A ex-ministra da Saúde Nísia Trindade criticou nesta quarta-feira (26) o “processo de fritura” na imprensa em relação à sua demissão, que foi anunciada antes mesmo do comunicado oficial pelo presidente Lula na terça-feira. A intenção de Lula de substituir a ministra já era noticiada há meses por diversos veículos.
Nísia Trindade deixa o ministério após dois anos de gestãoMarcelo Camargo/Agência Brasil
Na entrada do Ministério da Saúde, onde se despediu de sua equipe, a ex-ministra afirmou que emissoras divulgaram informações incorretas, inclusive sobre uma suposta reunião de despedida, e que a antecipação da notícia pela imprensa foi “inconcebível”. Nísia foi recebida com aplausos por seus assessores.
Então eu repito, é uma forma que não deveria ocorrer, e inclusive é inadmissível que emissoras divulguem notícias falsas sem apuração. Isso aconteceu também, disseram que eu estava fazendo uma reunião de despedida. Eu jamais faria isso enquanto ministra, afirmou Nísia ao ser abordada pela CNN Brasil. Estou me referindo ao processo chamado por vocês mesmos de fritura na imprensa. Isso é inconcebível e não deveria acontecer. Deveriam simplesmente apurar os fatos e não se antecipar às decisões que cabem ao presidente, completou.
A insatisfação com sua gestão, marcada por crises como a dos Yanomamis e os altos índices de dengue, já era conhecida nos bastidores do Planalto. Lula comunicou a Nísia sobre sua demissão na terça-feira, alegando a necessidade de uma “mudança de perfil” no ministério, buscando fortalecer as “dimensões técnico-políticas”.
O presidente entende que as dimensões técnico-políticas são importantes neste momento, é a avaliação dele. O que eu disse a ele, e repito aqui, é que ele é o técnico de um time. Faz parte da vivência de qualquer governo a substituição de ministros. Isso nada depõe em relação ao meu trabalho, sou muito consciente disso, declarou.
Nísia afirmou que compreende a decisão, embora considere que seu trabalho foi de qualidade. Negou que um evento realizado na manhã de terça, anunciando um acordo para a produção em larga escala da vacina contra a dengue, fosse uma estratégia para garantir uma saída honrosa.
Desde o início do governo, Nísia enfrentou pressão para dar um viés mais político à pasta. Antes de assumir o Ministério, ela presidiu a Fiocruz, onde coordenou o combate à covid-19 e criou o Observatório Covid-19.
Alexandre Padilha assume o ministério com os desafios de conter o aumento de casos de dengue e melhorar o diálogo com o Congresso e gestores estaduais.