Antonio José de Almeida Meirelles diz ser melhor “incomodar” do que não propor mudanças para evitar controvérsias
O reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas-SP), Antonio José de Almeida Meirelles, defendeu a decisão da instituição de ensino de estabelecer cotas para pessoas trans, travestis ou não-binárias. Segundo ele, é melhor “incomodar” do que não propor mudanças para evitar controvérsias.
“É necessário reconhecer que o espaço da disputa para a entrada no ensino superior não é neutro. Ele carrega toda uma história de vida das pessoas e das oportunidades que elas tiveram previamente”, declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste sábado (19.abr.2025). “Em algum grau, a gente está reduzindo essas diferenças e dando oportunidades para um setor maior da sociedade”, afirmou.
As cotas foram aprovadas pela Unicamp em 1º de abril. As vagas serão destinadas a pessoas que se autodeclaram trans, travestis ou não-binárias. As vagas serão disponibilizadas no Edital Enem-Unicamp e vão permitir a participação tanto de candidatos de escolas públicas quanto privadas.
O modelo prevê que os cursos com até 30 vagas regulares deverão ofertar, no mínimo, uma como vaga regular ou adicional para essa parcela da população. Já os cursos com 30 ou mais vagas deverão ofertar duas vagas, podendo ser regulares ou adicionais.
A medida foi alvo de críticas. O deputado estadual de São Paulo Guto Zacarias (União Brasil), por exemplo, solicitou que o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) entre com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a norma. Segundo ele, a medida cria “discriminação inversa”. Eis a íntegra (PDF – 127kb).
Meirelles disse preferir “o incômodo que essas posições causam do que evitar a polêmica por não propor mudanças”.
O reitor declarou que a criação das cotas não quer dizer que os estudantes entrarão na Unicamp apenas por pertencer ao grupo para o qual as vagas são destinadas.
“Eles entram porque têm um desempenho nos processos de seleção acima do mínimo e porque têm essa vulnerabilidade”, afirmou.
Meirelles disse que, além de possibilitar o ingresso dos estudantes, as cotas abrem as salas de aula para temas mais abrangentes no universo LGBTQIA+.
“Mudar a população da universidade gera uma sensibilidade diferente”, declarou.
Leia mais: