Ex-ajudante de Bolsonaro organizou os aliados de Bolsonaro em 3 grupos: “radicais”, “moderados” e “conservadores”; ele depõe ao STF nesta 2ª feira (9.jun)
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou nesta 2ª feira (9.jun.2025) que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, integrava o grupo dos “radicais” que defendiam um golpe de Estado.
Durante o depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal), o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, apresentou os nomes dos réus da ação e questionou Cid sobre a qual grupo cada um fazia parte. Segundo ele, só Garnier era considerado “radical”.
Os defensores da ruptura institucional acreditavam que Bolsonaro teria respaldo popular para permanecer no poder e que, ao dar a ordem, contaria com o apoio dos CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
“O grupo, denominado pelo colaborador como ‘radicais’, era dividido em 2 grupos; QUE o 1º subgrupo ‘menos radicais’ que queriam achar uma fraude nas urnas; QUE o 2º grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado; QUE gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado”, diz a descrição que consta na colaboração premiada do ex-ajudante de ordens, que teve o sigilo derrubado em 19 de fevereiro deste ano.
Cid organizou os aliados de Bolsonaro em 3 grupos, segundo suas posições sobre a possibilidade de um golpe de Estado: “radicais”, “moderados” e “conservadores”. Segundo ele, apenas os “radicais” apoiavam de fato uma ruptura institucional.
Durante o depoimento, o ex-ajudantes de ordens classificou Paulo Sergio Nogueira e Braga Netto como “moderados”. Já Augusto Heleno, Anderson Torres e Alexandre Ramagem não foram associados a nenhum dos grupos.
“Esses grupos não eram organizados, eram pessoas que se aproximavam do presidente [Bolsonaro] para levar suas ideias. Não eram grupos de pessoas que iam juntas para falar com o presidente. Elas iam individualmente e depois não apareciam mais. Mas eles discutiam isso que falei, sim”, afirmou Cid.
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INTERROGATÓRIOS
A 1ª Turma do STF começou nesta 2ª feira (9.jun) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a PGR, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.
Fazem parte do grupo:
- Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
- Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.
Os interrogatórios devem ser finalizados até a 6ª feira (13.jun). O 1º a ser ouvido é Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus serão interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.
Todos os réus do núcleo são obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.
Depois de terem sido interrogados, os réus não precisam mais comparecer. O único do grupo que não irá até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participa por videoconferência.
Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal –momento de produção de provas. Já foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais que forem solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.
Eventuais diligências para esclarecer algum fato apurado durante a instrução também podem ser realizadas. Só depois dessa etapa é que a acusação e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes preparará o relatório final para o julgamento.