Pesquisador aborda os desafios enfrentados pelo sistema educacional brasileiro, que atualmente não consegue garantir condições justas para crianças de diferentes origens socioeconômicas
Na busca por uma educação mais livre e equitativa no Brasil, o economista e pesquisador Daniel Duque enfatiza a importância da igualdade de oportunidades como base para o desenvolvimento. Em entrevista ao Livres, Duque discute os desafios enfrentados pelo sistema educacional brasileiro, que atualmente não consegue garantir condições justas para crianças de diferentes origens socioeconômicas.
O pesquisador não hesita em afirmar que o Brasil não oferece equidade para todas as crianças: “A primeira pergunta é fácil de responder: Não.” As desigualdades começam desde a gravidez e se acumulam ao longo do tempo, afetando principalmente aqueles que já nascem em condições desfavoráveis. Ele destaca que, enquanto a educação pública tem um papel relevante na redução das desigualdades, a implementação do ensino integral em alguns estados tem reforçado ainda mais essas disparidades. “As escolas que estão recebendo esse programa de ensino integral são aquelas que têm alunos que menos precisam desse reforço.”
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Um dos grandes problemas, segundo Duque, reside no acesso à educação infantil. Embora o acesso ao ensino fundamental e médio tenha avançado, a pré-escola ainda apresenta um gap significativo de cerca de 20% de crianças que não estão matriculadas. “Quem consegue acessar a pré-escola pública são aqueles pais que têm maior possibilidade de procurar uma pré-escola ali perto, de ficar na fila, de encher o saco ali do diretor”, explica. Assim, as crianças que mais precisam de uma educação de qualidade são frequentemente aquelas que não conseguem acesso a esse tipo de instituição.
Ele acrescenta que a rápida expansão das creches e pré-escolas, embora necessária, veio acompanhada de uma diminuição na qualidade média do ensino. “Alguns estudos mostram que os filhos dessas famílias estariam melhor com os pais do que na creche ou na pré-escola.”
O entrevistado acredita que um dos principais problemas da educação brasileira é a dificuldade de implementar ações afirmativas que garantam vagas para quem realmente precisa. “A judicialização impede que prefeituras implementem políticas de reserva de vagas, o que é um problema seríssimo.” Ele defende que a política nacional de reserva de vagas para famílias de baixa renda poderia ajudar a equalizar as oportunidades.
“A loteria do CEP” é como Duque descreve a situação atual, onde a localização de nascimento determina em grande parte o futuro educacional e profissional de uma criança. Ele afirma: “Se você nasceu no lugar certo, vai ter acesso e oportunidade; se nasceu no lugar errado, acaba condenado a uma falta de oportunidade.”
Confira a entrevista completa com Daniel Duque no Livres Entrevista, disponível no YouTube e nas plataformas de podcast do Livres:
Daniel Duque é doutorando em Economia na Norwegian School of Economics (NHH). Ele trabalhou como assistente de pesquisa para Cecília Machado na Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e para Maína Celidônio na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).
Esta publicação é uma parceria da Jovem Pan com o Livres
O Livres é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne ativistas e acadêmicos liberais comprometidos com políticas públicas pela ampliação da liberdade de escolha
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.