Oposição na Câmara quer convocar Lupi por fraude no INSS

Oposição na Câmara quer convocar Lupi por fraude no INSS


Líder diz que demissão do ministro “é para ontem”, diante da revelação de que ele sabia dos indícios de irregularidades desde junho de 2023

A oposição na Câmara dos Deputados quer convocar o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, para falar sobre o esquema de fraudes em descontos indevidos aplicados em aposentadorias e pensões de beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). 

De acordo com atas do CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social), Lupi sabia dos problemas em descontos de aposentadorias, mas demorou quase 1 ano para agir. O ministro tomou conhecimento dos indícios de irregularidades em junho de 2023, mas o conselho só voltou a falar do assunto em abril de 2024.

Para o líder da Oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), diante das novas revelações, “a demissão de Lupi é para ontem”. O objetivo agora é convocar o ministro para prestar esclarecimentos no plenário da Casa Baixa.

Contudo, o deputado Evair de Melo (PP-ES) apresentou requerimento na 5ª feira (24.abr) para que Lupi seja convocado a falar na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

No pedido, Melo lembra escândalos passados com o nome de Lupi. Em 2011, quando era ministro do Trabalho no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o político foi acusado de ter acumulado 2 cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos de 2000 a 2005. 

À época, a Comissão de Ética Pública recomendou que Dilma demitisse Lupi, mas ele acabou se demitindo antes. 

A oposição também já conseguiu 120 assinaturas para pedir a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as irregularidades no INSS.

INVESTIGAÇÃO

A PF (Polícia Federal) deflagrou na 4ª feira (23.abr) a operação Sem Desconto para apurar as fraudes no INSS. O prejuízo estimado é de R$ 6,3 bilhões no período de 2019 a 2024. 

Durante a ação, foram cumpridos 211 mandados de busca e apreensão, 6 mandados de prisão temporária e ordens de sequestro de bens que somam mais de R$ 1 bilhão. A operação foi realizada em 13 Estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará e também no Distrito Federal.

O governo informou que 6 pessoas foram afastadas de suas funções por determinação da Justiça Federal. Entre os alvos está o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. A CGU (Controladoria-Geral da União) também participa das investigações.

COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA

Segundo a PF, o esquema envolvia entidades de classe que realizavam descontos diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas, sem autorização. Os valores eram cobrados como mensalidades associativas, mas não havia prestação efetiva de serviços.

Auditoria da CGU apontou que 70% das 29 entidades analisadas não entregaram a documentação exigida pelo INSS. Em entrevistas da CGU com 1.300 beneficiários, a maioria declarou não ter autorizado nenhum desconto. Entre as entidades envolvidas estão Ambex, Contag, Caap e outras 9 com Acordos de Cooperação Técnica firmados de 1994 a 2023.

A investigação identificou falhas na verificação da autorização dos beneficiários e indícios de falsificação de documentos. As entidades assinavam acordos com o INSS que permitiam os descontos, mas muitos eram aplicados sem consentimento dos segurados.

QUANDO COMEÇARAM AS INVESTIGAÇÕES

A CGU iniciou as apurações em 2023, ao perceber o aumento expressivo no número de entidades conveniadas e nos valores descontados de beneficiários.

Foram realizadas auditorias em 29 entidades com acordos de cooperação e conduzidas entrevistas com 1.300 aposentados que tinham descontos em folha de pagamento.

Os crimes investigados incluem:

  • corrupção ativa e passiva;
  • organização criminosa;
  • lavagem de dinheiro;
  • falsificação de documentos;
  • violação de sigilo funcional.

A PF informou ter apreendido carros de luxo, dinheiro em espécie, joias e obras de arte. Os valores exatos ainda estão sendo contabilizados.

QUEM FOI AFASTADO

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou nesta 4ª feira (23.abr) os nomes de 5 funcionários afastados, além do presidente do INSS. São eles:

  • Alessandro Stefanutto – presidente do INSS;
  • Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho – procurador-geral do INSS;
  • Vanderlei Barbosa dos Santos – diretor de Benefícios e Relacionamento;
  • Giovani Batista Fassarella Spiecker – coordenador de Suporte ao Atendimento;
  • Jucimar Fonseca da Silva – coordenador de Pagamentos e Benefícios.

Além deles, foi afastado um policial federal, cuja identidade não foi divulgada.

QUEM É ALESSANDRO STEFANUTTO?

Alessandro Antonio Stefanutto assumiu a presidência do INSS em julho de 2023, nomeado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. É procurador federal de carreira e atua na autarquia há 25 anos. Já ocupou o cargo de procurador-geral do órgão de 2011 a 2017.

Graduado em direito pela Universidade Mackenzie, tem pós-graduação em gestão de projetos e mestrado em gestão e sistemas de seguridade social pela Universidade de Alcalá, na Espanha. É filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro).

Durante sua gestão, a fila do INSS chegou a quase 2 milhões em fevereiro de 2025, o maior número desde 2020.

QUAL A ORIENTAÇÃO PARA OS BENEFICIÁRIOS?

A orientação do governo aos beneficiários é que, caso identifiquem descontos indevidos de mensalidade associativa no extrato de pagamento (contracheque), façam o pedido de exclusão por meio do aplicativo ou site “Meu INSS”.

A exclusão é automática e pode ser realizada sem necessidade de comparecimento presencial.





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