Lançado em 2013, iniciativa do governo chinês tem como objetivo firmar acordos de integração logística entre países
A iniciativa da Nova Rota da Seda, cujo nome oficial é “Cinturão e Rota” e é o maior programa econômico da China, tem como objetivo conectar fisicamente –por terra e por mar– diversos países por meio da capacidade produtiva chinesa.
Lançada em 2013 pelo presidente chinês Xi Jinping (Pcch), a estratégia gira em torno de acordos bilaterais para a compra e instalação de equipamentos chineses para portos, aeroportos, ferrovias e estradas. Ao aderir, o país tem acesso aos créditos chineses.
Segundo a australiana Griffith University, a iniciativa já aportou US$ 1,18 trilhão, sendo US$ 704 bilhões em contratos de construção e US$ 470 bilhões em investimentos não financeiros.
Ao todo, cerca de 148 países fazem parte do programa chinês. O continente que mais concentra parceiros da Nova Rota da Seda é a África, com 53 países. Algumas nações já fizeram parte da iniciativa, mas depois saíram.
Em 2023, a Itália decidiu deixar o projeto em que havia entrado em 2019 para contrapor a influência chinesa e buscar um alinhamento maior com os Estados Unidos. No mesmo ano, as Filipinas anunciaram sua saída por causa de tensões militares com a China no Pacífico.
No início deste ano, foi a vez do Panamá abandonar a iniciativa. A decisão foi motivada por pressões da Casa Branca, que já manifestou insatisfação com a crescente presença chinesa no Canal do Panamá.
Os projetos da Nova Rota da Seda são financiados por bancos chineses e executados por empresas chinesas. A China apresenta a iniciativa como vantajosa para todos, pois impulsiona o desenvolvimento econômico em países parceiros, ao mesmo tempo que abre mercados para bens, serviços e capital chineses.
A 1ª fase da iniciativa mirou grandes projetos de infraestrutura. O governo chinês investiu bilhões em portos estratégicos e na conclusão de uma ferrovia no Quênia para aprimorar a integração logística e o escoamento da produção chinesa.
Nos últimos anos, a estratégia mudou e a China busca projetos menores para avançar com a Nova Rota da Seda. Os grandes projetos provocaram reações suspeitas em alguns países, pois os chineses aportavam recursos para depois administrar os ativos, enquanto os governos locais precisam dar o retorno dos créditos.
Como mostrou o Poder360, essa é a preocupação de alguns analistas com a construção do Porto de Chancay no Peru. O megaporto construído com investimento chinês foi inaugurado no ano passado e é visto como a principal porta de entrada de produtos chineses no continente sul-americano.
AMÉRICA LATINA NA MIRA
Os chineses avaliam que a América Latina é uma das regiões mais importantes para o avanço da Nova Rota da Seda. Além de um mercado consumidor, a região é rica em recursos minerais e uma aproximação com a China também afasta a histórica influência norte-americana.
Desde 2013, o governo chinês já abriu 4 linhas de crédito para financiar projetos na América Latina e no Caribe. As carteiras somam US$ 70 bilhões e são administradas pelo Banco de Desenvolvimento da China e o China Eximbank.
Ao todo, 21 países da América Latina e do Caribe já aderiram ao programa e esse número pode subir na próxima semana. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro (Colômbia Humana, esquerda) anunciou na 3ª feira (6.mai.2025) que pretende negociar a entrada do país à iniciativa durante sua visita a Pequim.
O Brasil não faz parte da Nova Rota da Seda. No ano passado, Xi Jinping se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Alvorada. Ao fim do encontro, houve menção a “sinergias” entre os interesses brasileiros e o programa chinês, mas sem qualquer adesão.
NOME HISTÓRICO
A iniciativa chinesa é conhecida como Nova Rota da Seda por causa do peso histórico que o nome carrega. No século 19, o geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen cunhou o termo “Rota da Seda” para caracterizar as rotas comerciais que fluíam da China para a Europa por séculos.
A seda é um tecido muito desejado e o monopólio da técnica e da fabricação ficavam no território chinês. Historiadores dizem que as rotas começaram no século 2 antes de Cristo e alcançaram seu auge no século 14.
Além das trocas culturais, a Rota da Seda também contribuiu para o desenvolvimento de diversas áreas. O corredor Zarafshan-Karakum é um patrimônio mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e representa um total de 31 cidades que floresceram por causa da rota comercial.