Mudanças climáticas agravam problemas de saúde e evidenciam atenção aos cuidados

Mudanças climáticas agravam problemas de saúde e evidenciam atenção aos cuidados


O avanço das mudanças climáticas tem intensificado a variação das temperaturas, provocando, por exemplo, ondas de calor e agravando seus impactos na saúde. Projeção realizada pelo Instituto Geológico e pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) aponta que o estado de São Paulo pode ficar até 6°C mais quente até 2050, além de ter ondas de calor que passam dos 150 dias. Consequentemente, casos como desidratação e câncer de pele se tornam mais frequentes, enquanto doenças respiratórias também se agravam.

O advogado Victor Martins, desde a infância sofreu com bronquite asmática e a partir dos 15 anos evoluiu para uma asma crônica. Evolução essa que tem o impacto climático como principal pivô.

“Treino Muay Thai há mais de seis anos, e sinto que antes dessa brusca mudança climática, eu tinha mais fôlego, minha respiração era melhor durante os treinos, mas hoje tem sido uma briga constante contra as crises de asma”.

Martins cita também que, em dias mais quentes e secos ou no frio, há piora na sua respiração.

No DRS VII (Departamento Regional de Saúde), que abrange a região de Campinas (SP), os casos da síndrome respiratória registraram alta de 32,7% em 2024 no comparativo com o ano anterior, totalizando 2.788 atendimentos.

A pesquisadora Aline Priscila de Souza, da FMC (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), fez parte do primeiro trabalho realizado na unidade de emergência pediátrica do HC Unicamp que descreveu a frequência das doenças respiratórias.

“Queríamos compreender as interações entre poluentes atmosféricos, fatores climáticos e seus impactos na saúde respiratória de crianças atendidas em uma emergência pediátrica”, conta ela.

Pesquisadora Aline Priscila de Souza em frente à entrada do Hospital das Clínicas da Unicamp (Foto: Reprodução/ Gabriela Belloto)

A pesquisa descobriu que entre os anos de 2017 e 2018, 31% dos pacientes com até 14 anos, atendidos no PS-Unicamp, receberam diagnóstico de doenças respiratórias, totalizando mais de 5.500 casos. Mais da metade dessas crianças, 54%, eram lactantes e tinham menos de dois anos.

A pesquisa explica como o aumento da temperatura e a piora da qualidade do ar impactam diretamente os casos de doenças respiratórias que se concentram de março a maio. O MP (Material Particulado), feito de poeira, fumaça e outras partículas suspensas no ar, se torna mais presente em períodos quentes devido a veículos, indústrias e queimadas.

Partículas menores, podem alcançar os pulmões e aumentar o risco de doenças como bronquiolite e pneumonia, principalmente em crianças. Além disso, o calor intensifica a poluição do ar, favorecendo a formação de ozônio (O3), que irrita as vias respiratórias e leva a mais internações por infecções. Outro fator é a baixa umidade em dias quentes, que resseca as mucosas e reduz a defesa natural contra poluentes e doenças respiratórias.

Impactos diretos da exposição excessiva ao sol

“O calor influencia no sistema de termorregulação do corpo humano”, explica Marcos Eduardo Rodrigues Cabral, clínico geral da Rede Mário Gatti, em Campinas. Para diminuir o excesso de calor, o organismo aumenta a transpiração, levando à perda de água no corpo. Se o consumo de água for menor, irá se perder mais do que se ingere, o que pode levar a uma desidratação, lesão renal aguda e outros problemas de saúde. Para Marcos Cabral, idosos com mais de 65 anos devem ter cuidados redobrados por serem mais vulneráveis ao calor em relação à desidratação e ao agravamento de condições crônicas, como hipertensão, insuficiência cardíaca e até câncer.

Além dos riscos imediatos, a exposição solar excessiva é o principal fator de risco para o câncer de pele, o mais frequente no mundo. Na região de Campinas, as internações por câncer de pele cresceram 45%, de acordo com dados de janeiro a setembro de 2024 no SUS (Sistema Único de Saúde), conforme o levantamento feito pela EPTV, com o governo estadual.

Francisco Gomes, 90, de Nova Odessa, foi uma dessas vítimas e hoje luta contra o câncer de pele pela segunda vez. “Primeiro eu senti uma coceira e não parava por nada, depois foi subindo essa ferida no meu nariz que era pequena. Acabei indo ao médico com as minhas filhas e ele disse que não era uma ferida e sim câncer de pele,” conta ele.

Depois da cirurgia, sua vida teve mudanças. “O médico me passou uma pomada para eu usar de manhã, tarde e noite, evitei o sol por um bom tempo e meu chapéu não saía mais da minha cabeça,” continua. No entanto, não parece ter sido suficiente. Atualmente, ele acredita que o câncer de pele voltou.

“Minhas filhas dizem que o câncer de pele voltou por eu sair de casa sem usar protetor solar. Vamos ver o que o médico vai me dizer,” finaliza Assis.

Francisco no jardim utilizando seu fiel chapéu, que o protege contra o sol (Foto: arquivo pessoal)

Cuidados gerais

Durante esses períodos de temperaturas extremas a atenção deve ser redobrada, principalmente aos idosos, que devem seguir essas recomendações com ainda mais cautela:

  • Beber água antes de sentir sede
  • Evitar alimentos que podem aumentar a desidratação (altos em sódio e açúcar)
  • Proteger-se da exposição solar entre 10h e 16h
  • Usar protetor solar e reaplicar se necessário
  • Utilizar roupas leves e chapéus ou bonés

Por fim, mesmo compreendendo os impactos das mudanças climáticas na saúde, o cuidado vai além das mãos da população. Para a pesquisadora Aline, é imprescindível que mudanças substanciais sejam realizadas nas políticas públicas, “não apenas para conter eventos climáticos extremos, mas também para preveni-los”. Afinal, implementar estratégias mais sustentáveis e de longo prazo, como plano de ação climática, torna-se essencial para proteger a saúde e estar preparado para lidar com extremos climáticos.

S.O.S Mudanças Climáticas

 S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.

Essa matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Bruno Luiz Gomes Dantas, Gabriela Belloto Baptista, Washington da Silva Coutinho, Isabelly Godoy da Silva e Guilherme Tomesanni, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Sarah de Faria Cunha, Carlos Eduardo Couto de Barros, Luisa Hiromi Oyama, Antônio Bento Neto e Maria Victória Sakamoto Caffeu, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.





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