Funcionários do “Washington Post” enviam carta para Bezos

Funcionários do “Washington Post” enviam carta para Bezos


Mais de 400 trabalhadores se dizem “alarmados” com decisões da liderança e pedem reunião com empresário e dono do jornal

Funcionários do The Washington Post enviaram uma carta para Jeff Bezos, fundador da Amazon e proprietário do jornal, demonstrando preocupações com a liderança e o futuro do periódico. O documento pede que Bezos vá ao jornal para ter uma reunião com os trabalhadores, que precisam de “uma visão clara de futuro em que possam acreditar”.

A carta é assinada por mais de 400 funcionários do jornal e fala sobre uma preocupação a respeito de decisões da liderança do Washington Post que “fizeram leitores questionarem a integridade da instituição”. O texto não cita nomes, mas a imprensa dos Estados Unidos acredita que o questionamento pode ser direcionado a Will Lewis, atual CEO do jornal, que enfrenta resistência por deliberações tanto editoriais como de gestão.

O documento cita o fato de Bezos ter decidido não apoiar candidatos à Presidência dos EUA, dizendo que compreendem isso como “uma prerrogativa do dono”. Mas aponta a necessidade de manter a competitividade, reconquistar a confiança e restabelecer uma relação com as lideranças baseada na comunicação. O jornal perdeu 250 mil assinantes depois do anúncio de Bezos sobre não se posicionar nas eleições norte-americanas. Foi a 1ª vez desde 1988 que o jornal não emitiu um editorial com sua posição.

Ademais, os funcionários que assinaram a carta pedem que Bezos vá até a sede do jornal para ter uma reunião com os líderes. Citam que o proprietário do Washington Post já fez isso anteriormente, que entendem a necessidade de mudança e que estão “ansiosos para entregar resultados de maneira inovadora”, mas que precisam de “uma visão clara de futuro em que possam acreditar”.

Por fim, o documento cita uma frase dita por Bezos quando comprou o jornal: “Os valores do ‘Post’ não precisam mudar”. Os funcionários do jornal pedem que o proprietário os apoie para “reafirmar esses valores”.

O The New York Times trouxe informações que adicionam contexto à carta. Primeiro, citou que Will Lewis causa descontentamento na redação do Washington Post já há alguns meses, principalmente pela gestão de pessoal.

O jornal nova-iorquino relata que a editora chefe do Washington Post, Saly Buzbee, renunciou ao cargo depois que Lewis decidiu “reorganizar a redação”. A escolha do CEO para substituí-la, ainda segundo o New York Times, foi Robert Winnet, que desistiu de assumir a posição depois de uma reação ruim de funcionários.

Mesmo a carta tendo citado que a decisão de Bezos de não mais apoiar candidaturas presidenciais não ter afetado a posição dos funcionários, o New York Times relata que vários trabalhadores do Washington Post decidiram se demitir depois que o proprietário do jornal tomou a decisão.

Um deles foi Ann Telnaes, cartunista ganhadora do Prêmio Pulitzer, maior honraria do jornalismo mundial, que desenhou uma charge que mostrava Bezos se ajoelhando enquanto segurava um saco de dinheiro perante uma estátua do presidente eleito Donald Trump (Partido Republicano). A charge foi derrubada por decisão editorial, o que motivou a saída de Telnaes.

Outros repórteres de renome do Washington Post deixaram o jornal nas últimas semanas, ainda segundo o New York Times.

DEMISSÕES NO POST

A carta vem logo depois de Bezos anunciar uma nova onda de demissões no Washington Post. O jornal anunciou, no dia 7 de janeiro, que cortará 4% de sua força de trabalho para “atender às necessidades da indústria e construir um futuro mais sustentável”.

Segundo o veículo, menos de 100 funcionários serão demitidos no total. Ou seja, hoje a empresa tem aproximadamente 2.500 profissionais contratados. Os cerca de 100 trabalhadores que serão desligados são de áreas de negócios do jornal, que incluem equipes de vendas de publicidade, marketing e produtos impressos. A redação do veículo não será afetada pelos cortes.

O jornal anunciou, em janeiro de 2023 a demissão de 20 jornalistas. Em outubro daquele ano, fez um plano de demissões voluntárias, que cortou 240 funcionários. “As mudanças em nossas funções comerciais estão a serviço de nossa meta maior de melhor posicionar o ‘Post’ para o futuro”, afirmou o jornal sobre o mais novo corte, segundo informações do New York Times.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA

“Para Jeff Bezos:

“Recentemente, você escreveu que a garantia de sucesso a longo prazo e a independência desse jornal eram essenciais. Nós concordamos e acreditamos que você se orgulha tanto do ‘Washington Post’ como nós.

“Nós estamos profundamente alarmados pelas recentes decisões de liderança que levaram os leitores a questionarem a integridade dessa instituição, que foi quebrada juntamente com uma tradição de transparência e motivou alguns de nossos mais brilhantes colegas a nos deixarem, com mais saídas sendo iminentes. Isso vai além da questão do apoio a candidaturas presidenciais, a qual reconhecemos a prerrogativa como dono. Isso é sobre manter a veia competitiva, reconquistar a confiança que foi perdida e restabelecer a relação com as lideranças baseada na comunicação aberta.

“Nós pedimos que você venha ao escritório e encontre-se com os líderes do ‘Post’, como já fez no passado, para entender o que está acontecendo no ‘Post’. Nós entendemos a necessidade de mudança e estamos ansiosos para entregar resultados de maneiras inovadoras. Mas precisamos de uma visão clara em que possamos acreditar.

“Estamos comprometidos em seguir com o jornalismo independente que possui o poder de reportar notícias sem medo ou atendendo a favores. Isso nunca mudará. Nada chacoalha nossa determinação como seguir a reportagem onde quer que ela nos leve.

“Como você mesmo escreveu quando se tornou dono do ‘Post’ em 2013, ‘os valores do ‘Post’ não precisam mudar’. Nós pedimos que você nos apoie em reafirmar esses valores.

“Assinado,

“Funcionários do ‘Washington Post’.”





Source link