Brasil quer aproveitar as oportunidades criadas pela guerra comercial e ampliar parceria com Pequim; presença do petista em celebração de Putin gerou desconforto na comunidade internacional

Sob pressão internacional por participar das comemorações da vitória soviética na Segunda Guerra ao lado de Vladimir Putin e outros ditadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou neste sábado (10) em Pequim com o objetivo de colher resultados econômicos expressivos e tentar virar a página da controvérsia. A viagem à China é parte de uma estratégia diplomática que busca reforçar a posição brasileira no cenário global e aproveitar as oportunidades criadas pela guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A comitiva brasileira é composta por ministros, autoridades e cerca de 200 empresários. A missão, segundo o governo, é clara: ampliar parcerias com o maior parceiro comercial do Brasil, especialmente em áreas como agronegócio, tecnologia e infraestrutura. O momento é considerado estratégico pelo Planalto, diante do aumento das tarifas aplicadas entre EUA e China, que abriu espaço para exportadores brasileiros em setores antes dominados por concorrentes americanos.
“O Brasil pode se apresentar como uma alternativa sólida e confiável”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) mapeou 400 oportunidades de negócios com os chineses, com destaque para a venda de carnes, grãos e biotecnologia agrícola. Além dos interesses comerciais, a visita à China tem peso político. Lula se encontrará com o presidente Xi Jinping e participará do IV Fórum China-Celac, que reúne países da América Latina e do Caribe. A agenda inclui ainda discussões sobre a reforma da governança global e propostas conjuntas para regulação de temas como inteligência artificial e mudanças climáticas.
A China representa hoje cerca de um terço das exportações brasileiras e está entre os principais investidores no país, com atuação em setores como energia, infraestrutura e telecomunicações. De janeiro a março de 2025, o intercâmbio comercial entre os dois países chegou a US$ 38,8 bilhões.
Apesar da tentativa de manter o foco na diplomacia econômica, a viagem é marcada pelas críticas à passagem anterior de Lula por Moscou. O presidente brasileiro foi um dos poucos líderes democraticamente eleitos a comparecer às festividades organizadas por Vladimir Putin, que usou o evento como demonstração de força em meio à guerra na Ucrânia. Questionado, Lula defendeu sua presença na Rússia, afirmando que o Brasil mantém uma “postura sólida” em defesa da paz e da integridade territorial dos países. “Conversamos com todas as partes. O Brasil quer o fim da guerra, mas é preciso que ambos os lados queiram”, afirmou.
A participação no desfile militar na Praça Vermelha, que exibiu tanto tanques históricos quanto drones utilizados na guerra contra a Ucrânia, gerou desconforto em parte da comunidade internacional. No mesmo momento, líderes europeus faziam uma visita surpresa a Kiev, com um apelo por cessar-fogo imediato e novas sanções contra Moscou.

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A diplomacia brasileira tenta equilibrar-se entre diferentes polos globais, defendendo o multilateralismo e a neutralidade ativa. Como presidente do Brics neste ano, Lula também busca projetar o Brasil como mediador em conflitos e protagonista nas discussões sobre o futuro da ordem internacional. A China é vista como parceira-chave nesse esforço.
*Reportagem produzida com auxílio de IA