Portal LeoDias conversou com a ginecologista Wanuzia Miranda para entender o novo teste para detectar o risco de câncer de colo do útero
O Sistema Único de Saúde (SUS) iniciou a substituição do teste citopatológico, conhecido como papanicolau, para a detecção do HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano). O exame que passará a ser utilizado em todo o país é o exame molecular de DNA-HPV. A mudança começou em maio e, segundo o Ministério da Saúde, será feita gradualmente.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse tipo de rastreamento é mais eficaz na detecção do risco de câncer de colo do útero. Com isso, o tempo de intervalo entre as coletas tende a aumentar para até cinco anos — ao contrário do antigo método, utilizado no Brasil desde os anos 80, que requer uma frequência maior.
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A mudança promete trazer ganhos significativos para a saúde pública nacional. O HPV atinge cerca de 10 milhões de pessoas no país, e é o causador de mais de 99% dos casos de câncer do colo do útero. Esse tipo é o terceiro mais comum entre as mulheres brasileiras, com cerca de 17 mil novos casos por ano.
Papanicolau ou DNA-HPV
Para entender a diferença entre os testes, o portal LeoDias conversou com Wanuzia Miranda, doutora em medicina tropical e ginecologista da Mobius, empresa de medicina diagnóstica. Segundo a especialista, um dos principais ganhos está na ineficácia do papanicolau em alguns casos.
Isso porque, caso o conteúdo coletado seja insatisfatório, a leitura da amostra será dificultada, causando prejuízos à paciente. Já os exames de biologia molecular permitem a realização da genotipagem para detectar a presença do vírus com antecedência a uma possível lesão cancerígena.
“Há uma subjetividade muito grande na interpretação das atipias citopatológicas, e isso faz com que haja muita discordância entre observadores da mesma amostra. Também não podemos negar que o índice de falsos negativos é muito grande e isso é um prejuízo, pois dá tempo da neoplasia evoluir para casos mais graves”.
Além disso, o DNA-HPV é capaz de detectar o papilomavírus humano mesmo quando há baixa carga viral, já que utiliza a técnica de PCR para amplificar sequências específicas de DNA.
Benefícios da realização do DNA-HPV
O papanicolau era indicado anualmente para mulheres acima de 25 que já tiveram relações sexuais. Já com o novo exame, após resultados negativos, a recomendação passa a ser de cinco anos. Isso graças à eficácia do teste, que torna a possibilidade do desenvolvimento do câncer em torno de 0,15%, como destaca Wanuzia.

Coleta de exame ginecológico em unidade de saúde do SUS: novo teste de DNA-HPV começa a substituir o papanicolau de forma gradual em todo o Brasil. Foto: Canva
Além do maior intervalo de realização do exame, gerando mais segurança e bem-estar para a paciente, a nova testagem inserida no SUS apresenta outros pontos positivos. É o caso da identificação da possível a presença do vírus HPV com até 10 anos de antecedência ao surgimento das lesões que podem evoluir para o câncer.
“A genotipagem é um marco para o nosso país, pois a biologia molecular é um exame de ponta para a identificação não só do HPV, mas também de muitos outros agentes infecciosos. Ela desempenha um papel importantíssimo no entendimento de algumas doenças, analisando genes e células. Isso possibilita desenvolver terapias mais eficazes e mais específicas, a chamada medicina personalizada”, acrescenta a ginecologista.
De acordo com Miranda, é esperado que a mudança ofereça uma mudança de cenário na saúde pública do Brasil: “Espera-se que a implementação reduza em torno de 70% de casos mais graves da doença”.
Outros problemas e vacinação
Por fim, vale destacar que, além do câncer no colo de útero, o vírus pode causar outros problemas de saúde, como:
- Câncer de: ânus, reto, orofaringe (garganta), boca, laringe, vulva, vagina e pênis;
- Desenvolvimento de lesões benignas, como as verrugas genitais.
“A vacinação contra o HPV é indicada para meninas e meninos de 9 a 14 anos, preferencialmente antes do início da vida sexual. Para quem não foi vacinado na adolescência, a vacina continua sendo recomendada até os 26 anos, mesmo que já tenha havido exposição prévia ao vírus”, finaliza a especialista.