Projeto visa a aumentar a produtividade; associação de peritos diz que medida vai contra a “essência” da corporação
A PF (Polícia Federal) lançou uma ação interna de metas e desafios entre as superintendências. O projeto chamado de Desafio PF 2025 visa a reduzir os índices de inquéritos policiais sem despacho há mais de 80 dias e incentivar o aumento da produtividade por meio de uma iniciativa que pode gerar competição.
A medida foi criticada pela Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) e pela APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais). A federação classificou o modelo adotado como “vergonhoso”.
“Tal projeto, ao ser encampado pela Direção-geral da Polícia Federal, soa como uma verdadeira afronta às atividades já desenvolvidas pelos servidores do órgão, que contam com destacado prestígio e respeito pela sociedade”, diz a nota da Fenapef. Eis a íntegra (PDF – 122 kB).
Segundo a Folha de S.Paulo, a competição terá duas etapas. A 1ª será entre março e setembro e envolve uma disputa entre as superintendências regionais. A 2ª fase será entre as 5 regiões do país. A competição irá eliminar as unidades que tiverem inquérito com mais de 180 dias sem despacho e aquelas que não realizaram nenhuma operação em 2025.
A APCF afirmou que a medida da PF vai contra a “essência” da corporação.
“A proposta, que visa a estimular operações e produtividade mediante premiação, desvirtua a essência da atividade policial e ignora os reais desafios enfrentados pelos servidores. A missão da Polícia Federal não deve ser tratada como uma competição interna, nem seu desempenho pode estar condicionado a uma lógica de premiação”, afirmou a associação em nota.
O Poder360 procurou a Assessoria de Comunicação da Polícia Federal por meio de e-mail para perguntar se gostaria de se manifestar a respeito do Desafio PF 2025. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.
Leia a íntegra da nota da APCF:
“A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) manifesta preocupação com a recente iniciativa da Polícia Federal de estabelecer um programa de metas e desafios entre superintendências. A proposta, que visa a estimular operações e produtividade mediante premiação, desvirtua a essência da atividade policial e ignora os reais desafios enfrentados pelos servidores.
“A missão da Polícia Federal não deve ser tratada como uma competição interna, nem seu desempenho pode estar condicionado a uma lógica de premiação. A segurança pública exige planejamento estratégico, investimentos estruturais e condições adequadas de trabalho –e não a imposição de desafios que transferem para os servidores a responsabilidade pela superação de obstáculos institucionais, como a falta de recursos e infraestrutura.
“Além disso, a iniciativa contraria diretrizes já existentes dentro da própria instituição, como o programa Rosa dos Ventos, que busca promover a saúde física e mental dos servidores, bem como a qualidade de vida no trabalho. Estabelecer metas competitivas pode gerar efeitos “contrários, favorecer assédio, comprometer a autonomia e prejudicar a cooperação entre as unidades, distorcendo o verdadeiro e necessário papel da corporação.
“A APCF reforça seu compromisso com uma Polícia Federal fortalecida, eficiente e respeitada, mas ressalta que isso só será alcançado com valorização profissional, estrutura adequada e respeito à natureza institucional do trabalho policial.”