A política alemã desde a redemocratização na década de 1940 passou por períodos de diversas coalizões partidárias. Em um contexto de reconstrução de uma nação embaixo dos escombros da mais terrível das guerras, a União Democrática Cristã, CDU, de centro-direita, e o Partido Social-Democrata da Alemanha, SPD, de centro-esquerda, foram as forças políticas dominantes. Em uma alternância de poder harmoniosa e a construção de consensos, a Alemanha conseguiu progredir muito em 75 anos, em alguns momentos contando, até mesmo, com a união dos rivais históricos em uma grande coalizão. Contudo, o identitarismo crescente e pautas migratórias, puxaram a SPD mais para a esquerda e empurraram a CDU mais à direita, esvaziando o tradicional centro democrático no parlamento alemão.
Em 2013, ex-membros da CDU fundaram um novo partido, a Alternativa para a Alemanha, AfD, um grupo eurocético, nacionalista, anti-imigração, com uma retórica ainda mais conservadora que a União, o que os tornou um partido considerado de extrema-direita por ampla parcela da sociedade alemã. Mesmo com a moderação do seu discurso após chegar ao parlamento, a AfD ainda enfrenta enorme resistência para ser tratada como uma força política democrática dentro do Bundestag.
Por isso, foi criada uma espécie de aliança, um acordo metaforicamente chamado de Brandmauer, o muro corta-fogo, descrevendo uma barreira política levantada pelos partidos tradicionais para frear o avanço da AfD em sua influência em decisões políticas. Essa estratégia foi adotada como uma maneira dos partidos mais ao centro de proteger os valores democráticos e evitar a normalização de posições radicais dentro da política alemã.
O governo enfadonho liderado pelos sociais-democratas, fez com que a Alemanha se deparasse com um dos piores momentos de estagnação econômica em sua história pós-guerra, se considerarmos a normalidade de 2024 comparada com as crises de 2008 ou a pandemia em 2020. A falta de modernização e competitividade afeta diretamente a esperança dos alemães em um novo milagre econômico, o que torna o governo Scholz, extremamente impopular.
A falida política migratória do país também tem cobrado seu preço recentemente, já que múltiplos assassinatos e ataques violentos foram cometidos, em sua maioria, por refugiados de cultura islâmica. A permissividade do sistema migratório alemão e a incapacidade em deportar os indivíduos que ilegalmente permanecem no país, fez o governo perder toda credibilidade para responder à sociedade e responder aos anseios mais urgentes.
Em dias de economia incerta e de sentimento de insegurança em centros urbanos diversos, a população parece se voltar aos conservadores, moderados e radicais, para uma solução. As eleições legislativas alemãs estão marcadas para o próximo dia 23 de fevereiro, e as últimas pesquisas dão a vitória da União, na faixa dos 30% das intenções de voto, seguidos pela AfD, com 21%. O melancólico Scholz pontua bem abaixo da sua última performance em 2021, com apenas 16% dos votos caso a eleição fosse hoje.
Esta semana uma moção foi proposta pelo líder da CDU, Friedrich Merz, exigindo grandes mudanças no sistema de imigração e na política de refugiados do país. Merz alcançou a maioria necessária para a aprovação da moção, mas através dos votos favoráveis da AfD. Este fato provocou imenso repúdio dos Verdes e dos Sociais-Democratas, incluindo o chanceler Scholz, dizendo que o muro corta-fogo, tão amplamente discutido, agora caiu.
O líder conservador argumenta que não considera qualquer coalizão com a AfD a nível nacional, mas que a situação dramática do país ainda comovido pelas mortes recentes, necessitava a aprovação imediata da moção proposta. Ainda não sabemos qual cenário político a Alemanha viverá dentro de 1 mês, mas com certeza, o Brandmauer erguido, não parece mais tão impenetrável como outrora.