Chamados ‘príncipes’ da Igreja realizam reuniões diárias a portas fechadas desde a morte do primeiro pontífice latino-americano, em 21 de abril

O Vaticano informou, nesta terça-feira (29), duas ausências no conclave que elegerá o sucessor do papa Francisco a partir da próxima semana, o que reduz o total de cardeais com direito a voto para 133. Um espanhol e um bósnio não poderão participar por motivos de saúde. O porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, não confirmou suas identidades. A Conferência Episcopal Espanhola informou à AFP que um deles era Antonio Cañizares, 79 anos, arcebispo de Valência. Os cardeais com menos de 80 anos têm direito a votar na eleição do novo pontífice, que começa em 7 de maio na Capela Sistina: inicialmente eram 135 de 252. O novo papa é eleito com pelo menos dois terços dos votos. Os cardeais não terão acesso a seus celulares, à internet ou à imprensa até que a fumaça branca anuncie o “Habemus papam”.
“Eminência, eminência!”
Os chamados “príncipes” da Igreja realizam reuniões diárias a portas fechadas na sala Paulo VI do Vaticano desde a morte do primeiro pontífice latino-americano, em 21 de abril, aos 88 anos. As reuniões são as “congregações gerais” nas quais os cardeais debatem as prioridades para o futuro da instituição de 2.000 anos. Nesta terça-feira, as discussões abordaram a evangelização e o papel da Igreja na paz. Na véspera, o encontro abordou a questão dos abusos sexuais por parte do clero. Um total de 80% dos cardeais eleitores foram designados por Francisco, que criou cardinalatos em regiões remotas, historicamente esquecidas pela Igreja Católica. Muitos cardeais, portanto, não se conhecem.
Bruni disse que eles usam cartões com seus nomes para facilitar a identificação. Os jornalistas bombardeiam com perguntas cada cardeal que passa em direção ao local das reuniões.”Eminência, eminência!”, gritam os profissionais da imprensa, com câmeras, smartphones e microfones. A maioria evita falar com a imprensa. Passam sem desviar o olhar do chão ou sorrindo em silêncio. “Há um ambiente fraternal e sincero”, disse o cardeal iraquiano Louis Raphaël I Sako, patriarca da Igreja caldeia, “um espírito de responsabilidade para buscar alguém que continue o trabalho de Francisco”. O estilo e as reformas impulsionadas pelo jesuíta argentino despertaram, no entanto, críticas entre os setores mais conservadores, que agora apostam por uma mudança concentrada na doutrina.
“Decidi obedecer”
O processo de escolha do novo pontífice provoca fascínio há séculos e aumentou nos últimos meses com a estreia do filme premiado “Conclave”. A eleição que levou Francisco em 2013 à Cátedra de Pedro demorou dois dias, a mesma duração da votação de seu antecessor, Bento XVI, oito anos antes. Sako também espera um conclave “curto” desta vez. “Dois ou três dias”, disse. O italiano Pietro Parolin aparece como um dos favoritos à medida que crescem conflitos e crises diplomáticas pelo mundo. O cardeal atuou como secretário de Estado com Francisco, depois de exercer o posto de núncio na Venezuela. “Representa um voto para continuar a essência do papado de Francisco, mas sem o instinto rebelde de Francisco”, declarou John Allen, editor do jornal católico online Crux, a respeito de Parolin.

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A casa de apostas britânica William Hill o coloca à frente do filipino Luis Antonio Tagle, seguido pelo cardeal ganês Peter Turkson e pelo também italiano Matteo Zuppi. O italiano Angelo Becciu, de 76 anos, desistiu da tentativa de pressionar para entrar no conclave, depois de ter sido excluído por decisão de Francisco, que despojou seus privilégios de cardeal após uma operação imobiliária opaca em Londres que o levou à Justiça. Ele insistia que era seu dever participar do conclave porque ainda tinha o título de cardeal e participava das reuniões preparatórias, mas Parolin apresentou dois documentos do papa Francisco que confirma sua exclusão. Mas o italiano cedeu. “Tendo no coração o bem da Igreja, à qual servi e continuarei servindo com fidelidade e amor, assim como para contribuir com a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer como sempre fiz”, afirmou o cardeal em um comunicado enviado à AFP por seu advogado.
Publicado por Luisa Cardoso
*Com informações da AFP