Associação denuncia falhas no atendimento de retinopatia diabética pelo SUS

Associação denuncia falhas no atendimento de retinopatia diabética pelo SUS


Vanessa Pirolo aponta filas de mais de dois anos para tratamento e uso incorreto de medicamentos que pode agravar os quadros

DivulgaçãoVanessa Pirolo, presidente da Vozes do Advocacy
Vanessa Pirolo, presidente da Vozes do Advocacy

A retinopatia diabética é uma das principais complicações do diabetes e pode levar à perda da visão se não tratada adequadamente. Segundo protocolos clínicos e diretrizes do Ministério da Saúde, o tratamento deve incluir pelo menos oito aplicações do medicamento Anti-VEGF no primeiro ano após o diagnóstico. No entanto, dados do DataSUS e obtidos via Lei de Acesso à Informação apontam que esse tratamento completo raramente é realizado.
“O que temos visto é um subtratamento generalizado. As pessoas são diagnosticadas, recebem a promessa de tratamento, mas não são acompanhadas conforme orientações médicas. O resultado disso é o desperdício de dinheiro público e o agravamento da saúde da população”, denuncia Vanessa Pirolo, presidente da Vozes do Advocacy.

O Vozes do Advocacy é um conglomerado que reúne vinte e cinco associações e dois institutos de todo o Brasil, que integram a Federação de Associações e Institutos de Diabete e Obesidade, unidos em prol das causas do Diabetes, da Obesidade e de suas complicações. “Visamos ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, além de promoção de políticas públicas, que protejam e amparem essas populações. Infelizmente, as filas de mais de dois anos para atendimento oftalmológico e uso incorreto de medicamentos agravam a situação de milhões de brasileiros com diabetes”, declara a diretora.

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Em entrevista exclusiva ao Portal Jovem Pan, a entidade afirma que, apesar da disponibilidade de medicamentos pelo Governo Federal, os estados não estão aplicando os protocolos corretamente, desperdiçando recursos públicos e colocando pacientes em risco de cegueira. “A fila para atendimento com oftalmologistas pelo SUS ultrapassa dois anos em alguns estados, como mostrou a resposta do Governo do Estado de São Paulo a um pedido via Lei de Acesso à Informação. Com esse gargalo, muitos pacientes não conseguem sequer iniciar o tratamento antes de sofrerem danos irreversíveis à visão”.

Pesquisa demonstra gravidade do cenário

A situação é ainda mais preocupante quando se observa os dados da mais recente edição do Radar Nacional do Diabetes, pesquisa realizada pela Vozes do Advocacy com 1.843 pessoas em todo o país. O levantamento revelou que 30% dos pacientes apresentaram descontrole glicêmico; 42% não sabem ou não lembram o último resultado de exame de glicemia; 12% relataram retinopatia diabética; 32% têm neuropatia; 25% enfrentam doenças cardiovasculares; 23% sofrem com disfunções sexuais associadas à doença e 10% têm nefropatia ou lesões nos pés.
“Grande parte dessas complicações poderiam ser evitadas com acesso regular a especialistas e um acompanhamento contínuo. Mas o que vemos são filas intermináveis, falta de capacitação na atenção básica e um sistema que não conversa entre os diferentes níveis de cuidado”, declara a presidente. E continua: “É preciso cobrar urgência na implementação de políticas públicas efetivas, com foco em diagnóstico precoce, capacitação dos profissionais da saúde e a correta aplicação dos protocolos clínicos existentes. Eu, que tenho diabetes há 24 anos me sinto indignada ao perceber tais dificuldades”.

Uma luta em constante evolução contra a doença

A porta-voz enumera avanços conquistados ao longo dos anos através de denúncias e notificações. “Desde 2021, quando o projeto ganhou corpo, envolvendo 27 organizações de diabetes, conseguimos incorporar a insulina análoga de ação prolongada no SUS; denunciamos a falta de medicamentos e insumos para a Secretarias de Saúde assim que as pessoas com diabetes notificam as organizações e se caso as autoridades não tomarem as iniciativas, denunciam nos meios de comunicação”.

Vanessa pontua vitórias conquistadas pela união de diversas associações: “Tivemos ganhos dentro da Anvisa com relação ao projeto de precisão dos glicosímetros, implantamos o Dia D de vacinação para pessoas com diabetes, capacitamos mais de 2000 profissionais de saúde do SUS para tratar pessoas com diabetes; iluminamos o Senado e a Câmara dos Deputados com projeções para o Dia Mundial do Diabetes e já sensibilizamos mais de 20 parlamentares no país sobre a doença, mas é preciso mais”, ressalta.

Um dos principais problemas se refere ao início do tratamento: “A maioria das pessoas com diabetes é tratada pelo clínico geral. O tempo de espera pelos especialistas é imenso e o tempo de consulta é de 15 minutos no SUS. Além disso, a falta de capacitação dos profissionais de saúde em diabetes e a espera interminável pelo tratamento em si colaboram para o caos”.

E finaliza: “Os Municípios deveriam criar capacitações em diabetes para as populações e o Governo Federal deveria ter um mecanismo para não faltar medicamentos e insumos no país, os profissionais de saúde deveriam receber capacitações periódicas em diabetes. As organizações da sociedade civil poderiam ajudar o poder público nestas capacitações, ou seja, a informação é um dos caminhos mais viáveis para a mudança de status”.





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