Quais os impactos das mudanças climáticas no interior de São Paulo?

Quais os impactos das mudanças climáticas no interior de São Paulo?


As mudanças climáticas são alterações que acometem os padrões climatológicos do planeta terra, afetando a temperatura, umidade, pressão atmosférica, vento e precipitação de inúmeras regiões. Apesar de se tratar de um fenômeno natural, a intensidade dessas alterações no clima é diretamente influenciada pela ação humana, como acontece nos desmatamentos, queima de combustíveis fósseis e poluição. No Brasil, enchentes de grandes proporções, calor intenso e queimadas têm recebido destaque na mídia por impactar a vida de muitos brasileiros. Entre os desastres, vale mencionar os alagamentos e mortes na região Sul do país, além do número de desabrigados nas áreas afetadas.

Em 2024, dois jovens morreram após serem arrastados por enxurradas em Campinas, enquanto outras cidades enfrentavam desafios para conter os efeitos da seca e calor extremo. Em 2024, Piracicaba sofreu com enchentes que levaram à evacuação de moradores, devido ao transbordamento do Rio Capivari e registrou queimadas significativas nas proximidades do Horto Tupi e da Estação Ecológica de Ibicatu na região de Anhumas, em agosto do ano passado. De forma similar, o município de Araraquara, se tornou a nona cidade do estado com mais registros de queimadas, aparecendo entre as cidades de dez estados brasileiros com baixíssima umidade relativa do ar, de acordo com dados fornecidos pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), entre 1° de janeiro e 19 de agosto. Esses eventos evidenciam os efeitos das mudanças climáticas no cotidiano do interior paulista.

Além disso, São Carlos passou por episódios de estiagem em 2024, resultando em baixos níveis nos reservatórios de água e afetando a agricultura local. Sendo que o município ficou sem chuvas durante 33 dias seguidos, tendo a pior seca em 20 anos. Os reservatórios de água da cidade chegaram a atingir apenas 35% da capacidade, segundo o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Enquanto em dezembro de 2024, moradores de Ribeirão Preto registraram um “chafariz de lama” no Centro do município. A cena era de um ponto de alagamento e lamaçal que interditou passagens após um temporal. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, nesta ocasião, foram quase 30 milímetros de chuva.

Adaptação nas cidades

Segundo a engenheira ambiental e pesquisadora da PUC-Campinas, Laís Almeida de Souza, a infraestrutura das cidades acaba precisando se adaptar a esses eventos climáticos por meio de técnicas de mitigação na construção civil. O que significa a aplicação de estratégias que reduzam riscos ambientais, como os piscinões urbanos, estruturas que acumulam a água da chuva para evitar enchentes. 

Por outro lado, a especialista afirma que a adoção de piscinões é uma alternativa temporária para amenizar desastres causados por alagamentos. As enchentes que ocorrem em centros urbanos acontecem devido à falta de áreas permeáveis, o que pode ser corrigido com a implementação de áreas verdes, desempenhando, assim, o processo natural de absorção da água da chuva e ampliando a disponibilidade hídrica. Para Laís, ainda são necessários alguns ajustes sobre a manutenção das estruturas de mitigação, como o piscinão, para organizar a limpeza das obras. Caso a limpeza dos piscinões não seja feita periodicamente, as obras podem desencadear o efeito reverso, com o acúmulo de resíduos.

“A educação ambiental é crucial para mudar comportamentos, como o descarte incorreto de resíduos, que contribuem para entupir sistemas de drenagem e agravar enchentes.”

A adaptação da agricultura às novas condições do clima

Para melhorar o plantio e rendimento financeiro, áreas rurais também têm desenvolvido estratégias para amenizar os efeitos das mudanças climáticas na região. Segundo a pesquisadora da Embrapa, Paula Parks, as mudanças no clima afetam a produção de safras na agricultura por alterarem as zonas de cultivo e produção agrícola, gerando prejuízo para os produtores e elevando o custo dos produtos comercializados. 

Para contornar a situação, algumas pesquisas e investimentos em tecnologia tem sido realizadas pelo setor para auxiliar produtores rurais a se adaptarem as crises hídricas e o aumento das temperaturas, ao mesmo tempo em que diminuem os impactos gerados no meio ambiente. De acordo com Parker, há mudanças sendo feitas para diminuir o desmatamento e emissão de gases do efeito estufa. Dentre as principais técnicas de adaptação e mitigação utilizadas por produtores rurais de pequeno e médio porte, destacam-se a projeção de agroflorestas, o uso da agricultura de baixo carbono, bioinsumos e irrigação.

Segundo a engenheira agrônoma, a agricultura desempenha dois papéis conflitantes na luta contra as mudanças climáticas, sendo tanto vítima da alteração dos padrões climáticos, quanto agente do fenômeno ao favorecer a emissão de gases na atmosfera. “A agricultura é tanto o vilão e a vítima. O vilão tem que olhar para processos de mitigação e a vítima tem que se colocar no processo de adaptação [a agricultura faz os dois]”, diz Paula Parker, criticando o enfoque negativo direcionado a agricultura e agronegócio.

 “O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, mas é responsável por menos de 5% das emissões globais. O desmatamento e a agropecuária são as principais fontes de emissão no país.”

Educação ambiental como ferramenta para a preservação da biodiversidade

De forma similar, a Fundação Mata de Santa Genebra em Campinas também tem se adaptado às mudanças no clima e feito observações do local. O presidente da Fundação José Pedro de Oliveira, que administra a Mata Santa Genebra, Rogério Menezes, conta que as árvores são grandes aliadas na manutenção de temperaturas e redução de gás carbônico, um dos gases responsáveis pelo agravamento do aquecimento global, tendo sido plantadas 13.944 mudas no último ano, que em 20 anos podem sequestrar 2.274 toneladas de carbono.

Recentemente uma pesquisa no local mostrou que a temperatura no interior da mata é 8 graus menor do que no campo ao redor e 4 graus a menos em relação ao campo externo, evidenciando a importância das árvores na manutenção do ecossistema e ciclo de vida dos animais que dependem do ecossistema para viver.

“O efeito de borda é o impacto que o desenvolvimento humano causa na mata, especialmente nas áreas mais próximas das construções”, diz.

A fundação acredita que a educação ambiental pode incentivar as novas gerações a se interessarem pela causa e gerar adultos mais conscientes no futuro, por isso, projetos em parceria com centros de educação têm sido feitos para apresentar o local ao público infantil e desenvolver atividades sustentáveis, como o ‘Escola Amiga das Abelhas’, que já identificou 80 colmeias em 14 escolas.

Confira algumas fotos da Fundação

S.O.S Mudanças Climáticas

 S.O.S Mudanças Climáticas é um projeto multimídia do acidade on, em parceria com professores e alunos da Faculdade de Jornalismo e Curso de Mídias Digitais da PUC-Campinas. Os conteúdos buscam explicar como as mudanças climáticas afetam o cotidiano das pessoas no interior de São Paulo e têm como propósito ajudá-las a se preparar melhor para enfrentar essa crise.

Essa matéria foi feita pelos alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas: Bruna Souza de Azevedo, Daniel Ribeiro dos Santos, Vitor Augusto Gomes dos Santos, Maria Luiza Machado Silva, Maria Eduarda Ferreira e Bonnie Virgilio Prado, com apoio dos alunos do Curso de Mídias Digitais: Sarah de Faria Cunha, Carlos Eduardo Couto de Barros, Luisa Hiromi Oyama, Antônio Bento Neto e Maria Victória Sakamoto Caffeu, para o componente curricular do Projeto Integrador, sob supervisão da professora Amanda Artioli e edição de Leonardo Oliveira.





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