A Bola de Ouro que escapou de Neymar: por que 2015 ainda dói?

A Bola de Ouro que escapou de Neymar: por que 2015 ainda dói?


Postagem de Neymar Pai reacende debate sobre a Bola de Ouro de 2015. Dados, contexto e emoção se misturam na análise de um dos anos mais intensos da carreira do craque

Em meio ao turbilhão de críticas que Neymar Jr. voltou a enfrentar nas redes sociais, uma voz conhecida resolveu romper o silêncio. Não com polêmicas, mas com afeto e memória. Em um carrossel de fotos publicado na última terça-feira (10/6), Neymar Pai resgatou momentos marcantes da carreira do filho, exaltou sua trajetória e lançou uma frase que ecoa até hoje entre fãs do craque: “Meu ídolo, mesmo sabendo que merecia a Bola de Ouro de 2015, não deixou de demonstrar felicidade e aplaudir o seu amigo.”

A declaração, indireta, mas direta o suficiente, reabriu uma discussão antiga e acalorada: Neymar realmente deveria ter sido eleito o melhor jogador do mundo em 2015?

Veja as fotos

Reprodução

Reprodução

Reprodução

Reprodução

Reprodução

Reprodução


 

O ano mágico do Neymar

A temporada 2014/15 com certeza foi a mais marcante da carreira de Neymar até então. Com apenas 23 anos, ele se tornou peça fundamental no ataque do Barcelona, formando ao lado de Messi e Suárez o temido trio MSN, que somou juntos impressionantes 122 gols em todas as competições (Messi fez 58, Neymar 39 e Suárez 25).

No recorte individual, Neymar terminou a temporada com 39 gols e 10 assistências em 51 jogos oficiais. Na Champions League, foi artilheiro da competição ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, com 10 gols, e se destacou de forma ainda mais rara: marcou nas quartas de final contra o PSG, nas semifinais contra o Bayern e na grande final contra a Juventus. Seu desempenho decisivo o colocou no centro da temporada mais gloriosa do Barcelona desde a era Guardiola.

Além da Liga dos Campeões, o Barça venceu também o Campeonato Espanhol e a Copa do Rei, conquistando uma tríplice coroa construída com atuações marcantes de Neymar nas fases finais dos torneios. Ainda assim, na eleição da Bola de Ouro, ele ficou apenas na terceira colocação, com 7,86% dos votos. À sua frente ficaram Cristiano Ronaldo, com 27,76%, e Lionel Messi, o vencedor, com 41,33%. Para muitos, a distância nos votos não refletia a proximidade real em campo. Neymar não só brilhou nas estatísticas, mas também no momento em que os olhos do mundo estavam voltados para ele.

A constelação de Messi

Mas havia Messi. E quando há Messi, quase sempre não há prêmio para os outros. Em 2014/15, o argentino viveu uma de suas temporadas mais completas. Foram 58 gols e 27 assistências em 57 jogos, uma média de 1,49 participação direta por jogo. Na La Liga, foi vice-artilheiro com 26 gols e liderou o campeonato em assistências, com 18. Na Champions, além dos 10 gols, serviu companheiros em seis oportunidades. E mais do que os números, houve os momentos. Como na semifinal contra o Bayern, quando aplicou um drible desconcertante em Boateng antes de encobrir Neuer, ou na final da Copa do Rei, ao marcar um dos gols mais bonitos de sua carreira, arrancando do meio-campo e driblando quatro marcadores antes de finalizar.

Messi foi o cérebro e o coração daquele time. Atuando como ponta, armador e organizador, redefiniu a função do camisa 10 moderno, transitando entre os setores com a maestria de quem já não precisava provar nada, mas provou tudo de novo. Naquela temporada, também venceu os prêmios de Melhor Jogador da UEFA, Melhor Atacante da Champions League e terminou como líder de participações diretas em gols na Europa.

Os critérios da FIFA e a força do nome

A eleição da Bola de Ouro 2015, organizada pela FIFA, levava em conta critérios como desempenho individual e coletivo, classe e fair play, impacto técnico e estético, histórico de carreira e os votos de técnicos, capitães e jornalistas. Messi levava vantagem em praticamente todos os aspectos: era mais constante, mais coletivo e, esteticamente, mais brilhante. Além disso, o peso simbólico do seu “renascimento” após um período de críticas e dúvidas sobre sua condição física parece ter tocado o coração dos votantes. Neymar, por sua vez, mesmo em ascensão meteórica, ainda era visto como discípulo. E, naquele ano, o mestre decidiu brilhar com mais força.

Foi justo?

Essa é a pergunta que assombra toda premiação individual num esporte coletivo: foi justo? Messi foi mais completo, mais constante, mais participativo. Neymar, no entanto, foi o mais decisivo nos momentos finais da Champions League. Foi a faísca no ataque, o homem-gol nas fases derradeiras, o craque que fez a diferença nos 90 minutos que moldam o legado de um jogador. Se o futebol premiasse só isso, talvez a história tivesse sido outra.

Mas o futebol premia mais do que momentos. Premia narrativas, símbolos, trajetórias. E naquele contexto, o mundo parecia querer — e precisar — premiar Messi de novo. Neymar aplaudiu o amigo. Sorriu. Parecia aliviado, como quem ainda tinha tempo. Mas dez anos depois, o tempo cobrou. As lesões vieram, as polêmicas também. A consagração que parecia inevitável passou a ser vista como uma promessa não cumprida.

A dor que permanece

Quando Neymar Pai diz que o filho “merecia” a Bola de Ouro, não é só uma frase de orgulho paterno. É uma fresta numa memória coletiva de que o futebol, às vezes, não premia o momento certo, mas a figura certa. E em 2015, Lionel Messi era, como quase sempre, o escolhido. Mas Neymar foi grande. Talvez maior do que a história o reconheça. Talvez por isso a pergunta ainda permanece viva. Como uma cicatriz que sempre te faz lembrar e questionar: e se?



Source link