Funcionários do IBGE dizem que presidente “não se sustentará”

Funcionários do IBGE dizem que presidente “não se sustentará”


Em ato no Rio, sindicatos dizem sofrer perseguição da atual gestão do IBGE e alegam assédio moral presente nas estruturas do governo Lula

Sob gritos de “fora Pochmann”, funcionários do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) protestaram nesta 4ª feira (29.jan.2025) contra a gestão de Marcio Pochmann e disseram que ele “não se sustentará” na presidência do órgão. Os atos foram realizados no centro do Rio e organizados pelo Assibge, o sindicato nacional.

Eles defenderam ainda um modelo de votação em que os próprios trabalhadores e integrantes de fundações e entidades públicas escolham o presidente do IBGE. Pochmann foi indicado ao cargo em 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo os representantes dos sindicatos, as principais motivações para a mobilização foram: 

  • a IBGE+ –o Ministério do Planejamento e Orçamento anunciou nesta 4ª feira (29.jan) a suspensão da fundação (entenda aqui);
  • a mudança do estatuto do IBGE;
  • a retirada dos sindicatos das suas sedes;
  • a tentativa de desvinculação dos sindicatos (retirada da sigla “IBGE”); e
  • a falta de diálogo com os trabalhadores.

Assista (10min28s):

Ao Poder360, a coordenadora do Núcleo Chile do Assibge, Greice Assis, afirmou que a falta de diálogo da atual gestão com os seus trabalhadores é a principal insatisfação do sindicato, que levou ao protesto.

Ela afirmou que para a criação da Fundação IBGE+, a mudança das localidades das sedes dos sindicatos, a redução da jornada de trabalho remota, entre outras medidas, não houve consulta aos funcionários, muito menos houve uma abertura ao diálogo com o sindicato.

Esse teria sido o motivo das recentes saídas do instituto. Neste mês de janeiro de 2025, os diretores Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto pediram demissão. A troca foi divulgada por meio de nota oficial, que não detalhou os motivos.

“As demissões dos diretores do IBGE foi muito por conta de que o conselho diretor, que diz se reunir e tirar todas as deliberações, é uma mentira, é uma falácia. Ele [Pochamnn] já traz as demandas prontas para os diretores. Eles não têm voz, nem voto”, afirmou.

Segundo Assis, “tudo mudou com a gestão do Pochmann”, que foi presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Especiais Aplicadas) de 2007 a 2012 e também já presidiu o Instituto Lula.

A representante do sindicato afirmou que o gestor do IBGE é “autoritário” e tenta passar uma imagem diferente do que realmente é para a mídia. 

“A princípio ele veio muito legalzinho dentro do sindicato, mas depois, ele veio causando todo esse caos dentro do IBGE. Nós até conversamos com a galera do Ipea na época, fizemos uma reunião on-line. E quando ele passou pelo Ipea, foi essa mesma coisa, ele não conversa com ninguém. O que nos foi passado, olha, ele não vai conversar com vocês, porque ele não conversa com ninguém. Então ele é autoritário, é uma pessoa diferente, porque tem uma cara que ele mostra para a mídia, mas não é nada disso. Basta as pessoas virem aqui, ele não está no IBGE. Ele viaja direto para a Rússia, para a China. No que isso interessa o IBGE?”, disse.

A coordenadora também disse que o presidente persegue sindicalistas e mente para a imprensa na intenção de afetar a credibilidade dos sindicatos. Lamentou que Pochmann tenha recebido apoio de outros movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), e disse que agora o sindicato terá que contar “a sua parte” da história a esses movimentos.

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Bruna Aragão/Poder360

A coordenadora do Núcleo Chile do Assibge, Greice Assis, explicou o que motivou a recente saída dos diretores do IBGE

“Ele está perseguindo os sindicalistas, ele está perseguindo pessoas de dentro, nominalmente, e está tentando tirar a nossa credibilidade para a sociedade, porque quando ele faz essas manifestações na mídia, ele sempre diz que nós é que somos os comunistas, os bolsonaristas, mas ele é que tá fazendo tudo isso, ele é que é o autoritário”, afirmou.

O suposto autoritarismo do presidente foi citado por vários funcionários que discursaram no ato. Miguel Angelo, funcionário do IBGE, disse acreditar que Lula, “tomando conhecimento do que está acontecendo”, pode sugerir o afastamento do presidente do IBGE. 

Assim com a coordenadora, Angelo disse que Pochmann não participa das reuniões do instituto. A diretora-executiva Flavia Vinhaes Santos, a qual classificou como “tão autoritária quanto”, seria quem participaria e, então, soltaria as portarias que, segundo os manifestantes, são totalmente contrárias ao que o conselho diretor defende nas reuniões no IBGE. 

Ao Poder360, Raul Bittencourt, secretário-geral do Sindsep-RJ (Sindicato Intermunicipal dos Servidores Públicos Federais dos Municípios do Rio de Janeiro), disse que o movimento autoritário das direções de órgãos públicos estaria presente em variadas estruturas do governo.

“O diálogo do atual governo, após 4 anos de governo fascista, está deixando muito a desejar. No Museu do Índio, da Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas], apoiamos a nomeação da diretora indígena para aquele espaço, só que ela não quer dialogar com o sindicato e, pior, tenta impedir que o sindicato entre no museu, coisa que nem a gestão de Bolsonaro tentou fazer”, disse Raul.

O secretário do sindicato disse ainda que um movimento, segundo ele, contrário à classe trabalhadora vem acelerado desde o governo de Michel Temer (MDB) com a imposição do teto de gastos.

Isso teria continuado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder e acelerado com a gestão de Lula, com o marco fiscal afetando os créditos para as pesquisas. A classe, segundo ele, tinha a expectativa de uma diminuição com o governo “dito progressista”.

“Está cada vez mais difícil dialogar com as direções para combater o assédio moral, que todos nós sabemos que é endêmico no governo”, declarou. 

RESPOSTA DO GOVERNO

O Ministério do Planejamento e Orçamento anunciou nesta 4ª feira (29.jan.2025) a suspensão da fundação IBGE+, uma estrutura de direito privado vinculada ao instituto.

A fundação foi criada em 2024 sem passar por deliberação do conselho e era um dos principais objetos de insatisfação dos funcionários. Eis a íntegra do comunicado (PDF – 73 kB).





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