Bolsonaro pede anulação de delação de Cid após vazamento

Bolsonaro pede anulação de delação de Cid após vazamento


Ex-presidente diz que investigação de golpe é “uma farsa fabricada em cima de mentiras”; tenente-coronel teria violado ordens de Moraes e trocado mensagens

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu nesta 6ª feira (13.jun.2025) a anulação da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. O pedido, feito em redes sociais, após a revista Veja divulgar supostas mensagens que indicariam que Cid teria mentido ao STF (Supremo Tribunal Federal) durante depoimento.

A reportagem, publicada na 5ª feira (12.jun), apresenta capturas de tela que mostrariam conversas entre o ex-ajudante de ordens e uma pessoa próxima a Bolsonaro. Segundo a revista, o militar teria usado um perfil com @gabrielar702 para discutir bastidores do inquérito. Se confirmado, Cid teria violado as determinações do ministro Alexandre de Moraes ao usar redes sociais durante o período de medidas restritivas de sua delação premiada.

Essa delação deve ser anulada. Braga Netto e os demais devem ser libertados imediatamente. E esse processo político disfarçado de ação penal precisa ser interrompido antes que cause danos irreversíveis ao Estado de Direito em nosso país”, disse Bolsonaro no X.

O ex-presidente afirmou que a reportagem “escancara” o que ele e seus aliados sempre disseram: “a ‘trama golpista’ é uma farsa fabricada em cima de mentiras. Um enredo montado para perseguir adversários políticos e calar quem ousa se opor à esquerda”.

cid

AS CONVERSAS

Os diálogos teriam se dado de janeiro a março de 2024 –5 meses depois do acordo de delação. Na conversa, Cid relatava pressões, criticava investigadores e dizia que Moraes já tinha uma sentença definida.

Ele também se mostrava descrente em relação à possibilidade de absolvição. Cogitava que apenas uma ação do Congresso ou uma eventual vitória de Donald Trump nos EUA poderia mudar o rumo do processo.

Eu acho que já perdemos… Os Cel PM (coronéis da Polícia Militar do DF) vão pegar 30 anos… E depois vem para a gente“, disse Cid.

Segundo a reportagem da Veja, as mensagens mostram que o ex-coronel fazia “jogo duplo”. Enquanto fornecia informações à PF sobre as movimentações antidemocráticas, contava a pessoas próximas uma versão diferente dos fatos.

O que dizem as mensagens X o que Cid disse:

Sobre o uso de redes sociais:

  • Mensagens: Cid usou perfil @gabrielar702 para se comunicar com pessoas do círculo bolsonarista;
  • No STF: negou ter usado redes sociais durante período restritivo e disse que não sabia de quem era o perfil.

Sobre as oitivas na PF:

  • Mensagens:Toda hora queriam jogar para o lado do golpe (os investigadores)… e eu falava para trocar porque não era aquilo que tinha dito“;
  • Na delação: colaborou e deu informações sobre movimentação antidemocrática.

Sobre Alexandre de Moraes:

  • Mensagens: chamou de “cão de ataque”, disse que “já tem a sentença pronta” e “não precisa de prova, só de narrativas”;
  • Na delação: disse que respeitou as determinações do ministro relator.

Sobre Bolsonaro e o golpe:

  • Mensagens:Eu falava que o PR (presidente, em referência a Bolsonaro) não iria fazer nada“;
  • No STF: confirmou reuniões onde foram discutidas medidas para impedir a posse de Lula.

Sobre sua defesa:

  • Mensagens: disse que petições dos advogados “não adiantam nada” e que “o STF está todo comprometido“;
  • No STF: seguiu orientações de seus próprios advogados.

Sobre a delação:

  • Mensagens: comentou trechos dos depoimentos e dos bastidores das audiências.
  • O que disse à PF/STF: alegou que manteve sigilo sobre tudo que foi tratado.

DELAÇÃO

O descumprimento das regras pode resultar na anulação do acordo de colaboração de Cid. Ele pediu perdão judicial ou condenação não superior a 2 anos.

Sem a delação, Cid pode voltar a responder como os outros réus do chamado “núcleo crucial” –Bolsonaro, ex-ministros e militares ligados ao plano de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. São até 40 anos de prisão.

Além disso, ao mentir durante o interrogatório no STF, o militar pode ter cometido crime. Mas os impactos de tudo isso ainda são incertos.

Vale lembrar que a delação de Cid embasou as denúncias.

Em março, a defesa de Bolsonaro apresentou ao STF um pedido formal para anular a colaboração. Os advogados alegam que o acordo seria “viciado” e marcado por “mentiras, omissões e contradições”.

Ao ministro relator, Alexandre de Moraes, Cid confirmou em depoimento que Bolsonaro editou a “minuta do golpe”.

Também declarou que o general do Alto Comando do Exército, Estevam Theophilo, afirmou, depois de uma reunião com o ex-presidente, que “cumpriria o golpe” se o então chefe do Executivo assinasse o decreto.





Source link