Entrevista: Inteligência Artificial nos diagnósticos médicos por imagem

Entrevista: Inteligência Artificial nos diagnósticos médicos por imagem


Nesta coluna especial, traremos uma renomada pesquisadora que vem se destacando nos avanços da IA nos Diagnósticos Médicos por Imagem; leia a entrevista com a médica veterinária Joyce de Carvalho

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Objetivo da pesquisadora é desenvolver modelos de inteligência artificial que auxiliem os veterinários a realizar diagnósticos mais rápidos e precisos

Na medicina a área do diagnóstico por imagem, ou radiologia, sempre foi a mais envolvida com a tecnologia e muito dependente dos avanços das capacidades do hardware e software disponíveis. Com o avanço das décadas e maior disponibilidade e acessibilidade de equipamentos ultrassonográficos nas clínicas veterinárias, maior robustez dos softwares destes equipamentos e maior difusão do conhecimento ultrassonográfico por médicos veterinários, a área de radiômica finalmente chegou também à medicina veterinária.

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A Dra. Joyce Pires de Carvalho, MSc, é médica veterinária, tem experiência de 8 anos na área de diagnóstico por imagem, mestrado em Oncologia pela faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP), e atualmente se dedica ao seu PhD em inteligência artificial na área da ultrassonografia veterinária na Universidade Texas A & M. Hoje ela nos dará um panorama geral da área de integração entre a medicina veterinária e a inteligência artificial

Dr. Davis Alves: Dra Joyce, o que significa o avanço da tecnologia, em especial o machine learning, para benefício real dos animais?

Dra. Joyce de Carvalho: Excelente pergunta, essa deve ser a nossa principal preocupação quando pensamos no desenvolvimento de algoritmos computacionais que possam prever padrões das doenças. O que isso significa é que com uma biblioteca de imagens ultrassonográficas robusta, podemos graduar as lesões hepáticas mais precocemente, evitando o triste desfecho (cirrose), inevitável na doença hepática terminal, tanto em cães quanto em seres humanos. 

Dr. Davis Alves: Joyce, como surgiu a ideia de aplicar inteligência artificial ao diagnóstico de doenças em cães, especialmente no fígado?

Dra. Joyce de Carvalho: A ideia surgiu da necessidade prática. No dia a dia da clínica veterinária, percebi que doenças hepáticas em cães muitas vezes são diagnosticadas tardiamente. O fígado é um órgão silencioso, e os métodos tradicionais de imagem, como o ultrassom, dependem muito da experiência do médico veterinário para interpretar as imagens corretamente. Isso abre margem para diagnósticos imprecisos. Com o avanço da inteligência artificial e das técnicas de radiomics, vi uma oportunidade de criar ferramentas que padronizam essa interpretação e ajudem a identificar alterações precoces com maior precisão.

Dr. Davis Alves: O que é exatamente radiomics e como ela se aplica à veterinária?

Dra. Joyce de Carvalho: Radiomics é uma área da ciência que transforma imagens médicas em dados quantitativos. Ela analisa características invisíveis a olho nu, como texturas, padrões e intensidades, gerando indicadores objetivos para apoiar o diagnóstico. Na veterinária, isso ainda é muito recente. Estamos adaptando essas tecnologias, já consolidadas na medicina humana, para a realidade dos animais, especialmente em exames de ultrassom, onde as variações subjetivas ainda são um desafio.

Dr. Davis Alves: Como o seu projeto pretende impactar a prática veterinária nos próximos anos?

Dra. Joyce de Carvalho: Meu objetivo é desenvolver modelos de inteligência artificial que auxiliem os veterinários e médicos a realizar diagnósticos mais rápidos e precisos, mesmo sem a presença de especialistas em imagem. Isso será essencial para suprir a carência de profissionais especializados, que deve aumentar nos próximos anos. Além disso, a automação de parte da análise de exames pode reduzir custos e democratizar o acesso a um diagnóstico de alta qualidade, precisão e velocidade, otimizando o tempo para cura.

Dr. Davis Alves: Essa tecnologia pode beneficiar também a saúde pública?

Dra. Joyce de Carvalho: Com certeza. Animais de estimação fazem parte do nosso cotidiano, e muitas doenças hepáticas podem ter origem em fatores ambientais ou infecciosos. Um diagnóstico precoce e eficiente ajuda a controlar surtos, reduzir riscos de zoonoses e, consequentemente, proteger a saúde pública. Além disso, cães de trabalho, como os das unidades K9 da polícia ou das Forças Armadas, dependem da plena saúde hepática para suas funções. Cuidar bem desses animais é também uma questão estratégica de segurança.

Dr. Davis Alves: E como foi levar esse projeto do Brasil para os Estados Unidos?

Dra. Joyce de Carvalho: Foi um desafio e um grande passo. Hoje, como doutoranda em Ciências Biomédicas e Veterinárias na Texas A&M University, tenho acesso a tecnologias e parcerias que permitem desenvolver esse projeto em nível internacional. Mas continuo muito conectada ao Brasil, tanto no atendimento clínico, pela Elovet Veterinary Support, quanto em projetos de cooperação com instituições brasileiras. A troca de conhecimentos entre os dois países é fundamental para acelerar a inovação.

Dr. Davis Alves: Para encerrar, como você enxerga o futuro da inteligência artificial na área da saúde?

Dra. Joyce de Carvalho: Vejo um futuro promissor, onde a IA será uma aliada cotidiana da saúde como um todo, sem substituir o olhar clínico, mas potencializando sua capacidade de análise. Assim como já acontece na medicina humana em países de primeiro mundo, acredito que veremos uma transformação na forma como realizamos diagnósticos, com mais dados, mais precisão e menos subjetividade. Isso significa melhor qualidade de vida para humanos e animais, maior precisão e velocidade nos diagnósticos, acelerando a cura e tratamento em anos, salvando muitas vidas.

 

Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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