O presidente Arthur Lira (PP-AL) foi o terceiro líder de um dos partidos da base do governo a fazer uma crítica pública à gestão Lula e a colocar em questão um eventual apoio à reeleição do presidente em 2026 — em três dias. O presidente da Câmara, em entrevista ao jornal Valor Econômico, declarou que o governo “não está em ordem” e que, em 2026, “ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar, sabendo que vai naufragar”.
A declaração de Lira se encaixa em uma sequência de críticas vindas de nomes importantes e articuladores de partidos da base:
- O presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou na quarta-feira (29) que o presidente Lula, “se fosse hoje, perderia a eleição” e que a queda da aprovação do governo no Nordeste é “indicativo muito grande de que o PT, se fosse hoje, entraria na campanha não na condição de favorito, na condição de derrotado”. Também disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “fraco” e “não consegue se impor no governo”.
- O deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, disse que o governo está “um pouco sem rumo” e que “falta entrosamento interno” em entrevista publicada na quinta-feira (30). Também afirmou que a tendência do partido é apoiar algum candidato de centro-direita nas eleições presidenciais de 2026.
- Por fim, nesta sexta-feira (31), o Valor publicou a entrevista com Arthur Lira, presidente da Câmara e filiado ao PP, dizendo que “o apoio eleitoral depende de economia e de possibilidades. De novo: ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar, sabendo que vai naufragar”. Lira também diz que Lula precisa “conversar mais com a base dele”.
O PSD tem três ministérios no governo, com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e André de Paula (Pesca), mas abriga políticos de diferentes orientações políticas: o próprio Kassab ocupa a função de secretário de Governo e Relações Institucionais na gestão de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro. O governador do Paraná, Ratinho Júnior, é filiado à legenda e apontado como um dos nomes mais próximos da direita que podem disputar as eleições presidenciais em 2026.
Republicanos e PP ocupam uma pasta cada um na Esplanada dos Ministérios de Lula, com Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e André Fufuca (Esporte) — duas nomeações feitas já em uma primeira reforma ministerial, buscando firmar uma base do governo na Câmara. Nas eleições de 2022, as duas legendas apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência.
Os três partidos, juntos, somam 138 deputados, uma bancada equivalente a um quarto da Câmara dos Deputados. De acordo com o Radar do Congresso, o PSD vem votando com o governo Lula em 81% das vezes; o Republicanos, em 78%; e o PP, em 76%. Um desembarque de qualquer uma das legendas seria um revés pesado para o governo Lula.