Termelétrica Brasília viola direitos humanos, diz Erika Kokay

Termelétrica Brasília viola direitos humanos, diz Erika Kokay


Deputada do PT fala em apresentar acusação ao Ministério dos Direitos Humanos sobre os impactos da construção da usina

A deputada federal Erika Kokay (PT – DF) disse na 3ª feira (13.mai.2025) que a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara apresentará uma acusação à ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo (PT), sobre a remoção da escola de ensino rural Classe Guariroba de Samambaia para a instalação da Usina Termelétrica Brasília. A unidade atende cerca de 350 alunos, e já foi deslocada para a construção do Aterro Sanitário de Brasília, em 2017.

“Se seguíssemos a Constituição, nem tocaríamos na escola. Crianças e adolescentes são prioridades absolutas. Direito que está sendo retirado. Vamos solicitar uma reunião com a ministra dos Direitos Humanos sobre essa questão e sobre os impactos para o meio ambiente, que é um direito humano fundamental”, afirmou Kokay.

A comissão recebeu representantes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), da Adasa (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal), da FNCE (Frente Nacional de Consumidores de Energia), do Movimento Salve o Rio Melchior, do Instituto Internacional Arayara, do Fórum das Águas do Distrito Federal, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e da Escola Classe Guariroba. A Termonorte Energia não enviou representante sob o argumento de que não houve compatibilidade de agenda.

A professora da Escola Classe Guariroba, Walquiria Gonçalves, disse que retirar a escola da região é o mesmo que privar as crianças que estudam lá do direito à educação. “Essas crianças têm o direito de estudar perto de suas casas”, afirmou.

O representante do Fórum das Águas do Distrito Federal, Pedro Ivo, declarou que a instalação contraria a política ambiental do Brasil e que “em lugar algum do mundo se quer termelétricas e uso de combustível fósseis. No Distrito Federal não é diferente”.

Ivo disse que a usina tem potencial de comprometer a qualidade do ar e trazer riscos à saúde da população, afetando ainda o equilíbrio ecológico do corpo hídrico local, com despejo de cerca de 110 mil litros de água em temperatura elevada por hora no Rio Melchior.

A Adasa concedeu duas outorgas ao empreendimento. Uma para captação de água do Rio Melchior e outra para o lançamento de efluentes da usina no rio. A superintendente de Recursos Hídricos da agência, Juliana Pinheiro Gomes, disse que os critérios técnicos ambientais foram avaliados e considerados respeitados. 

“Foi concedida outorga prévia para captação de água do rio porque a demanda solicitada pela usina não ultrapassa a vazão de referência. Tecnicamente, o rio Melchior tem a disponibilidade hídrica para atender o requerente. Para o lançamento de efluentes foi considerado que o efluente tratado lançado tem uma concentração de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) melhor do que a do próprio rio”, afirmou Juliana.

O Rio Melchior abastece 1,3 milhão de pessoas no Distrito Federal e é classificado como Classe 4 no nível de poluição. É o pior valor na graduação de alarme. A classificação proíbe o contato humano, pesca ou irrigação.

O Ibama considera o empreendimento como de alto teor poluidor. O coordenador geral de Licenciamento Ambiental de Energia Nuclear do instituto, Eduardo Wagner, disse que as análises do relatório de impacto ambiental da empresa começaram em fevereiro de 2025 e que ainda não foi concedida licença para a usina ser implementada.

Segundo Wagner, além da necessidade de realocação dos estudantes da Escola Classe Guariroba, a emissão de gases de efeito estufa, em especial na época de seca em Brasília, quando “o ar é naturalmente insalubre”, é analisada com atenção.

Termelétrica Brasília

A construção está em fase de planejamento, segundo a Termonorte Energia, responsável por desenvolver, projetar, implantar e operar a usina. Atualmente, a empresa trabalha para atestar a viabilidade socioambiental do empreendimento por meio da emissão da LP (Licença Prévia).

No Relatório de Impacto Ambiental da Termonorte, disponível no site da empresa, é dito que a usina será vantajosa porque ocupa menos área, o que reduz custo de instalação e eventuais perdas de energia. Haveria, pelo tamanho, a possibilidade de instalação da usina próximo às cidades. A proximidade reduz gastos com linhas de transmissão, segundo a empresa. Eis a íntegra do documento (PDF 27 MB).

O texto afirma que a usina irá contribuir para a redução da emissão de gases de efeito estufa na matriz energética do Brasil e que a qualidade do ar na região de construção será pouco impactada, pois a emissão estará no limite estabelecido pela legislação.

A energia gerada a partir do gás natural é menos poluente que a produzida a partir do carvão e do petróleo, mas ainda emite CO₂ (dióxido de carbono) na atmosfera. Além disso, a matriz emite NO₂ (óxido de nitrogênio) e MP2.5 (material particulado fino), partículas sólidas ou líquidas com diâmetro igual ou inferior a 2,5 micrômetros, que podem penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea.

Este jornal digital procurou, por e-mail, a Termonorte Energia. Não houve resposta até o momento. O espaço segue aberto para manifestação.





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