Argentino, Bergoglio nunca visitou seu país depois de virar papa

Argentino, Bergoglio nunca visitou seu país depois de virar papa


Ao longo de seus 12 anos no comando da Igreja Católica, o pontífice realizou 48 tours internacionais, passando por mais de 60 países

Jorge Mario Bergoglio iniciou seu pontificado em 2013 como o 1º papa latino-americano. Argentino, o papa Francisco nunca visitou seu país desde então. Ao longo de seus 12 anos no comando da Igreja Católica, o pontífice realizou 48 tours internacionais, passando por mais de 60 países, além do território da Cisjordânia. 

Francisco morreu nesta 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos. Com a saúde debilitada, sofria de problemas respiratórios. Foi internado em 14 de fevereiro no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilateral. O religioso teve alta em 23 de março e estava em recuperação. Sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), na benção de Páscoa.

Francisco expressou em diversas ocasiões sua vontade de visitar a Argentina. Em 2024, por exemplo, ele declarou que “gostaria de ir”, pois os argentinos são “seu povo”. Mas a viagem nunca foi realizada. 

Ao longo de seu papado, Francisco realizou de 4 a 6 viagens apostólicas por ano. Essas visitas a outros países refletiram o seu compromisso com o diálogo inter-religioso e a promoção da paz.

A viagem inaugural do papado de Francisco foi em 2013, quando o líder religioso visitou o Rio de Janeiro para a 28ª Jornada Mundial da Juventude.

Os anos de Francisco no Vaticano foram marcados por “primeiras vezes”. Em 2017, ele fez a 1ª viagem de um papa a Mianmar. Também foi o 1º pontífice a visitar os Emirados Árabes Unidos, a Macedônia do Norte e o Iraque. Ainda, Bahrein, o Sudão do Sul, a Mongólia e o Timor-Leste.

 

Papa liberal nos costumes

Além de ser o 1º papa latino-americano, Francisco foi também 1º jesuíta a exercer a função. Os jesuítas são os padres da Companhia de Jesus, a ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Santo Inácio de Loyola.

Ao ser designado papa em 13 de março de 2013, Bergoglio escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis –um santo da Igreja Católica que nunca havia sido homenageado dessa forma. São Francisco de Assis (nasceu em 1181 ou 1182 e morreu em 1226) é conhecido entre os católicos por ter devoção pelos animais e conexão com a natureza.  

Em 13 de março de 2025, Francisco completou 12 anos de pontificado. Ele liderou a Igreja Católica por mais de uma década com uma estratégia para tornar a instituição mais aberta aos fiéis, independentemente de serem ou não seguidores de todos os cânones do catolicismo. Consolidou-se entre os católicos como o “papa do povo”.

Bergoglio manteve as doutrinas católicas tradicionais, mas com novas interpretações. Seus posicionamentos em geral acolhedores e seus discursos enfatizando a misericórdia, inclusão e justiça social marcaram sua imagem como um líder mais transparente e liberal nos costumes do que seus antecessores.

A seguir, alguns marcos do pontificado do papa Francisco:

  • Igreja Católica mais liberal – aproximou seu pontificado de temas como pobreza, desigualdade social e os direitos humanos. Por exemplo, incentivou a criação de paróquias mais ativas nas comunidades carentes, promovendo o envolvimento direto dos fiéis na assistência aos mais necessitados;
  • periferias – defendeu a atuação de uma igreja missionária, descentralizada, para tentar alcançar as periferias da sociedade. Em 2015, por exemplo, declarou que a igreja “não tem as portas fechadas para ninguém” e que os divorciados “não estão excomungados” e “não podem ser tratados como tal”;
  • inclusão de não católicos – afirmou mais de uma vez que o Evangelho é para todos, destacando que a Igreja não deve ser exclusivista. Após 6 de meses de papado, por exemplo, Francisco adotou um tom inclusivo em relação a ateus e agnósticos em uma carta escrita ao jornal italiano La Repubblica. Em resposta à pergunta de Eugenio Scalfari, fundador do jornal e um agnóstico, sobre se Deus perdoaria os não crentes, ele afirmou que “Deus perdoa aqueles que obedecem à própria consciência” e que “a misericórdia de Deus não tem limites”;
  • gays – declarou que a homossexualidade não é crime. Disse que é permitido abençoar gays, mas não as uniões entre as pessoas do mesmo sexo, segundo a doutrina da Igreja;
  • mulheres – incentivou maior participação dos leigos e deu mais voz às mulheres. Francisco fez história ao nomear a 1ª mulher para chefiar um departamento de relevância dentro da estrutura do Vaticano;
  • meio ambiente – em 2015 lançou a 1ª Carta Encíclica papal dedicada ao meio ambiente e à abordagem da crise climática global;
  • paz – em discursos, destacou a importância de se negociar o fim das guerras: “Uma paz negociada é sempre melhor do que uma guerra infinita. Por favor, parem. Negociem;
  • abusos sexuais – condenou os abusos na Igreja, reforçou que são intoleráveis e que é necessário continuar trabalhando para assegurar sua punição e prevenção. Francisco criou, em 2014, a Comissão para a Tutela de Menores, órgão consultivo do Vaticano que tem a missão de propor e promover iniciativas para proteger crianças e adolescentes de abusos sexuais dentro da Igreja; 
  • imigrantes – em meio a um dos maiores debates na Europa sobre a entrada de pessoas ilegalmente no continente, defendeu que as pessoas deveriam ser acolhidas e tratadas humanamente.

Essa abordagem pastoral e mais aberta foi uma das marcas do papa Francisco para tentar tornar a Igreja mais acessível e relevante, num momento em que tem sido registrada uma queda do número de católicos em vários países, inclusive no Brasil.

Por diversos momentos, Francisco deixou o protocolo de lado em sua busca por manter um estilo de vida próximo das pessoas, o que é uma das marcas de seu pontificado.

Em 2015, por exemplo, o pontífice foi pessoalmente a uma ótica no centro de Roma para ajustar seus óculos. O estabelecimento era perto da movimentada Piazza del Popolo. Enquanto o religioso realizava exames de vista e ajustava as novas lentes, dezenas de pessoas se juntavam na porta do local.

Anos mais tarde, em 2022, Francisco fez uma visita surpresa a uma loja de discos no centro de Roma, perto do Panteão. Na época, o Vaticano disse que o papa era um antigo cliente do local e já o frequentava quando era arcebispo de Buenos Aires.

Transparência

Durante o seu pontificado, Francisco aumentou a transparência na Igreja Católica. Ele aboliu, por exemplo, em 2019, o segredo pontifício em casos de violência e abuso sexuais cometidos por religiosos, permitindo maior colaboração com autoridades civis.

As regras estabelecidas pelo pontífice obrigam os sacerdotes e os religiosos a denunciar suspeitas de abusos sexuais na Igreja, assim como qualquer encobrimento pela hierarquia. Em 2023, o religioso criou novas normas, aumentando a proteção para denunciantes.

Anos antes, em 2014, Francisco criou a Secretaria para a Economia, para supervisionar e reformar a gestão financeira do Vaticano.

O religioso também promoveu mudanças no controle dos recursos do IOR (Instituto para as Obras de Religião), conhecido como Banco do Vaticano. Em 2019, momento em que a instituição financeira da Santa Sé estava sendo acusada de corrupção e lavagem de dinheiro, Francisco editou novos estatutos que alteraram a estrutura do IOR e permitiam auditoria por pessoa física ou jurídica designada.





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