Quatro indígenas Avá-Guarani foram feridos em ataque em uma área de disputa de terras entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, na noite dessa sexta-feira (3). Entre os feridos estão uma criança e adultos de 25 e 28 anos. A Polícia Federal (PF) está investigando as ações criminosas. As vítimas foram levadas ao Hospital Bom Jesus de Toledo. O estado de saúde delas não foi divulgado.
Vídeo divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra o socorro a uma criança indígena ensanguentada. O ataque faz parte de uma série de atos violentos praticados contra os moradores da região desde 30 de dezembro, incluindo a explosão de rojões e um incêndio em barracos considerado criminoso, com membros da aldeia já feridos anteriormente.
Vídeo o vídeo publicado pelo Cimi (atenção: imagens fortes)
A PF mobilizou forças de segurança federais, estaduais e municipais para evitar novos episódios de violência e planeja realizar uma perícia no local. Em áudios enviados ao Cimi, indígenas relatam que a Força Nacional, que atua na região há dois meses, não tem demonstrado interesse em conter a violência. “Mesmo sendo acionada, a equipe só se fez presente após a Polícia Militar chegar ao local”, destacam as lideranças.
O Congresso em Foco procurou os ministérios da Justiça e dos Povos Indígenas para comentar as providências que serão tomadas em relação aos ataques. O texto será atualizado caso haja manifestação das pastas. O pedindo dos Avá Guarani é para que a Força Nacional se desloque e se mantenha na área de conflito para conter as agressões.
Guerra anunciada
A disputa por terras na região é histórica, com indígenas reivindicando áreas devido ao alagamento causado pela construção da Usina de Itaipu, enquanto agricultores locais também cobram direitos sobre essas terras.
Coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) encaminhou ofício a diversas autoridades sobre a situação, destacando a necessidade de reforço na presença da Força Nacional na região. Na avaliação dela, as medidas adotadas até agora pelo governo são insuficientes. Célia solicitou uma reunião urgente com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também pediu ao ministro e ao Judiciário que interrompam os ataques contra os indígenas Avá-Guarani.
De acordo com o Cimi, os atos de violência eram previsíveis há mais de um mês, devido à insatisfação de não indígenas com a retomada dos territórios tradicionais pelos indígenas. O manifesto intitulado “S.O.S Aldeia Yvy Okaju Corre Risco de Extermínio”, criado pelos Avá-Guarani em 23 de novembro, já alertava sobre essas ameaças. O documento afirma: “Fomos informados de que, no dia 25 de dezembro de 2024, as pessoas brancas estão se organizando para realizar um novo ataque contra nossa comunidade.”
Em resposta à crescente tensão na região, o Ministério da Justiça autorizou, ainda em novembro, a atuação permanente da Força Nacional de Segurança Pública na região de conflito.
Além de solicitar ações da pasta, a Apib também acionou juridicamente diversas instituições, incluindo a 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Tribunal de Justiça do Paraná, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, a Defensoria Regional de Direitos Humanos no Paraná e o Ministério Público do Paraná, para que tomem as medidas necessárias para pôr fim aos ataques.
Vídeo mostra incêndio considerado criminoso na região:
Abaixo, cápsulas utilizadas em ataque na virada do ano:
Leia ainda:
Presença da Força Nacional em terras indígenas é insuficiente sem plano de ação, diz CIMI