Especialistas falaram com o portal LeoDias sobre os fatores que explicam a alta desaprovação do governo Lula, revelada pela nova pesquisa Quaest
A mais recente pesquisa da Quaest, divulgada nesta quarta-feira (4/6), revelou um novo ponto de inflexão na avaliação do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo os dados, 57% dos brasileiros ouvidos desaprovam a gestão atual, o maior índice desde janeiro de 2023. A aprovação caiu para 40%, a mais baixa registrada até aqui.
A desaprovação cresceu em faixas onde o apoio já era frágil e, pela primeira vez, atingiu níveis inéditos entre eleitores católicos, mais jovens e menos escolarizados, grupos-chave na cartografia eleitoral petista.
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Diante desse novo mapa de percepções populares, especialistas ouvidos pelo portal LeoDias apontam elementos que ajudam a explicar os números e indicam sinais de tensão entre o discurso político e os efeitos práticos das políticas públicas.
Mudança da base social: “A conexão com o eleitor mudou de tom”
Para o analista político Alexandre Bandeira, o dado mais alarmante está na desconstrução do elo entre Lula e os brasileiros de menor renda. “O presidente foi eleito com uma narrativa de retorno à dignidade, à mesa farta, à cervejinha no fim de semana. Agora, é justamente esse eleitorado que começa a se afastar”, afirma.
Segundo ele, o empate técnico entre aprovação e reprovação entre os menos escolarizados e o avanço da insatisfação entre os católicos sinalizam não apenas descontentamento momentâneo, mas uma possível mudança de eixo na comunicação política do governo. “A gestão tem falado com a própria bolha, e temas como o aumento do IOF, as críticas ao Pix e os saques indevidos do INSS caíram como bombas silenciosas na base da pirâmide”, observa.
Alexandre também chama atenção para a deterioração da imagem do governo entre os mais jovens. “Há uma ruptura geracional: a juventude, que em ciclos anteriores abraçava a esquerda, agora demonstra distanciamento e ceticismo”, diz.
Cuidado com os números e atenção aos detalhes
Já o cientista político Filipe Faeti propõe uma leitura mais moderada. “Os números apontam uma estabilidade técnica em relação à pesquisa anterior, considerando a margem de erro”, ressalta. “Há, inclusive, sinais de recuperação em regiões como o Nordeste, onde a aprovação voltou a superar a reprovação.”
Faeti destaca que o empate entre aprovação e desaprovação no grupo dos menos escolarizados pode ser interpretado como um indicativo de que medidas recentes, como o reajuste do Bolsa Família e os incentivos à educação técnica, começam a surtir efeito. “Esse público representa o maior contingente do eleitorado, e o governo parece estar calibrando novamente o discurso com entregas concretas”, avalia.
No entanto, o especialista diz que o alto índice de desaprovação entre os mais escolarizados e a classe média revela um foco de insatisfação persistente com a política econômica. “Questões fiscais, inflação e promessas de campanha ainda não cumpridas continuam pesando nessa faixa.”
Onda de insatisfação generalizada
Embora os números brasileiros chamam atenção, o fenômeno da alta desaprovação a governos não é exclusivo. Em democracias consolidadas como Estados Unidos, Alemanha, França e Espanha, os líderes eleitos também enfrentam altos índices de reprovação, muitos deles acima dos 60%.
Para Faeti, esse é um traço comum de um novo ciclo político global: “Existe um desgaste generalizado na confiança pública nas instituições e nos líderes, impulsionado por crises econômicas, polarização e mudanças no consumo de informação. O Brasil, nesse aspecto, apenas reflete um espelho maior.”