Ameaças a escolas nas redes crescem 360% em 4 anos no Brasil

Ameaças a escolas nas redes crescem 360% em 4 anos no Brasil


Pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra também que o discurso de ódio migrou da deep web para a web tradicional

As postagens com ameaças a alunos, professores e diretores de escolas brasileiras cresceram 140% de 2021 a 2024, segundo uma pesquisa divulgada na 4ª feira (11.jun.2025) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número saltou de 43.830 para 105.192. O ano de 2025 vem registrando um volume ainda maior. Até 21 de maio, foram 88.000 posts. 

Realizado em parceria com a empresa de monitoramento Timelens, o levantamento mostra uma mudança no padrão de circulação dos conteúdos. Em 2023, por exemplo, 90% das mensagens com discurso de ódio estavam restritas à deep web, parte da internet que não aparece em buscas comuns. Em 2025, essa proporção caiu para 78%, indicando que as ameaças agora circulam mais livremente na web tradicional.

A pesquisa identificou que tanto meninos quanto meninas sofrem cyberbullying na mesma proporção –12% em ambos os grupos. No entanto, existe uma diferença no comportamento ofensivo: 17% dos meninos admitiram ter agido de forma agressiva no ambiente virtual, contra 12% das meninas. A proporção de comentários que exaltam autores de ataques em escolas também aumentou. Em 2011, ano do massacre de Realengo (RJ), 0,2% das mensagens tinham esse teor. Em 2025, esse percentual já chegou a 21%. 

Manoela Miklos, pesquisadora sênior do fórum, afirmou para o aumento da violência contra meninas e mulheres no ambiente digital: “Diferente das gerações anteriores, não há separação entre o mundo online e o offline —é uma vida só, híbrida. E, se não compreendermos bem essa experiência, não vamos conseguir criar respostas eficazes para protegê-las”. Para ela, o cenário atual exige responsabilidade compartilhada entre Estado, escolas, famílias e sociedade para combater o que chama de “raiva silenciosa” cada vez mais ignorada pelas plataformas.

A pesquisa revelou que 95% das meninas afirmam ter ao menos um amigo próximo para desabafar. Entre os meninos, esse percentual cai para 85%. Menos de 50% de todos os jovens dizem estar satisfeitos com a própria imagem corporal.

“Quando o algoritmo substitui o afeto e a escuta, o risco deixa de ser virtual”, disse Renato Dolci, diretor de dados na Timelens. Segundo ele, “os jovens não estão apenas consumindo conteúdo –estão formando identidade em espaços que valorizam o exagero e a exclusão”

O estudo também analisou o impacto da sexualização precoce entre estudantes do 9º ano, quando estudantes estão na casa dos 14 anos de idade. A proporção de meninas que já tiveram relação sexual aumentou de 19%, em 2015, para 22,6% em 2019. Entre os meninos, houve queda de 35% para 34,6%. Isso cria uma pressão adicional sobre os meninos para “acompanharem” as colegas.





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