Panamá liberta dezenas de deportados dos EUA que estão em limbo jurídico

Panamá liberta dezenas de deportados dos EUA que estão em limbo jurídico


Grupos de direitos humanos e advogados aguardavam no terminal de ônibus no sábado (8) e tentam encontrar abrigo para eles; autoridades dizem que os deportados poderão estender a estadia por 60 dias

MAURICIO VALENZUELA / AFPPanama Migracao EUA
Migrantes chegam à estação de ônibus de Albrook após obterem uma autorização para deixar o abrigo de San Vicente na Cidade do Panamá

Após semanas de ações judiciais e críticas de organizações de direitos humanos, o Panamá libertou neste sábado (8), dezenas de migrantes que estavam presos em um campo remoto após serem deportados dos Estados Unidos, dizendo que eles têm 30 dias para deixar o país centro-americano. Isso coloca muitos num limbo jurídico e com o desafio de encontrar um caminho a seguir. Entre eles, está Hayatullah Omagh, um jovem de 29 anos que fugiu do Afeganistão em 2022 depois que o Talibã assumiu o controle.

“Somos refugiados. Não temos dinheiro. Não podemos pagar por um hotel na Cidade do Panamá, não temos parentes”, disse Omagh à Associated Press. “Não posso voltar para o Afeganistão em nenhuma circunstância… Está sob o controle do Talibã, e eles querem me matar. Como posso voltar?”

As autoridades disseram que os deportados terão a opção de estender sua estadia por 60 dias, se necessário, mas depois disso muitos, como Omagh, não sabem o que fazer. Omagh desceu de um ônibus na Cidade do Panamá ao lado de 65 migrantes da China, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Irã, Nepal e outras nações, depois de passar semanas detido em condições precárias pelo governo panamenho, que disse que quer trabalhar com o governo do presidente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “para enviar um sinal de dissuasão” às pessoas que desejam migrar.

Abrigo

Grupos de direitos humanos e advogados que defendem os migrantes aguardavam no terminal de ônibus e se esforçam para encontrar abrigo e outros recursos para eles. Dezenas de outras pessoas permaneceram no campo. Entre os que desceram dos ônibus estão migrantes fugindo da violência e da repressão no Paquistão e no Irã, e Nikita Gaponov, de 27 anos, que fugiu da Rússia devido à repressão por fazer parte da comunidade LGBTQ+.

Ele disse ter sido detido na fronteira dos EUA, mas não teve permissão para fazer um pedido de asilo. “Quando eu descer do ônibus, vou dormir no chão esta noite”, disse. Outros voltaram os olhos para o Norte mais uma vez, dizendo que, embora já tivessem sido deportados, não tinham outra opção senão continuar depois de atravessar o mundo para chegar aos EUA.

Acordo entre Trump, Panamá e Costa Rica

Os deportados, em grande parte de países asiáticos, são parte de um acordo fechado entre a administração Trump e o Panamá e a Costa Rica, enquanto o governo dos EUA. O governo norte-americano enviou centenas de pessoas, muitas famílias com crianças, para os dois países da América Central como uma escala enquanto as autoridades organizam uma maneira de enviá-los de volta aos seus países de origem.

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Críticos descreveram isso como uma forma dos EUA exportarem seus processos de deportação. O acordo gerou preocupações em relação aos direitos humanos quando centenas de deportados detidos em um hotel na Cidade do Panamá colocaram bilhetes em suas janelas implorando por ajuda e dizendo que estavam com medo de retornar aos seus países.

De acordo com o direito internacional dos refugiados, as pessoas têm o direito de solicitar asilo quando fogem de conflitos ou perseguições. Aqueles que se recusaram a voltar para casa foram posteriormente enviados para um acampamento remoto perto da fronteira do Panamá com a Colômbia, onde passaram semanas em condições precárias, foram privados de seus telefones, incapazes de obter aconselhamento jurídico e não foram informados para onde iriam em seguida.

Advogados e defensores dos direitos humanos alertaram que o Panamá e a Costa Rica estavam se tornando “buracos negros” para os deportados, e disseram que sua libertação era uma forma das autoridades panamenhas lavarem as mãos dos deportados em meio às crescentes críticas.

Ao serem liberados no sábado à noite, advogados identificaram pelo menos três pessoas que precisavam de atenção médica. Uma estava vomitando há mais de uma semana, outro deportado tinha diabetes e não tinha tido acesso à insulina no campo, e outra pessoa tinha HIV e também não tinha acesso a medicamentos na detenção.

Autoridades panamenhas negaram acusações sobre as condições do campo, mas bloquearam o acesso de jornalistas ao local e cancelaram uma visita de imprensa planejada na semana passada. Enquanto organizações internacionais de ajuda humanitária disseram que organizariam viagens para um terceiro país para pessoas que não quisessem retornar para casa, autoridades panamenhas disseram que as pessoas liberadas já haviam recusado ajuda.

*Com informações do Estadão Contéudo e Associated Press
Publicado por Carolina Ferreira





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