Documento enviado a dirigentes questiona atuação de Alan Belaciano nas negociações de dívidas trabalhistas após 115 dias sem resposta
Cerca de 100 sócios do Vasco formalizaram um pedido de esclarecimentos sobre possível conflito de interesses envolvendo o presidente da Assembleia Geral, Alan Belaciano. As informações foram divulgadas pelo jornal Globo Esporte.
O documento foi enviado na 6ª feira (09.mai.2025) ao presidente Pedrinho, aos dirigentes dos demais poderes do clube e ao CEO Carlos Amodeo.
A mobilização dá continuidade a um movimento iniciado em janeiro de 2025, quando os associados começaram a questionar a participação de Belaciano nas negociações com credores trabalhistas durante o processo de recuperação judicial do clube e da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Vasco.
O presidente do Conselho Deliberativo, João Riche, estabeleceu em 18 de janeiro um prazo de 15 dias para Belaciano apresentar esclarecimentos. Ao término desse período, Riche concedeu mais 30 dias de prazo. Desde a 1ª solicitação dos sócios, já transcorreram 115 dias sem qualquer resposta oficial.
O novo documento conta com assinaturas de 7 conselheiros eleitos na mesma chapa de Pedrinho, além do ex-médico do clube, Clóvis Munhoz, como suplente. Os associados solicitam a Riche a criação de uma comissão de inquérito para investigar o caso.
Os sócios pedem esclarecimentos formais sobre um possível afastamento dos casos de credores trabalhistas, informações sobre a procuração concedida a Belaciano para representar o Vasco nas negociações, além de uma “análise comparativa” dos descontos negociados com credores que foram clientes de Belaciano anteriormente.
A iniciativa surgiu a partir de um levantamento realizado pelo associado José Américo, que comparou os planos de pagamentos de dívidas trabalhistas do Vasco com os de outros clubes. Os números apresentados indicam que, utilizando parâmetros aplicados em processos similares de recuperação judicial, o clube poderia economizar R$ 144 milhões.
No documento enviado pelos sócios, consta que “…há indícios de que o Sr. Alan Belaciano atuou simultaneamente em ‘dois lados’ de matérias sensíveis ao Clube: por um lado, representando interesses de terceiros credores em ações judiciais contra o CRVG (Clube de Regatas Vasco da Gama), e por outro, conduzindo ou participando de negociações em nome do próprio CRVG e, possivelmente da Vasco da Gama SAF, para quitação de passivos trabalhistas. Tal situação, se comprovada, configuraria grave conflito de interesses, violando princípios basilares de lealdade e zelo com o patrimônio do Vasco, além de possivelmente enquadrar-se como ato de gestão temerária nos termos do nosso Estatuto”.
O levantamento dos sócios mostrou que Belaciano participou de 80% das audiências de processos trabalhistas de ex-clientes, conforme consulta ao site do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) do Rio de Janeiro. No plano atual apresentado pelo clube, a economia estimada é de R$ 100 milhões, com limite de pagamento de R$ 5 milhões aos credores.
João Riche instaurou duas comissões de inquérito em junho de 2024: uma para investigar a venda da 777 durante a gestão do presidente Jorge Salgado, e outra para apurar a gestão de Alexandre Campello. As comissões tinham prazo inicial de 120 dias, prorrogáveis por igual período. Após 320 dias desde a criação dessas comissões, nenhum relatório foi apresentado ao Conselho Deliberativo do Vasco.
O plano atual do clube projeta a destinação de 6% das receitas extraordinárias, como venda de jogadores, para quitação das dívidas ao longo de 10 anos. O plano de pagamento das dívidas trabalhistas segue em análise no judiciário.