Gargalos logísticos nos portos travam exportações do agronegócio

Gargalos logísticos nos portos travam exportações do agronegócio


Atrasos, burocracia e falta de estrutura elevam custos e prejudicam embarques do setor agrícola no Brasil

O crescimento das exportações do agronegócio brasileiro tem esbarrado em um obstáculo cada vez mais visível: a limitação da infraestrutura portuária. Com equipamentos antigos, atrasos logísticos e baixa capacidade de expansão, os principais terminais do país operam no limite.

Segundo a MTM Logix, especializada em soluções logísticas, o Brasil investiu apenas 2,2% do PIB em infraestrutura em 2024, menos da metade do necessário para atender à demanda projetada para os próximos 30 anos. 

O resultado é perda de receita, aumento de custos e impactos diretos no planejamento de produtores e exportadores. A falta de aportes se dá depois de um boom do agro: em 2024, as exportações do setor somaram US$ 164,4 bilhões, ou 48,9% do total vendido pelo país ao exterior.

O gargalo tem causado prejuízos. Só em março de 2025, deixaram de ser embarcadas 637 mil sacas de café, de acordo com o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Isso representou uma perda de R$ 8,9 milhões com fretes contratados não cumpridos, além da frustração de R$ 1,5 bilhão em receitas cambiais. Desde junho de 2024, os custos extras com logística no setor cafeeiro já passam de R$ 66 milhões.

O impacto recai sobre toda a cadeia. “Os portos operam hoje no limite. A estrutura envelheceu, e os investimentos não acompanharam o crescimento da demanda”, afirma Mário Veraldo, CEO da MTM Logix. Ele defende a modernização dos terminais, como a digitalização de processos, além da ampliação de rotas alternativas, a exemplo dos portos do Arco Norte.

Um levantamento da startup de logística ElloX Digital mostra que, em março, 55% dos navios (179 de um total de 325) sofreram atrasos ou alterações nas escalas nos principais portos do país. O tempo médio de espera de um contêiner chegou a 40 horas. Em alguns casos, a fila se estendeu por até 10 dias, especialmente no Porto de Santos (SP). Eis a íntegra (PDF – 2 MB). 

Rodrigo Reis, gerente de logística da Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), afirma que os custos extras criados pelos atrasos poderiam ser revertidos em ganhos para os produtores. “Os custos operacionais extras poderiam ser usados na valorização do café. Ao invés disso, são canalizados para contornar falhas estruturais”, diz.

A cooperativa tenta mitigar os danos com planejamento logístico e auditoria de tarifas portuárias, mas aponta que as soluções precisam vir também do setor público. “Não adianta promover comercialmente o nosso café no exterior se não conseguimos embarcá-lo com previsibilidade e custo competitivo. Seguimos operando com uma infraestrutura que parou no tempo. Enquanto isso, o volume exportado cresce ano após ano. Essa conta não fecha”, diz Reis.

Veraldo avalia que a integração digital entre agentes logísticos e órgãos reguladores pode reduzir custos e acelerar operações. Para isso, contudo, é necessário um esforço conjunto entre governo e setor privado.

“É preciso ampliar e modernizar os portos urgentemente, desburocratizar processos e investir em tecnologia e alternativas logísticas, como os portos do Arco Norte, que vêm se consolidando como uma rota estratégica para o escoamento da produção agrícola brasileira”, disse.

OUTRO LADO

O governo federal, por sua vez, afirma que tem atuado para destravar os gargalos logísticos com uma carteira robusta de investimentos e concessões.

Segundo Mariana Pescatori, secretária-executiva do Ministério de Portos e Aeroportos, a expectativa é realizar 65 leilões portuários até o fim do atual ciclo de governo, 25 deles já efetivados. Entre os projetos mencionados, está o terminal STS10, no Porto de Santos (SP), com leilão marcado para dezembro de 2025 e estimativa de R$ 6 bilhões em aportes privados.

“Temos observado um crescimento muito acima do previsto na movimentação portuária, e o ministério tem atuado firmemente para ampliar a capacidade dos terminais. A política de Estado está posta”, disse.

Ela ressaltou ainda a atratividade dos ativos brasileiros, com forte presença de operadores internacionais, inclusive chineses, e destacou que o governo também aposta na implementação de terminais privados e em novas áreas voltadas ao agronegócio em Paranaguá (PR) e no Porto do Itaqui (MA).





Source link