O governo israelense prometeu neste domingo (8), impedir a chegada da embarcação operada pelo grupo Freedom Flotilla Coalition à região; Thiago Ávila diz que o plano era chegar a Gaza nesta segunda (8)

O ativista Thiago Ávila, único brasileiro a bordo de um barco de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, afirmou que “apenas um milagre poderá impedir Israel de interceptá-los”. O governo israelense prometeu neste domingo (8), impedir a chegada da embarcação operada pelo grupo ativista Freedom Flotilla Coalition à região.
“A gente queria muito abrir o corredor humanitário dos povos, ainda vamos continuar trabalhando para isso, mas hoje a verdade é que só um milagre pode impedir Israel de interceptar a gente e de cometer um crime de guerra”, disse Ávila ao Estadão. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que o país não permitiria que ninguém quebrasse o bloqueio naval do território palestino. “Vocês deveriam voltar, porque não conseguirão chegar a Gaza”, afirmou Katz em um comunicado”, em seu perfil no X.

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Desde o início do conflito, em outubro de 2023, as Forças de Defesa de Israel têm impedido a entrada de embarcações civis e dificultado a chegada de ajuda humanitária por rotas terrestres e marítimas, apesar de alertas internacionais sobre o risco de fome em larga escala. O embate atual em Gaza começou após um ataque do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023, no qual os terroristas mataram cerca de 1,2 mil pessoas, na maioria civis, e sequestraram mais de 250 pessoas. Desde então, a resposta de Israel em Gaza já deixou mais de 52 mil mortos e mais de 119 mil feridos, a maioria mulheres e crianças, segundo autoridades locais.
A embarcação de 18 metros, nomeada “Madleen”, em homenagem à primeira e única pescadora feminina de Gaza, saiu do porto siciliano de Catânia, no sul da Itália, no último domingo (1º), levando alimentos, medicamentos e equipamentos ortopédicos para a população. O barco conta com 12 ativistas a bordo, incluindo a sueca Greta Thunberg, o ator de “Game of Thrones” Liam Cunningham e a integrante da União Europeia, Rima Hassan.
“A gente esperava, na verdade, que a nossa presença impedisse que eles cometessem o crime de guerra, que é deter a ajuda humanitária de chegar em casa. Infelizmente, parece que isso não vai acontecer. Então, a gente tem que continuar denunciando qualquer tentativa de interceptação”, declarou. Segundo Ávila, o sentimento dos ativistas a bordo se resume em uma mistura de “esperança” e “indignação”.
A embarcação está em águas internacionais próximas à costa egípcia, a cerca de 130 milhas náuticas, aproximadamente 240 quilômetros, da Faixa de Gaza. Segundo o ativista, a expectativa é chegar a Gaza na tarde de segunda-feira (8), ainda com luz do dia. “A gente espera que dê certo, mas infelizmente outras experiências de 17 anos na Freedom Flotilla Coalition apontam que, quando eles começam a interferir com a comunicação, fazem publicamente as ameaças deles, quando eles mobilizam os seus batalhões, as suas unidades de elite, eles normalmente cumprem as suas ameaças”, afirmou Ávila.
Uma interceptação em maio de 2010 levou à morte de 10 ativistas do navio Mavi Marmara, que fazia parte de uma flotilha internacional tentando romper o bloqueio naval imposto a Gaza. A operação, conduzida pela elite israelense Shayetet 13 em águas internacionais, foi alvo de investigações internacionais, incluindo da ONU, que apontaram uso desproporcional da força. As Nações Unidas, no entanto, acrescentaram que a flotilha “agiu de forma imprudente ao tentar romper o bloqueio naval”
Interferências nos sistemas de comunicação e navegação
Ávila relatou que o grupo enfrenta interferências nos sistemas de comunicação e navegação. Segundo o ativista, há pelo menos três horas eles seguem viagem utilizando apenas métodos analógicos, sem apoio tecnológico. A equipe está buscando descansar, mas permanece em alerta para “qualquer hora, se necessário, assumir as posições onde tem maior chance de evitar mortes no momento de interceptação”, contou.
De acordo com informações do jornal The Jerusalem Post, a unidade de comando de elite Shayetet 13 e a frota de barcos a mísseis serão responsáveis por uma possível interceptação. Também é avaliada a interceptação e redirecionamento do barco ao porto de Ashdod, de onde os ativistas seriam deportados.
“Num caso de interceptação, a gente tem tanto os nossos protocolos de segurança aqui, onde a gente vai no barco para ninguém ficar sozinho, todo mundo mantendo contato visual, mas além disso a gente tem o treinamento de não violência”, relatou. O grupo de ativistas também se preparou para possíveis medidas jurídicas, reunindo advogados voluntários de todo o mundo para atuar em casos de violação de direito internacional.
Apesar das ações, Ávila ressaltou que essa missão organizada por ativistas “não deveria acontecer”. “Deveriam ser governos realizando o que a gente está fazendo aqui, deveriam ser organismos internacionais, mas infelizmente, dadas as condições do mundo hoje, os países não se veem em condições de fazer isso, então precisam ser cidadãos comuns para fazer”.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Carol Santos