O presidente do BC declara que os agentes financeiros não devem “se emocionar” com os dados de curto prazo da atividade econômica
O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 2ª feira (19.mai.2025) que a taxa básica, a Selic, deverá ficar em nível restrito por um “período bastante prolongado”. Declarou que os agentes financeiros não precisam “se emocionar” com dados de atividade econômica de curto prazo, porque a autoridade monetária pretende passar por um longo período de aperto.
O presidente do BC afirmou que a discussão sobre o tempo necessário para levar a inflação à meta ganhará mais peso. Disse que a “calibragem” do patamar será secundária, minimizando a importância de a taxa ser de 14,75% ou 15,00% ao ano.
“A gente não devia nem se emocionar com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) muito mais fraco e nem com um dado da indústria específico uma vez um pouco mais forte. Nós temos que reunir dados para poder confirmar uma tendência”, declarou o presidente do BC.
Galípolo participou do 12º Annual Brazil Macro Conference, promovido pelo banco Goldman Sachs, em São Paulo. O Banco Central defende que a desaceleração da economia é “elemento necessário” para fazer com que a inflação reduza para a meta de 3%.
O presidente do BC foi questionado sobre uma eventual queda da taxa Selic. Ele respondeu que a autoridade monetária ainda não teve essa discussão.
“Eu sei que agora vai começar essa tentativa de achar o indicativo que possa produzir uma inflexão, mas a gente não está perto dessa discussão. Esse não é um tema que está passando nos debates do Comitê de Política Monetária”, disse. “A gente realmente precisa permanecer com a taxa de juros num patamar bastante restritivo por um período bastante prolongado”, completou.
Galípolo declarou que a atividade econômica está “surpreendentemente dinâmica” apesar dos últimos anos com taxa de juros em patamar restritivo. Afirmou que a inflação está acima da meta e as expectativas dos agentes financeiros para o índice de preços estão desancoradas da meta.
A autoridade monetária declarou que a taxa do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deverá ficar fora do intervalo de tolerância em junho. A inflação do Brasil foi de 5,53% no acumulado de 12 meses até abril.
O Banco Central aumentou de 14,25% para 14,75% ao ano a taxa básica para controlar o aumento de preços e fazer com que a inflação anualizada diminua para o centro da meta.
“O que a gente espera ter conseguido transmitir a partir do ciclo que a gente vem praticando é deixar bem claro que não há nenhum tipo de tergiversação ou flexibilização em relação à meta do Banco Central”, declarou o presidente do BC.
Galípolo sinalizou que o juro base ficará em patamar restritivo por tempo prolongado. Levantamento da MoneYou mostrou que o juro real ex-ante –estimado para os próximos 12 meses– será de 8,65%. A estimativa inclui no cálculo a inflação projetada para o período de 1 ano.
O presidente do BC afirmou que, ao conversar com investidores e economistas estrangeiros, há um estranhamento sobre a resiliência da atividade econômica do Brasil. A taxa de desemprego atingiu o menor patamar para o 1º trimestre da série histórica.
Galípolo voltou a defender que parte do canal de transmissão da política monetária está desobstruído. O BC afirmou que o “desentupimento” será prioridade da gestão do atual presidente da autoridade monetária.
“Os canais de transmissão da política monetária não estão funcionando com a mesma fluidez que se observa em boa parte dos nossos pares. […] Não vai ter bala de prata. Vai ser necessário implementar várias reformas”, disse Galípolo.
POLÍTICA FISCAL
Galípolo declarou que agentes financeiros consideram, ao realizar projeções macroeconômicas, uma ampliação de gastos públicos para compensar a desaceleração da economia provocada pela taxa de juros elevada. Há dúvidas entre os analistas de que um eventual arrefecimento da atividade econômica possa resultar em medidas fiscais para estimular a economia.
O presidente do BC afirmou que o tema é complexo, porque a autoridade monetária teria que ser “preventivo a uma política que não existe”. E completou: “Eu entendo que isso está […] explicando parte dessa dinâmica, ou seja, uma expectativa de que possa existir uma função-reação no fiscal a partir de uma desaceleração da economia”.
Para Galípolo, essa é a “dança que não é simples” que o Banco Central está tendo que lidar. “A única maneira que o Banco Central tem de se comunicar é dizer que o Banco Central deu uma demonstração inequívoca da disposição do seu Comitê de Política Monetária em perseguir a meta [de inflação] e colocar a taxa de juros em patamar restritivo o suficiente pelo período que for necessário”, disse.
O presidente do Banco Central declarou que há um consenso no Copom (Comitê de Política Monetária) que o balanço de riscos para a inflação está menos assimétrico atualmente em relação à reunião de março.
CENÁRIO INTERNACIONAL
Segundo ele, o mundo passa por período de incerteza. Afirmou que não há “clareza” sobre qual vai ser o resultado das tarifas implementadas no comércio internacional e há dúvidas sobre as tarifas que serão praticadas ao final das negociações.
Segundo o presidente do BC, não é simples aplicar determinados patamares de tarifas comerciais do ponto de vista prático. “Então mesmo que você decida no final que chegou um volume de tarifas, colocá-las em prática vai ser muito complexo”, disse Galípolo.