Fernanda Torres recebe aplausos, mas não escapou das pedradas

Fernanda Torres recebe aplausos, mas não escapou das pedradas


O deputado Mário Frias, foi um dos mais ácidos e disse que a história contada no filme é uma desinformação da esquerda brasileira; Bolsonaro não foi direto, mas alfinetou a Lei Rouanet

Robyn Beck/AFPA atriz brasileira Fernanda Torres posa com o prêmio de Melhor Performance de uma Atriz em Filme – Drama
Fernanda Torres faturou o Globo de Ouro como melhor atriz em filme de drama, no longa ‘Ainda estou aqui’

Fernanda Torres vence o Globo de Ouro. É a primeira vez na história que o Brasil vai para a ponta do pódio com uma atriz. É motivo de muita comemoração para todos os brasileiros. Será? Pois é, algumas pessoas torceram o nariz e não mediram esforços para criticar o feito da filha de Fernanda Montenegro. Cito Fernanda porque foi destacada no discurso da filha e também chegou muito perto de conquistar essa façanha.

Será que agem assim por inveja, por ideologia, ou pelos motivos levantados por Ozires Silva, ex-presidente da Embraer? Ou ainda para confirmar a célebre frase de Nelson Rodrigues: “A unanimidade é burra”? Talvez seja o momento de discutirmos essas questões agora.

Carência de ídolos

O Brasil é carente de ídolos. De vez em quando surge uma estrela solitária para encher o nosso coração de alegria. Pelé, o maior de todos, sempre reverenciado por jogadores, comentaristas esportivos e torcedores. Mesmo com o aparecimento de craques como Messi e Cristiano Ronaldo sua imagem de rei permanece. 

Tivemos outros que foram saltitando aqui e ali, Como Carmem Miranda, atriz e cantora; Maria Esther Bueno, no tênis; Guga, no mesmo esporte; Ayrton Senna, no automobilismo. Poderíamos aqui incluir, talvez sem a mesma projeção, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. Sei que estou deixando alguns de lado, mas a verdade é que não são muitos com esse reconhecimento internacional.

Na literatura, independentemente de gosto, dá para citar Paulo Coelho, Jorge Amado, Machado de Assis, e vai rareando. Afora esses, e mesmo alguns desses, se perguntarmos no exterior quem conhece o brasileiro, provavelmente, encontraremos uma cara de interrogação como se estivessem perguntando: o famoso quem? 

Complexo de vira-latas

Por isso, quando surge um ídolo, passa a ser reverenciado à exaustão, como se fosse catarse do povo diante das frequentes agruras a que somos submetidos. Sem contar o conhecido “complexo de vira-latas”, frase também cunhada pela genialidade de Nelson Rodrigues.

Por esse e outros motivos estamos merecidamente batendo bumbo para a vitória sem precedente de Fernanda Torres. No dia 5, domingo, em empolgante evento em Hollywood, ela faturou o Globo de Ouro como melhor atriz em filme de drama, no longa “Ainda estou aqui”, produzido pela Globoplay e dirigido por Walter Salles.

Gente de peso

E não foi uma conquistazinha assim com concorrentes pangarés. Estavam de olho na estatueta nomes que há muito reverenciamos: Angelina Jolie, Nicole Kidman, Kate Winslet, Pamela Anderson e Tilda Swinton. Se alguém não estiver familiarizado com essa turma, vale a pena fazer uma busca na internet para ver de quem se trata.

Bem, voltando aos motivos de alguém não ficar feliz com o prêmio recebido pela brasileira. Em um programa no Roda Viva da TV cultura, Ozires Silva, ex-presidente da Embraer, contou que certa vez estava refletindo sobre os motivos de o Brasil não ter ainda um prêmio Nobel. A argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, México, e tantos outros têm. Os Estados Unidos têm mais de 300. 

Jogam pedras nos compatriotas

Durante um jantar em Estocolmo, ele fez essa pergunta a três membros do comitê que indica os prêmios. Um deles respondeu: “Vocês brasileiros são destruidores de heróis. Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente aos de outros países, os compatriotas jogam pedras. Não têm apoio da população”. Não sabe se é ciúme ou desconfiança.

Um bom exemplo pode ser o Neymar. O melhor jogador do Brasil em atividade na última década, artilheiro da seleção, vive recebendo críticas. É admirado por quase todos aqueles que jogaram com ele. Alguns se tornaram amigos, como o caso de Messi e Suárez, mas tem gente que só censura. Uns dizem que só pensa em dinheiro, outros que gosta da noite. Alguns ainda que tem filhos ou ex-mulheres demais. E …?

Inveja ou ideologia

Ainda sobre Fernanda, além da inveja, que pode estar nesse pacote que acabamos de ver, há também a questão ideológica – Fernanda é de esquerda. Mas o que tem que ver sua ideologia com sua competência artística? Ah, mas ela tirou fotografia com Lula e Janja. Sim, mas podemos pensar também que foi com o presidente e a primeira-dama do país. Poderia ser outro presidente. Tomara que não recusasse.

O deputado Mário Frias, foi um dos mais ácidos. Disse que a história contada no filme é uma desinformação da esquerda brasileira. Afirmou também que se trata de uma “autopromoção da elite artística global”. O ex-presidente Jair Bolsonaro não foi direto, mas alfinetou a Lei Rouanet. Disse que o presidente Lula tem priorizado verbas para esta lei, em vez de investir em infraestrutura. 

A verdade é que, de maneira geral, os brasileiros gostaram. Vamos aplaudir e comemorar. Agora, se ela, por acaso, usar essa conquista para trombetear suas posições políticas, aí sim poderá ser criticada. E será, com certeza. Nesse momento, porém, ela representa a alegria de uma nação e não de uma cor partidária. Até quem não gosta da esquerda pode estar aplaudindo, partindo do princípio de que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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