Congresso em Foco

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Atacado pela oposição, Haddad participou de audiência turbulenta na Câmara nessa quarta-feira.

Atacado pela oposição, Haddad participou de audiência turbulenta na Câmara nessa quarta-feira. Gabriela Biló /Folhapress

O governo federal publicou nessa quarta-feira (11) uma medida provisória (MP) que muda regras de tributação sobre aplicações financeiras e aumenta impostos para alguns tipos de empresas. A proposta (veja a íntegra) também substitui parcialmente a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e desagradado ao Congresso.

O Executivo também publicou um decreto (veja a íntegra) suavizando as regras previstas para o IOF. Com as medidas o governo espera aumentar a arrecadação entre R$ 36 bilhões e R$ 37 bilhões. Tanto a MP quanto o decreto foram publicados em edição extra do Diário Oficial da União nessas quarta-feira (11).

O que muda para o investidor

A MP 1303/25 atinge diretamente quem aplica em títulos isentos de Imposto de Renda (IR), como LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário). Antes livres de IR, essas aplicações passarão a ser tributadas em 5% a partir de 2026.

Outra mudança importante é a unificação da alíquota de IR para investimentos financeiros (incluindo criptomoedas), que passará a ser fixa de 17,5%, substituindo o sistema atual, em que as alíquotas variam de 15% a 22,5% dependendo do tempo de aplicação.

Também há previsão de regras mais flexíveis para compensação de ganhos e perdas no mercado financeiro. Hoje, essa possibilidade é restrita à renda variável.

Empresas e fintechs pagarão mais

Empresas que distribuem juros sobre capital próprio (JCP), mecanismo usado para remunerar acionistas e pagar menos impostos, também serão impactadas. A alíquota de IR sobre esses rendimentos passará de 15% para 20%.

Já as fintechs deixam de ter acesso à alíquota reduzida de 9% da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Agora, pagarão 15% ou 20%, a depender do porte.

Apostas esportivas sobem de 12% para 18%

As “bets”, plataformas de apostas esportivas, também sofreram aumento de imposto. A tributação passará de 12% sobre a receita bruta para 18% sobre o GGR, que é a diferença entre o valor arrecadado e os prêmios pagos.

Outras medidas

A MP também inclui outros ajustes fiscais e administrativos, como:

  • Redução do prazo do auxílio-doença por atestado (Atestmed) de 180 para 30 dias
  • Inclusão do programa Pé-de-Meia no piso constitucional da educação
  • Ajustes nos critérios do Seguro Defeso
  • Regras novas para aluguel de ações, com IR de 17,5%.

IOF: recuo parcial após críticas

Além da MP, o governo publicou um novo decreto para suavizar a alta do IOF, após forte reação negativa do Congresso. Veja como ficou:

Crédito a empresas

  • Como era (decreto anterior): 0,95% + taxa diária de 0,0082%
  • Como ficou: 0,38% + taxa diária de 0,0082%

Previdência privada (VGBL)

  • Antes: taxação de 5% sobre aportes mensais acima de R$ 50 mil
  • Agora: limite anual de R$ 600 mil a partir de 2026. Só o valor excedente será tributado.

Fundos de investimento (FIDC)

  • Passam a ter IOF de 0,38% sobre a aquisição primária de cotas.

Câmbio

  • Repatriação de investimento estrangeiro direto terá IOF zerado (antes era de 3,5%).

Previsão de arrecadação

O governo espera arrecadar:

  • R$ 10 bilhões em 2025
  • R$ 20 bilhões em 2026 com a nova MP
  • Entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões com o novo decreto do IOF, ante R$ 19,1 bi previstos antes do recuo

Clima político: resistência no Congresso

Mesmo com o recuo parcial, o clima no Congresso é de resistência. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que não há compromisso com a aprovação da MP. O União Brasil e o PP, partidos com ministérios no governo, também sinalizaram que vão rejeitar o pacote se não houver corte de gastos.

Em audiência na Câmara, nessa quarta-feira, o clima foi de tensão entre a oposição e o ministro da Fazenda.

No Senado, a oposição criticou o aumento de impostos, dizendo que ele afugenta investimentos de longo prazo.

Ação e reação

No fim de maio, o governo anunciou um bloqueio orçamentário e um contingenciamento de aproximadamente R$ 30 bilhões, com o objetivo de cumprir a meta fiscal estabelecida pelo novo arcabouço. Paralelamente, editou um decreto que elevava o IOF, com a expectativa de arrecadar outros R$ 20 bilhões ainda neste ano.

A medida, no entanto, enfrentou forte resistência tanto do mercado financeiro quanto do Congresso Nacional, o que levou o Executivo a negociar uma medida prrovisória como alternativa ao decreto do IOF.

Sem essa solução alternativa, o governo seria forçado a ampliar o contingenciamento de despesas, o que poderia comprometer ainda mais o funcionamento da máquina pública ao longo de 2025.



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