O Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) determinou, nesta terça-feira (10), o afastamento do secretário de Educação do estado, Aberson Carvalho, por trinta dias. O secretário é aliado da deputada federal Socorro Neri (PP-AC), parlamentar engajada com a pauta da educação e membro da comissão temática na Câmara.
Aberson Carvalho e a deputada Socorro Neri.Repridução/Instagram @socorroneri
A ordem da Corte se deu após o Fantástico apresentar denúncias sobre as condições de escolas no município de Bujari, interior do estado. Na reportagem foi mostrado que alunos estudam em um espaço improvisado, sem paredes, que antes funcionava como curral. O lanche dos estudantes é preparado pela professora e os próprios alunos é quem realizam a limpeza.
O espaço está sendo usado temporariamente há dois anos, uma vez que a escola-sede, distante dez quilômetros do curral, ainda não está pronta. Entre outras dificuldades enfrentadas pela professora e alunos está a ausência de água encanada e o uso de um banheiro improvisado com uso de baldes. Conforme o secretário de Educação, o prazo de entrega do edifício é de até 40 dias.
A decisão do TCE assinada pela conselheira Dulcinéa Benício de Araújo aponta graves situações de afronta à dignidade da pessoa humana notadamente de crianças e adolescentes envolvendo deficiências estruturais e funcionais em unidades públicas de ensino, com destaque para condições degradantes de saúde e higiene. Portanto, em documento aponta os seguintes fatores:
- trabalho infantil irregular em contexto escolar
- precariedade sanitária extrema
- falhas gritantes de infraestrutura
- repercussão pública de grande escala
Além do afastamento cautelar do secretário de Educação, a Corte de Contas propôs ainda realização de inspeção extraordinária com apresentação de relatório em 15 dias e notificação ao governador do Acre, Gladson Cameli (PP), para prestar informações em 15 dias. Apesar da decisão do TCE, o governo estadual afirmou que o órgão não pode afastar o secretário, mas que vai colaborar por meio de trabalho conjunto.
O que diz o secretário
O secretário de Educação, Aberson Carvalho, escreveu em publicação no Instagram que “as escolas do campo e indígenas” não seguem o modelo tradicional. “Em muitos lugares, as famílias seguem avançando para dentro da floresta, buscando sustento e preservando seus territórios. Cada nova comunidade significa também o surgimento de uma nova sala de aula. E o Estado tem chegado”, disse.
“Mas é preciso reconhecer. O avanço da presença estatal não anula a urgência por novos investimentos. É necessário seguir ampliando infraestrutura, consolidando o acesso e oferecendo melhores condições de ensino a alunos e professores”, complementou.
No entanto, apesar de ter falado sobre as dificuldades impostas a esses modelos de escolas e ter afirmado que 210 escolas rurais e indígenas receberam manutenção predial, Aberson não falou diretamente sobre as condições enfrentadas pelos alunos de Bujari. As escolas rurais e indígenas, conforme o secretário, representam 20% da rede pública do estado.
A deputada Socorro Neri não se manifestou nas redes sociais sobre as denúncias veiculadas pelo Fantástico. Procurada pelo Congresso em Foco, a assessoria de imprensa da parlamentar também não respondeu aos questionamentos.