Congresso em Foco

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Enquanto as negociações climáticas acontecem em salas com ar condicionado ao redor do mundo, nas ruas milhões enfrentam os efeitos do aquecimento global na pele. As médias de calor crescem em ritmo alarmante pelo mundo, e não é diferente no Brasil. Dados da Unicef indicam que nos últimos 50 anos, o número de dias extremamente quentes subiu de cinco para quase 27. Esse aumento, impulsionado pela crise climática, tem consequências especialmente graves para crianças e adolescentes, cujos corpos e contextos sociais os tornam mais vulneráveis. 

Crianças são mais sensíveis à desidratação, à exaustão e ao agravamento de doenças respiratórias. Altas temperaturas também contribuem para a desnutrição infantil, afetam o desenvolvimento neurológico e aumentam a vulnerabilidade a doenças transmitidas por vetores como a dengue e a malária enfermidades que tendem a se expandir com o aquecimento global. São mais de 1 bilhão de crianças vivendo e crescendo em locais de risco climático e ambiental, mas não chegam a 3% os investimentos ligados ao enfrentamento das mudanças do clima aqueles que consideram esse grupo.

“Para crianças indígenas, por exemplo, o meio ambiente não é apenas paisagem, mas parte essencial de sua cultura, identidade e modo de vida”. Rovena Rosa/Agência Brasil

Além dos efeitos físicos, há impactos sociais profundos ligados a segurança alimentar e hídrica, contaminação do ar, do solo e da água e a interrupção dos serviços para crianças, como saúde e educação. O que está em jogo, portanto, é mais do que o bem-estar de crianças hoje é a sua sobrevivência, sua dignidade e seu futuro. Os efeitos não atingem todas as infâncias da mesma forma. Indígenas, quilombolas, ribeirinhas, periféricas e aquelas em situação de vulnerabilidade socioeconômica enfrentam impactos climáticos mais graves e têm menos acesso a mecanismos de proteção e recuperação.

Neste contexto, a COP que acontece em Belém no próximo mês de novembro precisa ser mais do que um evento diplomático, mas um marco de compromisso real com o presente e o futuro das infâncias brasileiras. O evento será no coração da Amazônia, mas suas decisões devem ecoar por todos os territórios. Governos de todas as esferas devem assumir responsabilidade para preparar o país para os impactos climáticos sobre grupos mais vulneráveis, como crianças e adolescentes,e com atenção especial às suas diferenças, especificidades e desigualdades.

Para crianças indígenas, por exemplo, o meio ambiente não é apenas paisagem, mas parte essencial de sua cultura, identidade e modo de vida. A degradação ambiental atinge diretamente a saúde, segurança alimentar e continuidade cultural deste grupo. As quilombolas convivem com racismo ambiental, exclusão histórica e ausência de saneamento básico, o que agrava os efeitos das secas, enchentes e contaminação. Essa diversidade exige que a luta por justiça climática seja ampla e considere os saberes tradicionais e direitos territoriais desses povos.

2025 será um ano chave para a agenda ambiental. O Brasil tem uma nova chance de influenciar a pauta globalmente, e a COP30 um evento que marca a chegada das crianças no centro da pauta climática. Isso significa garantir que políticas públicas, investimentos e compromissos coletivos tenham como prioridade proteger quem mais precisa. E as cidades terão grande protagonismo nesse movimento.

Em São Paulo, protocolamos dois projetos de lei, um na Assembleia Legislativa e outro na Câmara Municipal, voltados a garantir o direito das crianças a um meio ambiente saudável e ao contato com a natureza. As mudanças pelas quais o ambiente tem passado aumentam a vulnerabilidade em grandes metrópoles como a capital paulista, onde quase 40% das escolas não contam com nenhuma área verde, e mais de 80 mil estudantes frequentam aulas em locais com potencial risco climático.

Mais do que propostas legislativas, essas ações representam um compromisso com uma mobilização mais ampla para a COP30, que precisa ser, mais do que nunca, a Conferência das Infâncias. Encerrar esse grande evento, sem um plano claro para proteger nossas crianças é ignorar o futuro que já bate à nossa porta. Que o Brasil possa liderar com coragem e responsabilidade, a construção de um mundo onde todos possam crescer com saúde, dignidade e esperança.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].



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