Os aliados de Jair Bolsonaro fizeram discursos, ergueram cartazes, gritaram e acusaram a PGR e o Supremo de comandar uma perseguição “injusta” ao ex-presidente. A reação era previsível. Por trás dessa cena sobre o passado, no entanto, os líderes que o apoiam ainda não sabem como abrir o caminho para o futuro. Bolsonaro já está inelegível e será difícil escapar de novas condenações diante da denúncia apresentada pelo procurador-geral, Paulo Gonet, que o coloca no centro de uma trama para um golpe de Estado. Na prática, ele é página virada, ainda que seja um líder popular. A preocupação dos adversários de Lula e do PT, agora, é substituí-lo nas urnas das eleições de 2026.
Três governadores são apontados como alternativa: Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Jr (PR) e Tarcísio de Freitas (SP). A mais recente pesquisa da Genial/Quaest ampliou a lista com o coach Pablo Marçal, o cantor Gusttavo Lima, o deputado Eduardo Bolsonaro, Ciro Gomes e o governador mineiro, Romeu Zema. Do campo aglutinado em torno do PT, só Lula. O presidente vence em todos os cenários, apesar do desgaste do governo e da queda de popularidade.
Os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), três nomes da direita cotados para tentar a presidência em 2026Neto Talmeli/Folhapress
Se Lula tem um problema – decidir se será ou não candidato e escolher um eventual sucessor -, os adversários têm vários: desconhecimento, desarticulação e falta de proposta. Caiado, por exemplo é ignorado por 68% dos eleitores. Tarcísio, por 45%. Marçal ganhou alguma notoriedade na campanha paulistana, ainda assim é um desconhecido para um terço do eleitorado. O Brasil é grande.
Bolsonaro virou uma pedra no sapato do antilulismo e do antipetismo, dos liberais e dos conservadores, da direita e da extrema-direita. Nas eleições municipais, o ex-presidente viu que perdera o monopólio da oposição, conquistado em 2018, e outros líderes, como alguns dos avaliados pela Quaest, se fortaleceram regionalmente sem a sua ajuda. Sem Bolsonaro na lista de candidatos à presidência, o desafio deles é encontrar um ponto de união. Caso prevaleça a fragmentação, Lula não terá menos dificuldades em 2026.
No Congresso, a gritaria dos bolsonaristas contra o Supremo continuou sendo apenas estridência. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, rejeitou a ideia de levar à votação uma proposta de anistia para os condenados do 8 de janeiro, bandeira do grupo parlamentar de Bolsonaro. Hugo Motta, presidente da Câmara, na semana passada dizia que era preciso discutir o assunto; agora desconversou. Líderes do PT garantem ter ouvido dele que o projeto não entrará na pauta.
Faltam 20 meses e muitas definições para a escolha do próximo presidente. Apesar do favoritismo de Lula hoje, até pela ausência de adversário viável, não está fácil para ninguém, como mostraram os dados da pesquisa Datafolha da semana passada: 24% dos eleitores brasileiros aprovam o governo Lula e 41% o reprovam. A crítica ao governo, com a queda abrupta na popularidade do presidente, evidencia uma insatisfação difusa. O candidato que conseguir transformar esse sentimento em esperança terá chance real de ganhar a cadeira no Planalto.
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