‘Mensagens reveladoras’ fazem Zanin esticar por 60 dias inquérito de suposto vazamento de dados no STJ

‘Mensagens reveladoras’ fazem Zanin esticar por 60 dias inquérito de suposto vazamento de dados no STJ


Para o ministro, o aprofundamento das investigações ‘poderá descortinar a presença de elementos denotativos de correlação com a dinâmica criminosa objeto de apuração no contexto da denominada Operação Sisamnes’

Nelson Jr./SCO/STFCristiano Zanin
Zanin acatou manifestação da PGR, segundo a qual essa nova fase da investigação deve ser realizada sob a supervisão do STF

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou por 60 dias os autos da Operação Sisamnes, investigação da Polícia Federal sobre uma suposta rede de venda de sentenças e vazamento de dados sigilosos em tribunais estaduais – de Mato Grosso, Tocantins e Mato Grosso do Sul – e que também se teria instalado em gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Zanin acolheu manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) que apontou “a presença de elementos indiciários que justificam tanto a prorrogação do prazo de inquérito quanto a manutenção da competência do STF para supervisionar as investigações”. Segundo a Procuradoria, a Operação Sisamnes – juiz corrupto, segundo a mitologia persa – identificou “troca de mensagens reveladoras de possível envolvimento de agentes públicos e políticos detentores de foro por prerrogativa, inclusive no Supremo Tribunal Federal”.

Para Zanin, o aprofundamento das investigações “poderá descortinar a presença de elementos denotativos de correlação com a dinâmica criminosa objeto de apuração no contexto da denominada Operação Sisamnes”. A decisão do ministro do STF foi tomada no dia 9. Nela, Zanin avocou os autos de uma outra investigação, a Operação Maximus, então sob relatoria do ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça.

cta_logo_jp

Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

A Maximus investiga corrupção e venda de sentenças no Tribunal de Justiça do Tocantins. “Há elementos indicativos de conexão probatória que, nesta fase da investigação, justificam a reunião dos feitos”, observou Zanin ao assumir a condução da Maximus. “Impõe-se, como observado pelo órgão ministerial, exame mais aprofundado do liame entre as condutas dos detentos de foro e dos demais envolvidos.”

Zanin acatou manifestação da Procuradoria-Geral da República, segundo a qual essa nova fase da investigação deve ser realizada sob a supervisão do STF, “por cautela e economia processual, de modo a evitar potenciais novos deslocamentos entre instâncias jurisdicionais”.

‘O relator é Noronha’

A Polícia Federal recuperou diálogos entre dois alvos, o prefeito de Palmas José Eduardo Siqueira Campos (Podemos) e o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador Wanderlei Barbosa – este, alvo principal de uma terceira investigação, a Operação Fames-19, sob suspeita de desvios de recursos da merenda durante a pandemia. O governador nega ligação com ilícitos.

Trechos das conversas de Siqueira Campos e Thiago, datadas de junho do ano passado, citam o nome do ministro Noronha e indicam provável vazamento de informações no STJ, inclusive acerca de uma investigação bem mais antiga, de 2010, quando a PF deflagrou a Operação Maet contra juízes do Tocantins por corrupção.

Em um diálogo, o prefeito de Palmas antecipa que a Operação Maximus seria deflagrada em agosto de 2024 – o que efetivamente ocorreu – e cita nominalmente alvos da investigação. “Vai feder. Eu acho que tem desembargador que vai perder o cargo”, diz Siqueira Campos. “Há quem diga que agosto começa a ruir no Estado.”

Na sequência de conversas recuperadas pelos investigadores, o prefeito de Palmas antecipa também que Noronha seria o relator do inquérito da Operação Maximus no STJ. “Para os desembargadores (do Tocantins) eu já até sei quem é o relator, eu já até sei um outro cara duro, por sinal. O relator é Noronha, Brasília.”

O sobrinho do governador do Tocantins foi preso no dia 9 de abril. A PF recuperou diálogos dele via WhatsApp com o prefeito de Palmas. Os investigadores estão convencidos de que o teor dessas comunicações indicam acesso a investigações sob sigilo em curso no STJ. Siqueira Campos foi alvo de buscas em seu gabinete e em sua residência quando a etapa 9 da Sisamnes foi às ruas, em maio passado, por ordem de Zanin.

Thiago e o prefeito negam elo com o escoamento de informações sigilosas de processos nos tribunais estaduais e na Corte superior. Siqueira Campos diz que “não tem fontes privilegiadas em tribunais ou em qualquer outra instância do Judiciário”. A defesa do sobrinho do governador afirma que ele não teve acesso irregular a investigações e que não vê razão para a manutenção de sua custódia em caráter preventivo. Lula vai arriscar em 2026? Congresso, pesquisas e a realidade dizem que não deveria

No mesmo despacho em que esticou por 60 dias a Operação Sisamnes e avocou a Operação Maximus, Zanin rejeitou pedido de liberdade para o advogado Thiago de Carvalho, O ministro apontou a “gravidade de sua conduta e capacidade de exercício de influência, inclusive no âmbito do Superior Tribunal de Justiça”

Zanin anotou que, em duas ocasiões anteriores, afastou a tese de que o sobrinho do governador teria direito a ser recolhido em sala de Estado Maior, “uma vez que não exercia a advocacia ao tempo em que foi preso”. À época, destacou o ministro, Thiago exercia cargo de assessor do Ministério Público estadual, “incompatível com o exercício da advocacia”.

“Não há razão alguma para resolver questão já exaustivamente decidida e mantida por este colegiado sem que se tenha apresentado qualquer argumento substancialmente novo em relação à situação fática do investigado”, assinalou o ministro.

O único preso

O advogado Luiz Francisco de Oliveira, que representa o sobrinho do governador do Tocantins, havia pedido novamente a revogação do decreto de prisão, questionando os motivos para uma custódia cautelar, especialmente a contemporaneidade.

Inconformado com o fato de que seu cliente está preso há três meses – Thiago é o único investigado nessa situação, em meio a um escândalo que atinge juízes e autoridades do executivo -, o criminalista Luiz Francisco sugeriu em petição a Zanin a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, como o monitoramento eletrônico.

*Com informações do Estadão Conteúdo





Source link