Pen drive com imagens e relatos colhidos nos Estados Unidos vão embasar investigação; caso aguarda análise da PGR para possível denúncia
A PF (Polícia Federal) enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) na 5ª feira (9.jan.2025) um pen drive com imagens e depoimentos colhidos nos Estados Unidos no processo que investiga a venda ilegal no exterior de joias recebidas da Arábia Saudita pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Encaminho à vossa excelência os documentos listados abaixo, em mídia digital anexa (pen drive)”, diz o ofício da Coordenação de Investigações e Operações de Contrainteligência. O delegado Fábio Shor é encarregado de ao menos 3 inquéritos no STF que envolvem o ex-presidente, incluindo o das joias.
Segundo o documento, foram enviadas ao ministro Alexandre de Moraes 5 provas. São elas:
- Informação da Polícia Judiciária nº 2615442/2024;
- Documentos e depoimentos colhidos no contexto do Tratado de Assistência Jurídica Mútua (Mutual Legal Assistance Treaties, em inglês), firmado com o DOJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em português);
- Laudo nº 2578/2023;
- Laudo nº 1795/2023; e
- Laudo nº 543/2024.
Um acordo de cooperação foi firmado com o FBI em 2023 para localizar as joias, com base no Tratado de Assistência Jurídica Mútua –um pacto internacional para assistência ou cooperação jurídica em matéria criminal.
Conforme apurou o Poder360, a PF e o FBI planejavam refazer o trajeto da venda até a recompra nos Estados Unidos das peças. Com a parceria, os agentes do FBI e da PF investigam:
- quebras de sigilo bancário dos envolvidos;
- levantamentos de dados sobre imóveis;
- diligência em joalherias em Flórida, Nova York e Pensilvânia; e
- coleta de depoimentos de testemunhas e de suspeitos, como lojistas.
O relatório da PF (Polícia Federal), divulgado em julho de 2024, levou ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de mais 11 aliados envolvidos no caso das joias.
O caso aguarda análise da PGR (Procuradoria Geral da República) para possível denúncia. Os materiais enviados à Corte podem embasar uma possível denúncia que, caso o STF aceite, o tornaria réu a ser julgado pelos ministros.
ENTENDA
Em 2024, a PF divulgou um relatório que mostra um suposto esquema de venda de presentes oficiais recebidos por Bolsonaro. O ex-ajudante de ordens do então presidente da República, tenente-coronel Mauro Cid, teria realizado a negociação.
Em 4 de abril de 2023, o kit de joias completo foi entregue à Caixa Econômica Federal.
Kit Rosé
No relatório, a PF menciona um “Kit Rosé”, conjunto de itens masculinos da marca de luxo Chopard com uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um masbaha (objeto parecido com um rosário) e um relógio. Os itens foram recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, depois de viagem à Arábia Saudita, em outubro de 2021.
O kit foi retirado do Brasil no fim de dezembro por meio do avião da Presidência da República, e submetido à venda, em procedimento de leilão em 8 de fevereiro de 2023 nos Estados Unidos. As joias, porém, não foram arrematadas.
Depois da tentativa frustrada de venda e com a divulgação na imprensa da existência das referidas joias, Mauro Cid e o ex-assessor de Bolsonaro Osmar Crivelatti organizaram uma “operação de resgate” dos bens.
Com a decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) para que o kit fosse devolvido ao Estado brasileiro, os investigados devolveram os itens em 24 de março de 2023 na agência da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Kit Ouro Branco
Os investigados conseguiram concretizar a venda dos itens do chamado “Kit Ouro Branco”, composto por um anel, abotoaduras, um masbaha (objeto parecido com um rosário) e um relógio da Rolex, de ouro branco. Bolsonaro foi presenteado com os artigos de luxo durante sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.
De acordo com a PF, o relógio Rolex teria sido vendido por US$ 68.000 nos EUA. Depois de efetuada a venda, o ex-ajudante de ordens depositou uma quantia de mesmo valor na conta de seu pai, Mauro Cesar Lourena Cid, alvo de operação da PF em agosto do ano passado.
Segundo a PF, o relógio foi tirado do Brasil de forma ilegal por meio de uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira), utilizada em uma viagem da comitiva presidencial para os Estados Unidos, em junho de 2022.
A PF informou que, depois de reportagens mostrarem que o ex-presidente teria recebido um kit de joias, pessoas ligadas a Bolsonaro teriam realizado uma operação em 8 de março de 2023 para resgatar as peças, que estavam em estabelecimentos comerciais norte-americanos.
A ideia era recomprar os itens para que fossem devolvidos ao governo brasileiro, a fim de cumprir uma decisão do TCU.
A operação se deu em duas etapas, segundo a PF:
- Rolex: o relógio foi recuperado em 14 de março de 2023 por Wassef. O item retornou ao Brasil em 29 de março de 2023. Em 2 de abril daquele ano, o advogado do clã Bolsonaro passou o relógio para Mauro Cid, que estava em São Paulo. O ex-ajudante de ordens retornou a Brasília no mesmo dia e entregou o Rolex a Crivelatti;
- demais joias: os itens foram recuperados por Mauro Cid em 27 de março de 2023 durante viagem a Miami. Depois, o ex-ajudante de ordens retornou imediatamente ao Brasil, chegando a Brasília na manhã de 28 de março.