Senador disse ter tomado conhecimento de encontros entre Bolsonaro e militares apenas pela investigação da Polícia Federal
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (23/5), o senador Hamilton Mourão (Republicanos/RS) afirmou não ter participado nem sido informado de qualquer reunião entre o então presidente Jair Bolsonaro e os comandantes militares após as eleições de 2022. Segundo ele, só soube da existência desses encontros por meio dos inquéritos conduzidos pela Polícia Federal (PF).
Ao ser questionado sobre uma possível convocação para reuniões que discutiriam medidas de exceção, Mourão negou com firmeza: “Não participei de nenhuma reunião em que tivesse sido abordado esse tipo de assunto”, declarou ele, conforme o portal Agência Brasil.
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Durante a reunião, Mourão também rejeitou a ideia de que tivesse sido alvo de vigilância a mando de Bolsonaro. Em mensagem interceptada pela PF, Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara teriam mencionado um monitoramento do senador, caso ele se encontrasse com o ministro Alexandre de Moraes.
Mourão respondeu ao ministro: “Nunca me preocupei com isso porque meus atos eram todos públicos, publicizados na agenda diariamente e qualquer deslocamento que eu fazia era pela FAB. Se eu precisasse me encontrar com o senhor, eu avisaria o presidente, não temos nada a esconder, não somos dois bandidos”.
A audiência, ocorrida por videoconferência, foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado. Mourão foi chamado a depor como testemunha de defesa do general da reserva Augusto Heleno, que à época chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Na conversa com os ministros do STF, Mourão voltou a afirmar que a suposta conspiração investigada pela PF era “sem lógica” e sem viabilidade prática. Ele reconheceu que houve, sim, discussões sobre o tema entre membros das Forças Armadas, mas afirmou que essas conversas não se concretizaram.
O chamado “Núcleo 1” do processo reúne oito nomes considerados centrais na tentativa de ruptura institucional. São eles: Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; Walter Braga Netto, general e ex-candidato a vice; Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e, hoje, delator.
A atual fase do processo prevê a escuta de testemunhas de defesa e acusação até o dia 2 de junho. A etapa seguinte será o interrogatório dos réus, incluindo Jair Bolsonaro, mas a data dessa fase ainda não foi definida.
Embora tenha feito parte do governo, Mourão se distanciou de Bolsonaro no fim do mandato e não integrou a chapa na tentativa de reeleição. Desde então, ocupa uma cadeira no Senado Federal, eleito pelo Rio Grande do Sul. O senador mora atualmente no Rio de Janeiro.