Lula montou uma frente partidária em 2022 para vencer as eleições. Deu certo. Agregou partidos de centro e derrotou Jair Bolsonaro. No entanto, já na montagem do governo, essa coalizão enfrentou problemas, com o PT disputando – e conseguindo – um espaço bem maior na Esplanada do que o conjunto dos aliados. Ainda assim, Lula conseguiu aprovar boa parte de sua agenda legislativa. Nessa segunda fase do mandato, com a centro-direita vitoriosa nas eleições municipais, ele terá dois grandes desafios para chegar a 2026 em condições de se reeleger ou de apoiar um sucessor de seu campo: repartir o poder para evitar o fortalecimento de candidaturas de direita e tomar medidas críveis para superar a crise de confiança na economia.
As dificuldades para reconstruir essa base de centro tomaram forma no evento que relembrou os ataques aos Poderes de 8 de janeiro de 2023. Os comandantes do Legislativo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, faltaram à festa, assim como os candidatos únicos a sucedê-los — Hugo Motta e Davi Alcolumbre. Foram ausências eloquentes. Preferiram ficar de fora do ato em frente ao Planalto também ministros do STF, evitando se associar à politização do evento.
Lula não passou recibo. Preferiu exaltar a própria biografia, como um dos artífices da volta da democracia e como sobrevivente — à seca, ao câncer, a uma pane de avião e à recente batida na cabeça depois de um tombo. Deixou de lado a diversidade política que derrotou a ditadura e deu-lhe três mandatos.
Para reaglutinar essas forças, será cobrado a tomar medidas mais duras do que o pacote fiscal aprovado pelo Congresso em dezembro. Muito pouca gente em Brasília aposta, porém, que o governo vá patrocinar novas reformas, como a da Previdência. Apesar dos bons números no emprego e do crescimento do PIB, agentes financeiros e investidores veem hoje o Brasil como um país de incertezas. O dólar acima da barreira de R$ 6 é um termômetro dessa desconfiança, que se agrava diante do caos enunciado por Donald Trump.
A união na defesa da democracia levou Lula de volta ao Planalto. Com Bolsonaro inelegível, as pesquisas mostram, claramente, isso já não é suficiente para sustentar um novo projeto eleitoral, para reeleição ou sucessão. Os eleitores querem mais, o que significa menos inflação e juros, mais segurança pública, saúde e educação. A capacidade de resposta do governo nos próximos 22 meses vai determinar a margem de êxito de Lula em 2026.
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