Congresso em Foco

Congresso em Foco


O deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) foi o único da bancada do Partido Liberal a não assinar o pedido de urgência para o projeto que prevê anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro. O posicionamento o isolou dentro da legenda que hoje é a principal base de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas também jogou luzes sobre sua trajetória política anterior à chegada dos bolsonaristas ao partido. Caminho esse que envolve sua passagem pelo Ministério dos Transportes no governo Dilma Rousseff e a suplência da senadora Marta Suplicy (PT-SP).

Antonio Carlos Rodrigues:

Antonio Carlos Rodrigues: “Não rasgo o meu passado”Bruno Spada/Agência Câmara

Em discurso da tribuna da Câmara, na terça-feira (15), Rodrigues reagiu às críticas feitas por aliados de Bolsonaro ao seu posicionamento contrário à anistia. Ele destacou sua independência e disse que não se guia por pressões, circunstâncias e nem por apelos de ocasião. “Sou Procurador de carreira, não venho aqui apertar botão. E quero deixar claro, eu estou no PL há mais de 25 anos. Todas as posições que eu tive na minha vida política foram pelo meu partido. Não são os que chegaram agora que vão ditar regras para mim. Não vão ditar, não! Eu sou do PL de origem, o PL que eu construí, ajudei a fundar”, declarou.

Antes de Bolsonaro

Ele criticou o radicalismo dos bolsonaristas. “Vocês estão enganados, mas muito enganados mesmo, com o que ficam falando, porque o nosso partido já foi também Situação. Nós tivemos o vice-presidente da República no governo Lula [José de Alencar]. Eu não rasgo o meu passado, não. Eu não rasgo. Vocês que chegaram têm que saber como era o PL”, afirmou.

Ouça o discurso feito pelo deputado para justificar sua posição contrária à anistia:

De acordo com o Radar do Congresso, ferramenta de monitoramento legislativo do Congresso em Foco, Rodrigues está longe de ser um governista dentro do PL. Ele votou em consonância com a orientação do líder do governo em 47% das vezes em 2023 e 2024. A média da bancada é de 30%. Quatro deputados do PL têm índice de governismo superior a 75%.

Rodrigues ficou mais isolado no partido depois que Robinson Faria (PL-RN), o outro integrante da bancada que não havia votado o requerimento de urgência, ter pedido a inclusão de sua assinatura no documento. Como o prazo para adesões já acabou, sue gesto teve caráter simbólico. Robinson alega que está de partida para o Republicanos.

O pedido de urgência, para que o projeto de anistia seja votado diretamente no plenário sem passar por comissão, foi apresentado no início da semana pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), com 265 assinaturas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem resistido à pressão e disse que ouvirá o colégio de líderes para tomar qualquer decisão.

Lista: quem assinou a urgência para o PL da Anistia

Passagem pelo Senado

Formado em Direito, Antonio Carlos Rodrigues iniciou a vida pública na década de 1970 e ocupou diferentes cargos em administrações estaduais e municipais em São Paulo. Foi vereador na capital entre 2001 e 2012, chegando à presidência da Câmara Municipal por quatro anos.

Em 2012, assumiu como suplente no Senado, substituindo Marta Suplicy, e em 2015 foi nomeado ministro dos Transportes pela presidente Dilma Rousseff, cargo que ocupou até o afastamento da petista em 2016.

Em 2022, foi eleito deputado federal por São Paulo com mais de 73 mil votos.

Antonio Carlos foi presidente do PR (nome anterior do PL) entre maio de 2016 e agosto de 2018. Quando presidia o partido, chegou a ser preso na mesma operação da Polícia Federal que prendeu à época o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Rodrigues passou poucos dias preso e foi solto pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral concluiu que não havia indícios contra o deputado, encerrando a ação penal contra ele.

Críticas à anistia

Antonio Carlos já havia se manifestado contra os ataques golpistas, chamando os atos de 8 de janeiro de crime e afronta ao Estado Democrático de Direito. Também fez elogios públicos ao ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre o caso no Supremo Tribunal Federal. “O que o ministro faz é muito bem feito. Eu admiro a atitude e a coragem de Alexandre de Moraes”, disse.

Sua recusa em apoiar a anistia provocou reações entre apoiadores do ex-presidente Bolsonaro. O pastor Silas Malafaia o chamou de traíra. O deputado respondeu da tribuna: “Lamento que, no momento em que o país clama por serenidade e equilíbrio, ele opte por adotar um discurso que contribui para o acirramento dos ânimos. Caso deseje participar ativamente do debate político, sugiro que coloque seu nome à disposição da população por meio de processo eleitoral”.

Relações políticas diversas

Embora atualmente compartilhe espaço com nomes ligados ao bolsonarismo no PL de São Paulo, Rodrigues mantém relações com figuras de diferentes campos políticos. Já apareceu em agendas com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o ministro dos Esportes, André Fufuca, e é considerado próximo de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

Sua trajetória inclui ainda apoio a pautas sociais no Senado, como o projeto que propôs mudanças nas bulas de remédios para facilitar a leitura por pessoas com deficiência visual.Ao recusar a anistia aos envolvidos nos atos golpistas, ele reafirmou seu vínculo com o partido, mas manteve uma posição diferente da maioria: “Não fui eleito para passar a mão na cabeça de quem atacou a democracia”.



Source link