Documento questiona legalidade de cortes que afetam US$ 12,1 bilhões em recursos federais
Mais de 340 funcionários do NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) assinaram uma carta criticando os cortes orçamentários implementados pelo governo de Donald Trump (Partido Republicano). As informações foram divulgadas pela agência de notícias Reuters.
O documento foi enviado na 2ª feira (08.jun.2025) ao diretor do NIH, Dr. Jay Bhattacharya, ao Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., e a membros do Congresso. A carta diz que as medidas afetam pesquisas em andamento e comprometem recursos federais.
A entrega do documento aconteceu 1 dia antes do depoimento de Bhattacharya perante o comitê de dotações do Senado dos EUA sobre o orçamento da instituição. Do total de assinantes, cerca de 250 optaram pelo anonimato, enquanto mais de 60 funcionários atuais se identificaram publicamente.
Segundo a carta, desde janeiro de 2025, quando Trump assumiu a presidência, o NIH rescindiu 2.100 bolsas de pesquisa que somavam US$ 9,5 bilhões, além de US$ 2,6 bilhões em contratos. Os signatários afirmam que essas rescisões “jogam fora anos de trabalho árduo e milhões de dólares”.
A administração Trump propôs uma redução de US$ 18 bilhões no orçamento do NIH para o próximo ano fiscal, representando um corte de 40%. Isso deixaria a agência com US$ 27 bilhões para operar. A proposta afeta diretamente a maior instituição financiadora de pesquisa biomédica do mundo.
Entre os funcionários que assinaram publicamente está a Dra. Jenna Norton, diretora de programa da divisão de doenças renais, urológicas e hematológicas do NIH. Além dos 69 funcionários ativos identificados na manhã de 2ª feira, cerca de 20 ex-funcionários recentemente demitidos durante período probatório ou “sujeitos a reduções de força” também adicionaram seus nomes.
Os protestos aconteceram na sede do NIH em Bethesda, Maryland. A reestruturação das agências de saúde promovida por Kennedy resultou na demissão de aproximadamente 5.000 funcionários e contratados do Instituto, conforme relatado pelos próprios integrantes da instituição.
Os funcionários do NIH solicitam que Bhattacharya restaure as bolsas adiadas ou canceladas e cumpra seu dever legal de utilizar os fundos aprovados pelo Congresso. Em declarações anteriores, o diretor havia prometido apoio à agenda “Make America Healthy Again” de Kennedy, afirmando que isso significaria concentrar os “recursos limitados” do governo federal no combate a doenças crônicas.
“Estou muito mais preocupado com os riscos de não nos manifestarmos”, declarou Norton sobre sua decisão de assinar publicamente a carta. “Há preocupações muito reais de que estejam nos pedindo para realizar atividades possivelmente ilegais e, certamente, atividades antiéticas que violam nossas regras.”
O Dr. Benjamin Feldman, cientista e diretor principal do Instituto de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano do NIH, afirmou que ele e outros pesquisadores desejam colaborar com Bhattacharya para reverter os cortes. Ele declarou: “Isso é realmente um golpe para todo o empreendimento de pesquisa biomédica nos Estados Unidos”.
A carta também expressa preocupações com ensaios clínicos que “estão sendo interrompidos sem levar em conta a segurança dos participantes, interrompendo abruptamente a medicação ou deixando os participantes com implantes de dispositivos sem monitoramento”. Os contratos cancelados geralmente apoiavam diversos aspectos da pesquisa, desde equipamentos até equipes de enfermagem.
Os funcionários batizaram sua manifestação de “Declaração de Bethesda”, inspirando-se na “Declaração de Great Barrington” que o próprio Bhattacharya publicou em 2020. “Nossa esperança é que, seguindo o modelo da Declaração de Great Barrington, talvez ele se veja em nossa dissidência”, disse Norton.