Relatos de moradores ao portal LeoDias indicam dispersão de usuários por diversos bairros da Grande São Paulo; prefeitura ainda não se pronunciou ao portal
O padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com populações vulneráveis em São Paulo, utilizou suas redes sociais nesta quarta-feira (14/5) para questionar a veracidade de uma mensagem que recebeu. No SMS, foi relatado que um suposto caminhão da prefeitura de São Paulo teria levado na madrugada de sábado para domingo vários usuários da Cracolândia para o bairro Santos Dumont, na cidade de Guarulhos, São Paulo. “Alguns pediram ajuda a um morador dizendo que foram deixados lá e eles não sabiam onde estavam”.
A publicação gerou ampla repercussão e trouxe à tona relatos semelhantes em outras regiões. A reportagem do portal LeoDias procurou moradores tanto de Guarulhos, quanto de outras regiões onde há relatos da transferência de usuários de drogas, que comentaram sobre o aparecimento repentino de grupos de dependentes químicos, sugerindo uma possível dispersão organizada.
Veja as fotos
Padre Júlio compartilha post sobre a CracolândiaReprodução: Instagram/Padre Júlio Lancellotti
Cracolândia em São PauloReprodução: Globo
Prefeito Lucas Sanches, de Guarulhos, publica vídeo sobre o casoReprodução: Instagram/Lucas Sanches
Prefeito Lucas Sanches, de Guarulhos, conversa com usuário de drogaReprodução: Instagram/Lucas Sanches
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São PauloReprodução: CNN Brasil
Em São José dos Campos, Alessandra Carvalho contou que um homem, aparentemente desorientado, a abordou próximo a um supermercado perguntando onde estava e como chegar a São Paulo. Ela afirmou que o indivíduo disse ter sido deixado na cidade sem saber o motivo.
“Era um senhor sem camisa, de chinelo, empurrando um carrinho de supermercado, me perguntando o nome da cidade que estávamos e como ele chegava em São Paulo, pois deixaram ele na cidade que ele nem sabia o nome! Fiquei revoltada com a situação, falei que estava em São José dos Campos e São Paulo era muito distante, ainda mais para ir a pé… ele não se importou e perguntou o caminho, eu falei e ele seguiu empurrando o carrinho. Começou a ter muito furto, gente pelas ruas que antes não tinha. E você vê que eles estão perdidos mesmo, não conhecem a cidade e não sabem se virar”, relatou Alessandra ao portal LeoDias.
De acordo com uma fonte também de Guarulhos que não quis se identificar, há alguns meses a situação começou a ser percebida na área da Vila Rio, bairro precário da cidade.
Nas redes sociais, o prefeito da cidade, Lucas Sanches, publicou um vídeo como resposta ao caso, afirmando que vans estariam deixando usuários de drogas na região: “Não vai ter Cracolândia em Guarulhos! Temos recebido muitas denúncias de que uma suposta van branca está vindo de outras cidades, outras regiões, e deixando usuários de droga aqui no Vila Rio. Conhece alguém que filmou a placa dessa van, e se isso realmente chegou ao seu conhecimento? Mande essas imagens pra gente!”, alertou o gestor público.
Em São Miguel Paulista, bairro localizado na Zona Leste da Capital paulista, Daniela relatou à nossa reportagem que seu amigo viu um grupo de pessoas que pareciam estar esperando por distribuição de alimentos, mas que, na verdade, eram usuários recém-chegados à região. Ela mencionou ainda que alguns começaram a cometer furtos em estabelecimentos locais.
Já outra fonte contou que vários moradores estão nos bairros de São Miguel Paulista, Jardim Helena e José Pedro Nunes, nas esquinas, trabalhando.
O que diz a prefeitura de São Paulo
A Cracolândia, tradicionalmente concentrada na Rua dos Protestantes, no centro de São Paulo, amanheceu praticamente vazia no início desta semana. Conforme apuração do portal Estadão, o esvaziamento surpreendeu o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que reconheceu que a redução do número de usuários vinha sendo gradual, mas que o sumiço repentino no fim de semana ainda está sendo investigado.
Apesar da resposta do gestor, o vice-prefeito Mello Araújo afirmou que ações coordenadas da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar (OM) removeram mais de 120 pessoas do local nesta segunda-feira (12/5) e terça-feira (13/5), algumas encaminhadas para tratamento, outras para reencontro com familiares.
A Prefeitura negou ainda qualquer uso de força e alegou que as ações priorizam o combate ao tráfico e o atendimento social.
Apesar disso, a prefeitura não esclareceu se houve transporte de usuários para outras localidades pela van mencionada ou se há registros oficiais dessas ações. A reportagem do portal LeoDias procurou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para posicionamento e aguarda retorno.
