Apesar da boa intenção, medidas propostas não resolvem problemas educacionais brasileiros de longa data
No dia 14 de janeiro de 2025, o Ministério da Educação (MEC) publicizou o Programa Mais Professores, publicado originalmente no site do governo federal em outubro de 2024. Conforme descrito no portal do MEC, o programa se deve ao “reconhecimento do papel central dos docentes no processo de aprendizagem dos estudantes e no sucesso das políticas educacionais”.
O programa apresenta cinco eixos: seleção, mediante uma prova unificada para ingresso docente nas escolas públicas; atratividade, com uma bolsa mensal de 1.050 reais para estudantes de licenciaturas; alocação, com uma bolsa mensal de 2.100 reais, por até dois anos, em acréscimo ao salário do professor; formação, ofertando um curso de pós-graduação lato sensu; e valorização, com benefícios oferecidos em parceria com bancos.
Apesar da boa intenção, essas medidas não resolvem problemas educacionais brasileiros de longa data. Em primeiro lugar, muitas vezes o “sucesso das políticas educacionais” não é observado por fatores externos ao docente: salas de aula pequenas, com 40 ou mais alunos, sem mediadores para estudantes com deficiência, sem ar-condicionado e com uma gestão escolar que preza pela permissividade discente e pela aprovação em massa, mesmo dos alunos que não fizeram sua parte ao longo do ano.
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!
Essas e outras questões criam um cenário no qual impera o caos e onde o professor, por mais dedicado e inteligente que seja, se sente desmoralizado. A isso se soma a permissividade do próprio serviço público, que dificulta o reconhecimento dos bons profissionais e a demissão daqueles que, quando entram em sala de aula, “enchem o quadro” e se sentam na cadeira enquanto os alunos copiam (ou não). Nessa cultura escolar, o professor, já desmoralizado, agora é convocado a ser “encostado”.
É provável que o programa atraia mais pessoas para as licenciaturas, até porque o aluno bolsista não é obrigado a concluir o curso nem a ingressar na rede pública de ensino. Também é provável que aqueles que se tornem docentes apreciem a bolsa adicional ao salário, que inclusive parece não estar sujeita a nenhuma contrapartida de produtividade. Mas é provável que, findada a bolsa e os demais benefícios, o docente continue naquela profissão? Se continuar, como irá fazer para não se tornar desmoralizado e encostado?
De um lado, o programa apresenta condições de suprir regiões com carência de docentes, mesmo que com profissionais em início de carreira. No entanto, enquanto questões crônicas da educação pública não forem sanadas, o “sucesso das políticas educacionais” permanecerá um sonho distante.
*Franco Biondo, associado do LIVRES, é Licenciado em Ciências Biológicas (UFRJ), Bacharel em Biologia Marinha (UFRJ), Especialista em Ensino de Ciências e Biologia (CPII), Mestre em Educação (UFF) e doutorando em Biologia Marinha (UFF). Trabalha como professor há oito anos, atuando em instituições públicas e privadas.
Esta publicação é uma parceria da Jovem Pan com o Livres
O Livres é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne ativistas e acadêmicos liberais comprometidos com políticas públicas pela ampliação da liberdade de escolha
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.