese a insistência de seus viticultores produzir vinhos planos, globalizados e sem identidade definida, a Syrah é cultivada em diversas regiões, como o Vale do Colchagua e o Vale do Elqui, apresentando vinhos excessivamente concentrados mas que, frequentemente, apresentam aromas de frutas maduras, chocolate e especiarias, os tornando meio enjoativos e pesados. Claro que há exceções, como os Syrahs de Casablanca que são bem equilibrados. Para terminar a “viagem” da Syrah, destaco que no Brasil, esta uva está ganhando espaço, especialmente em regiões como o Vale dos Vinhedos e a Serra do Sudeste. Os vinhos brasileiros de Syrah são frequentementecaracterizados por sua frescura e notas frutadas, refletindo o clima ameno e a diversidade dos terroirs.

Deste panorama global emerge que os vinhos feitos a partir da uva Syrah são geralmente encorpados, com taninos firmes e uma acidez equilibrada. Notas de frutas escuras, como amoras e framboesas, são comuns, além de toques de especiarias, pimenta, chocolate e até mesmo defumado, dependendo do terroir e do método de vinificação. A Syrah pode variar bastante em estilo, desde vinhos mais frutados e acessíveis até vinhos complexos e envelhecidos em barricas de carvalho. Sobre a harmonização, a Syrah é a grande companheira do cordeiro, mas pode ir muito bem
com pratos condimentados, como curry ou pratos da culinária mediterrânea, bem como com as carnes vermelhas grelhadas em geral, como um bom filé mignon ou costela, e, até com queijos curados, como cheddar ou gouda.

A Syrah é uma uva que, independentemente da região, proporciona experiências ricas e memoráveis. Cada terroir traz uma nova faceta a essa cativante variedade, tornando-a uma escolha popular entre os amantes do vinho.

Salut!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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