Descubra quais são os efeitos das mudanças climáticas no trabalho

Descubra quais são os efeitos das mudanças climáticas no trabalho


Os últimos anos evidenciam de forma clara os impactos da nova era climática, com a ebulição global. No ano de 2021, o Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) registrou a temperatura máxima mais alta para o mês de setembro em Campinas, desde o início dos registros em 1989.

Nesse mesmo período, a jornalista e escritora Fabíola Augusta de Oliveira Carmo trabalhava como jovem aprendiz em uma empresa do setor alimentício. Devido às altas temperaturas e às condições de trabalho, ela enfrentou sérios problemas de saúde. “Foram cerca de 4 a 5 episódios de desmaios e convulsões no ambiente de trabalho”, relembra Fabíola. Para Fabíola, a experiência de trabalho não chegou a completar 2 meses.

“Como jovem aprendiz, exigiam que cerca de 4 horas da minha jornada fosse realizando coletas nos galpões da fábrica, onde não tinha bebedouro ou ventilação. Tinha também o uso obrigatório de uniforme e EPIs, que eram necessários, mas que pioravam o calor e afetavam muito minha saúde”, conta a ex-aprendiz.

Para o professor e advogado especializado em Direito e Processo do Trabalho pela PUC Campinas, José Ricardo Haddad, a nova realidade a qual enfrentamos traz novas demandas, tanto para as empresas quanto para os trabalhadores.

“As mudanças climáticas estão ligadas à responsabilidade social, à sustentabilidade dos negócios e à preservação de modo futuro, motivo pelo qual as empresas e trabalhadores devem andar de mãos dadas quando se trata do tema em questão”, explica Haddad. 

As ondas de calor na RMC

As ondas de calor extremo têm intensificado as queimadas, afetando de forma recorrente polos agrários como Ribeirão Preto, São Carlos e Piracicaba. As três cidades foram constatadas, junto a outros 45 municípios, no alerta máximo de queimadas do estado.

São Carlos registrou 1.299 focos de incêndio no primeiro semestre de 2024, segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Já Piracicaba, que é forte na produção de cana-de-açúcar, teve cerca de 2.171 hectares de áreas de pastagem, cana-de-açúcar e vegetação consumidos por queimadas. Os dados foram informados pela equipe técnica da Polícia Militar Ambiental e divulgado pela Defesa Civil do município.

A sensação térmica já fez com que o produtor agrícola, Sérgio Bota da Silva, 57, e seus funcionários finalizassem o trabalho mais cedo.

“As ondas muito intensas de calor aqui na região, junto com a fumaça dos incêndios, gera muito desconforto. Teve dia que a gente precisou interromper o serviço e ir embora mais cedo”, recorda Silva.

Com sua plantação localizada em Sertãozinho, próximo a Ribeirão Preto, o produtor explica que já sentiu medo de seus funcionários passarem mal. “Na hora do almoço, o pessoal estava fadigado, sentia aquele “mormaço”, o ar seco, sem umidade. Não dava para continuar”, conta ele.  

Falta de legislação aos trabalhadores autônomos

Entregador de aplicativo enfrenta via inundada durante forte tempestade (Foto: PMC/Carlos Bassan)

No Brasil, desde 1978, as NRs (Normas Regulamentadoras) garantem segurança e saúde aos trabalhadores. A NR 15, por exemplo, define limites de exposição ao calor e concede adicionais de insalubridade, enquanto a NR 18 estabelece medidas específicas para proteger profissionais da construção civil.

Quando se trata de trabalhadores autônomos, a situação se agrava pelo fato de não possuírem respaldo das normas trabalhistas. Como é o caso do entregador de delivery, Paulo Henrique Santos de Oliveira, 23, que conta os problemas aos quais enfrenta. 

“Em dias de muito calor ou muita chuva acaba sendo muito complicado trabalhar, em relação às queimaduras por conta do sol e também ao risco de acidente por causa da chuva. Quando a tempestade está muito forte, a gente costuma parar e esperar, infelizmente isso diminui nossa boa pontuação nos aplicativos” explica Oliveira. Segundo Haddad, não há legislação voltada à proteção desses prestadores de serviço. 

O  incentivo à mobilização do setor privado e a COP30

As mudanças geradas no mercado são visíveis pela implementação de conjuntos de práticas ambientais e sociais em empresas, mais conhecidas como ESG (Environmental, Social and Governance).

Tais ações vêm sendo implementadas também por entidades como a Secovi, que representa o setor imobiliário. Para o diretor de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da regional da Secovi em Campinas, Alan Silva Cury, a adaptação do mercado ao aumento da temperatura da terra tornou-se obrigação. 

“Imóveis localizados em áreas com menor risco tendem a se valorizar, enquanto aqueles em áreas de risco podem sofrer desvalorização. O desenvolvimento de novas tecnologias e materiais mais resistentes às mudanças climáticas é fundamental para garantir a segurança e a durabilidade das construções, além do cuidado com funcionários”, elucida Cury.

É com o intuito de discutir a implementação de ESGs, que ocorrerá entre os dias 14 e 26 de novembro de 2025, a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). O Programa Pacto Rumo à COP30 vem buscando mobilizar o setor privado em ações de mitigação e adaptação à mudança do clima.

Segundo a Coordenadora de Clima do Pacto Global, que organiza o programa, Paloma Pinheiro, “essa transição para uma nova economia, precisa acontecer de forma justa, considerando a saúde e bem estar dos trabalhadores e as populações mais vulneráveis à mudança do clima”. Para ela, os diferentes setores devem ser pressionados a reduzirem a emissão de gases poluidores e a se adaptar à nova realidade ambiental e econômica.   

S.O.S Mudanças Climáticas

 S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.

Esta matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Maria Vitória Soares Porto, Beatriz Cristina Coelho Stevanatto, Maria Clara Prado, Luiza Pessopane e Leticia Teodosio Borges, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Daniel Targino, Marília Ditolla, Maurício Jr, Victória Gaulke e Vitor Melo, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.





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