Congresso em Foco

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O Plano Bresser completa 38 anos nesta quinta-feira (12). Lançado em 1987 pelo então ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, durante o governo José Sarney, o plano tentou conter a hiperinflação que desorganizou a economia brasileira ao longo da década de 1980. Era mais uma tentativa, após os fracassos dos Planos Cruzado I e II, de interromper a escalada dos preços.

O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira: plano não deteve a inflação, que só foi cair no meio da década de 90.

O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira: plano não deteve a inflação, que só foi cair no meio da década de 90.Arte Congresso em Foco | Foto: Lula Marques/Folhapress

A proposta incluía congelamento de preços, salários e aluguéis, desvalorização cambial e contenção do déficit público. A inflação de junho de 1987 era de 23% ao mês, e o rombo fiscal acumulava 7,2% do PIB. O governo corria contra o tempo para recuperar a credibilidade e evitar o colapso monetário.

O que previa o plano

O congelamento foi decretado por 90 dias, e os reajustes passaram a ser calculados com base na nova URP (Unidade de Referência de Preços). A moeda foi desvalorizada em 10%, os subsídios foram reduzidos e obras públicas, adiadas. A ideia era criar uma transição para um regime de mercado mais estável, sem perder o controle sobre os índices de preços.

Nos primeiros meses, os números animaram. A inflação recuou de 26% para 3% entre junho e julho. Mas a euforia durou pouco. Em agosto, o índice subiu para 6,4% e continuou a crescer. A repressão artificial aos preços e salários, sem reformas estruturais, não convenceu consumidores nem empresários.

Queda e consequências

A credibilidade do plano ruía a cada remarcação clandestina. O congelamento dos salários gerou insatisfação, enquanto comerciantes burlavam as regras. Bresser-Pereira deixou o governo no início de 1988. A inflação anual bateu 366% em dezembro, encerrando qualquer ilusão de sucesso.

O plano também provocou prejuízos a poupadores. Em 1987, o Banco Central mandou corrigir a poupança pela taxa das Letras do BC (LBC), inferior à inflação real. Décadas depois, o STF reconheceu o direito à indenização por essa diferença. Até 2025, mais de 326 mil acordos foram homologados.

Legado e lições

Apesar do fracasso, o Plano Bresser deixou lições importantes. O país foi amadurecendo suas estratégias. Seis anos e vários planos depois, o Plano Real viria a consolidar o controle da inflação. O Bresser, com todos os seus limites, ajudou a construir esse caminho.

Hoje, o plano é visto por economistas como um símbolo da “década perdida”, mas também como marco de transição. Ele ilustrou a dificuldade de lidar com uma inflação descontrolada num país sem disciplina fiscal.

STF reconheceu perdas

Em 2025, o STF prorrogou por mais dois anos o prazo para que poupadores prejudicados nos planos Bresser, Verão e Collor possam aderir ao acordo coletivo de compensação. A decisão reforça o entendimento de que, apesar da constitucionalidade dos planos, seus efeitos danosos merecem reparação.



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