Coordenador da Coalizão Flotilha da Liberdade, Thiago Ávila está preso desde domingo em Israel. Reprodução/Youtube
Detido em Israel desde domingo (8), o ativista brasileiro Thiago Ávila deve desembarcar no Brasil nesta sexta-feira (13). A informação foi repassada à psicóloga Lara Souza, esposa de Thiago, pela advogada que acompanha o caso e pela Embaixada do Brasil em Tel Aviv, na manhã desta quinta-feira (12).
“Não consegui falar com ele. A embaixada me informou que também não foi autorizada a vê-lo e que tentaria contato por telefone, mas até agora nada”, disse Lara ao Congresso em Foco. O casal vive em Brasília e tem uma filha de um ano e cinco meses.
A previsão é de que Thiago embarque ainda nesta tarde em um voo com destino a São Paulo. “O Thiago está sendo levado para o aeroporto”, afirmou o pai dele, Ivo de Araújo Oliveira Filho. A família não tem contato direto com o ativista desde o dia da detenção. Ele estava na prisão de Givon, cidade localizada na região central de Israel.
O Congresso em Foco entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores e aguarda retorno.
Ajuda humanitária
Na quarta-feira (11), a advogada da ONG Adalah, que atua na defesa de Thiago, informou que ele seria levado para uma cela solitária como represália por ter iniciado uma greve de fome e se recusado a assinar o termo de deportação imposto pelas autoridades israelenses. Thiago era o coordenador da operação da Freedom Flotilla Coalition (FFC), formada por 12 ativistas de diferentes nacionalidades que tentavam levar ajuda humanitária, com alimentos e remédios, à Faixa de Gaza em uma embarcação.
O barco foi interceptado por forças israelenses, que alegaram invasão do espaço marítimo do país. Já as organizações que integram a Flotilha da Liberdade sustentam que a interceptação ocorreu em águas internacionais e que a missão era exclusivamente humanitária.
Dos 12 ativistas detidos, quatro foram deportados no início da semana entre eles a ambientalista sueca Greta Thunberg. Os outros oito, incluindo Thiago, se recusaram a assinar o termo que previa o reconhecimento de culpa e a proibição de entrada em Israel e Gaza por 100 anos. A greve de fome iniciada por Thiago foi anunciada na terça-feira. Poucas horas depois, a Justiça israelense autorizou a deportação do grupo mesmo sem a assinatura do documento.
O caso é acompanhado de perto pela Embaixada do Brasil em Tel Aviv. Na segunda-feira (10), o Itamaraty divulgou nota apelando pela libertação dos ativistas.
Relato de francês deportado
O francês Andre Baptiste, um dos ativistas deportados, relatou aos advogados as condições da detenção.
“Nenhum de nós comeu ou bebeu a comida dada pelos soldados israelenses. Fomos obrigados a aceitá-la porque havia armas apontadas para nós”, contou. “As fotos foram encenadas. Ninguém realmente sorriu. Rima [Hassen, deputada francesa] escolheu sorrir como forma de protesto”, acrescentou. Ele também descreveu restrições severas.
Organizações como a Adalah seguem pressionando por responsabilização de autoridades israelenses por possíveis abusos cometidos durante a operação.
“O grupo foi estratégico, responsável e maduro. Tentam desmoralizá-lo, mas não se tratava de um ‘iate de selfies. Havia um propósito. Eles atingiram o objetivo de chamar atenção para o que acontece em Gaza”, afirmou Ivo de Araújo, pai de Thiago, ao Congresso em Foco.
A embarcação Madleen, da FFC, partiu da Itália em 1º de junho com arroz e leite em pó para bebês, tentando furar o bloqueio marítimo imposto por Israel à Faixa de Gaza desde 2007. A coalizão afirmou que o navio foi cercado por drones e lanchas rápidas em águas internacionais, submetido a bloqueio de comunicações e a um spray de substância branca.
A relatora da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, confirmou três incidentes durante a travessia. Imagens divulgadas mostram os ativistas com coletes salva-vidas e as mãos erguidas após a abordagem.
Reações
O governo israelense afirma que os passageiros estão “ilesos” e que seriam “repatriados para seus países de origem”. Classificou a iniciativa como “provocação midiática” e a embarcação como um “iate de selfies”. Segundo as autoridades, o bloqueio visa impedir o envio de armas ao Hamas argumento contestado pela ONU e por organizações humanitárias, que o consideram ilegal e agravante da crise em Gaza.
O Hamas, por sua vez, classificou a interceptação como “violação flagrante do direito internacional” e também pediu a libertação dos ativistas.
A ação reacendeu lembranças do ataque ao navio turco Mavi Marmara em 2010, quando dez ativistas foram mortos.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 54 mil pessoas morreram na região desde o início da ofensiva israelense em resposta ao ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023.
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