Segundo o “NYT”, investigação derrubou esquema que transformava o país em centro de criação de identidades forjadas para agentes de Moscou
Uma investigação sigilosa da Polícia Federal brasileira desmantelou uma rede de espionagem russa que formava agentes secretos com identidades falsas no Brasil. A informação foi publicada nesta 4ª feira (21.mai.2025) pelo jornal norte-americano New York Times.
Segundo a publicação, pelo menos 9 oficiais de inteligência russos operavam com RGs e CPFs forjados. Os espiões aproveitavam brechas no sistema de registro civil do país para obter certidões de nascimento autênticas com as quais conseguiam outros documentos oficiais, incluindo passaportes.
A investigação, nomeada “Operação Leste”, se iniciou em abril de 2022, quando a CIA (Agência Central de Inteligência) alertou as autoridades brasileiras sobre Sergey Cherkasov, um espião que adotava o nome falso de Victor Muller Ferreira. Ele foi barrado ao tentar entrar na Holanda para estagiar no TPI (Tribunal Penal Internacional) enquanto o órgão norte-americano investigava crimes de guerra dos russos na Ucrânia.
Um dos agentes russos era Artem Shmyrev, que vivia no Rio de Janeiro sob a identidade de Gerhard Daniel Campos Wittich. Ele administrava uma empresa de impressão 3D e mantinha relacionamento com uma brasileira. Outros espiões identificados incluem um presumido joalheiro, um pesquisador e até uma modelo.
A operação russa não visava a espionar o Brasil, mas usar o país como plataforma para criar identidades confiáveis que permitissem aos agentes atuarem posteriormente nos Estados Unidos, na Europa ou no Oriente Médio. Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, os serviços de inteligência ocidentais intensificaram a cooperação global contra espiões russos.
DE VOLTA A RÚSSIA
Ainda segundo o Times, a maioria dos agentes conseguiu fugir antes de ser capturado, provavelmente retornando à Rússia. Como estratégia para “queimar” permanentemente as identidades desses espiões, a Polícia Federal emitiu alertas azuis da Interpol (notificações da Interpol usadas para localizar pessoas de interesse, sem ordem de prisão), circulando seus dados para 196 países.
Apenas Cherkasov permanece preso no Brasil, condenado por falsificação de documentos com pena reduzida para 5 anos. O governo russo tentou extraditá-lo afirmando que ele seria um traficante de drogas procurado, mas as autoridades brasileiras rejeitaram o pedido.