Carta sob sigilo expõe bastidores da CBF e clima de conformismo entre dirigentes

Carta sob sigilo expõe bastidores da CBF e clima de conformismo entre dirigentes


Em mensagem enviada à coluna do jornalista Danilo Lavieri, dirigente relatou inércia dos clubes diante das denúncias reveladas pela revista Piauí

A repercussão da reportagem publicada pela revista piauí, que detalha bastidores e práticas internas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mobilizou bastidores do futebol nos últimos dias. A matéria revelou, entre outros pontos, o aumento de salários de presidentes de federações estaduais para cifras superiores a R$ 200 mil e viagens de luxo bancadas pela entidade, incluindo a presença de familiares.

Em busca de compreender como os dirigentes do futebol nacional reagiram ao conteúdo publicado, a coluna do jornalista Danilo Lavieri, do portal UOL, conversou com diversos cartolas. Um deles decidiu se manifestar por escrito, enviando uma carta sob anonimato, com o compromisso de não ter sua identidade revelada.

Veja as fotos

Nike tem contrato com a CBF até a Copa do Mundo de 2026 (Reprodução)

Nike tem contrato com a CBF até a Copa do Mundo de 2026 (Reprodução)

Ednaldo Rodrigues fez uma retrospectiva sobre 2024 em reunião com presidentes de federações (Rafael Ribeiro/CBF)

Ednaldo Rodrigues fez uma retrospectiva sobre 2024 em reunião com presidentes de federações (Rafael Ribeiro/CBF)

Vinícius Júnior foi homenageado pela CBF após ser escolhido o melhor do mundo pela FIFA (Joilson Marconne/CBF)

Vinícius Júnior foi homenageado pela CBF após ser escolhido o melhor do mundo pela FIFA (Joilson Marconne/CBF)


No texto, o dirigente afirma que as informações reveladas pela reportagem não causaram surpresa no meio: “Tenho visto muitos jornalistas perguntarem o motivo de nenhum clube ter se revoltado com o que mostrou a revista Piauí. Na verdade, a pergunta dos jornalistas tem uma resposta muito curiosa: ninguém se revolta porque a reportagem só mostra o motivo de o Ednaldo ter sido eleito por aclamação. O futebol brasileiro está sob sequestro e os clubes são as vítimas.”

Segundo ele, os fatos expostos já são conhecidos nos bastidores. “Não é nenhuma novidade o que a gente leu por ali. Que fique claro que não estou dizendo que a reportagem é ruim. A reportagem é boa, o repórter fez o seu trabalho e fez um grande raio-X do que acontece. Mas é que nenhum presidente de clube ou de federação foi pego de surpresa por aquilo”, revelou.

O autor da carta destaca o ambiente de normalização que se formou entre os que atuam no futebol nacional. “Na verdade, o que me assusta que ninguém tenha percebido é que ninguém se revoltou porque todo mundo que anda no mundo do futebol já sabe disso há muito tempo”, ressaltou.

Ele também compartilhou um episódio de bastidor envolvendo a tentativa de candidatura do ex-jogador Ronaldo à presidência da CBF:
“Certa vez estava em uma mesa com meus colegas dirigentes e discutindo a candidatura do Ronaldo. A pergunta foi: ‘há alguma chance de o Ronaldo ganhar?’ A resposta foi: ‘Nenhuma’. E aí a pessoa que fez a pergunta disse: ‘Então vamos continuar com o Ednaldo, não faz sentido comprar essa briga sozinho’”.

Outro ponto abordado foi a relação entre clubes, federações e os custos bancados pela CBF. “Vocês acham que os presidentes de federações não sabiam que o salário deles tinha aumentado? Os clubes não sabem que sem o apoio delas ninguém consegue se lançar candidato? E quem ousar discordar vai pagar qual preço?”, questionou.

“Quantos de nós já não presenciamos as viagens luxuosas pagas pela CBF para dirigentes, políticos e personalidades? E tudo isso acontece faz tempo. Eu já vi vice-presidente levar a sogra em viagem. Eu já vi diretor sair de camarote para receber autoridade política com tapete vermelho”, afirmou.

O dirigente também questiona a influência política nos bastidores da entidade e cita o julgamento recente no Supremo Tribunal Federal (STF). “E adivinha como a política interfere nos bastidores da CBF? Como foi o julgamento recente no STF?”

Comparando com o que ocorreu em outros países, ele menciona o caso da Fifa, investigada pelo FBI: “A Fifa mudou porque os dirigentes quiseram desviar dinheiro e deixaram um rastro nos Estados Unidos. E aí o FBI teve jurisdição para agir e ir atrás dos que acabaram condenados. E, claro, porque os EUA tinham interesse político na Fifa. Nada é de graça.”

Na visão dele, uma mudança na estrutura da CBF só ocorreria com a atuação de autoridades policiais. “Sabe como a CBF mudaria? Se a polícia investigasse. Se o assunto caísse na Polícia Federal. Porque nenhum clube, nenhuma federação e nenhum jornalista vai conseguir acabar com o sequestro. Somos todos reféns de um sistema. E isso acontece há muito tempo”, pontuou.

Por fim, ele critica a falta de unidade dos clubes diante da tentativa frustrada de formação de uma liga independente: Sabe o que é pior? Quando os clubes começam a se unir para tentar sinalizar com qualquer mudança, brigamos entre nós mesmos e não formamos a Liga. E toda vez que a gente acha que algo vai andar, aparece alguém para colocar tudo para trás. Esqueçam. Nada vai mudar!”,  conclui, com ceticismo.

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