Especialista explica uso do PMMA em procedimento de Kamila Simioni para correção no bumbum

Especialista explica uso do PMMA em procedimento de Kamila Simioni para correção no bumbum


O portal LeoDias conversou com exclusividade com o cirurgião plástico Daniel Regazzini, membro titular e diretor nacional do Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), que explicou detalhes sobre os perigos e particularidades do PMMA

Kamila Simioni passou recentemente por mais um procedimento estético nos glúteos. Desta vez, o objetivo foi corrigir uma assimetria causada pela aplicação clandestina de hidrogel — substância que comprometeu sua saúde e autoestima por quase uma década. Para realizar a correção, Kamila recorreu ao uso do polimetilmetacrilato, o PMMA — substância que vem sendo amplamente discutida no meio médico e, atualmente, é alvo de um pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) para proibição em procedimentos estéticos. O ofício, enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alerta para os riscos associados ao uso do produto.

Para entender melhor os perigos e as particularidades do PMMA, o portal LeoDias conversou com exclusividade com o cirurgião plástico Daniel Regazzini, membro titular e diretor nacional do Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

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Foto: Reprodução

Kamila Simioni faz nova intervenção estética para reparar danos causados por hidrogelFoto: Reprodução

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Kamila Simioni faz nova intervenção estética para reparar danos causados por hidrogelFoto: Reprodução

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Kamila Simioni faz nova intervenção estética para reparar danos causados por hidrogelFoto: Reprodução

Crédito: Wellington Moura

Kamila Simioni é musa da Barroca Zona Sul, escola de samba de São PauloCrédito: Wellington Moura


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Ao explicar como o PMMA age no organismo, o médico destacou que o preenchimento acontece a partir de uma reação do corpo.

“O polimetilmetacrilato é um produto utilizado para preenchimento de tecidos moles. Como ele preenche? Uma vez injetado no organismo, ele promove uma reação inflamatória que leva à formação de uma cicatriz, e essa cicatriz dá o volume que a gente precisa. Assim sendo, a gente precisa que o produto cause uma resposta inflamatória, e é essa resposta que gera o volume. Às vezes, essa resposta pode ser tão intensa que forma nódulos, que endurecem e ficam palpáveis ou até visíveis.”

O que mais preocupa, segundo ele, é a permanência definitiva da substância no corpo.

“É um produto que nunca vai embora. Uma vez colocado, ele vai ficar lá, e toda vez que for manipulado — seja com nova injeção, laser, lipo ou qualquer outro procedimento — ele pode provocar uma nova resposta inflamatória, que pode agravar ainda mais o endurecimento ou levar à formação de granulomas, como são conhecidos.”

Essa característica torna a retirada total do PMMA um grande desafio.

“Remover totalmente o produto injetado é quase impossível. O que eu faço com frequência é uma readequação do volume da região, com remoção parcial ou total de todos os tecidos envolvidos — o que leva à formação de uma cicatriz. Então, a gente troca um endurecimento por uma cicatriz.”

Regazzini ainda chama atenção para o uso indiscriminado do PMMA nos últimos anos, especialmente por profissionais não especializados.

“O PMMA tem algumas complicações que podem ser graves. O que aconteceu nos últimos anos foi que o preço dele barateou, houve uma invasão da especialidade médica por outros profissionais fazendo inserções, e vimos um aumento nos casos de excesso de tratamento. Muita coisa foi aplicada, muita coisa foi injetada, e muitas vezes nem sabemos exatamente o que foi injetado.”

O cenário, segundo ele, é tão preocupante que o assunto passou a ser tratado como uma questão de saúde pública.

“Isso virou uma questão de saúde pública, porque tem muita coisa ruim circulando por aí. O que a Anvisa e o governo fizeram? Consideraram como uma questão de saúde pública, e hoje se estuda a proibição do uso do produto.”

Sobre a possível proibição, Regazzini aponta que o problema não está apenas no produto, mas na forma como ele vem sendo utilizado.

“Somos a favor ou contra? Um produto de qualidade, bem aplicado, tem indicação. Mas o que estamos vivendo hoje no Brasil é uma situação completamente diferente. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo: produtos ruins, muita gente fazendo coisas indescritíveis.”

Por isso, mesmo reconhecendo que o PMMA pode ter uso médico legítimo, o cirurgião defende a suspensão da substância no país.

“Então, quando isso se torna uma questão de saúde pública, a atitude mais prudente é proibir o produto — mesmo havendo indicações muito bem documentadas de segurança no uso. Vivemos um dilema entre a saúde pública e a qualidade do profissional aplicador.”
“Como médico, preciso pensar no bem-estar do meu paciente. Então, se sou a favor ou contra a proibição? Sou a favor, porque estamos vivendo um caos.”

Quando se trata da região glútea, como no caso de Kamila, os desafios se multiplicam.

“Como eu removo o produto? Se for no glúteo — que é o mais comum, o que mais aparece — fazemos uma remodelação, ou melhor, uma readequação do glúteo, com a remoção de tecidos que levam junto o produto. Eu não vou retirar só o produto, eu vou readequar esse glúteo. Na maioria das vezes, não consigo tirar tudo.”

Apesar das limitações, ele afirma que ainda é possível alcançar resultados estéticos satisfatórios — embora isso envolva grandes cicatrizes.

“A gente consegue deixar o bumbum mais bonito, com um contorno corporal mais harmônico, mas às custas de cicatrizes grandes. O importante é entender: eu não vou tirar o produto, vou readequar o contorno, removendo tecidos que têm o produto dentro. É uma cirurgia grande, que deve ser feita por um profissional capacitado, com uma equipe bem preparada.”

Ainda assim, nem todos os quadros têm solução definitiva.

“Eu não vou conseguir resolver o problema de todo mundo. Muita coisa vai sobrar. E precisamos lembrar que já foram descritas — e estão aparecendo cada vez mais — lesões renais causadas pelo uso do PMMA. Ele pode causar lesão renal, e essa lesão é grave.”

Diante desse risco, Regazzini faz um alerta importante para quem já tem o produto no corpo.

“Então, quem tem PMMA deve fazer exames anuais de função renal. O cirurgião plástico não vai conseguir resolver o problema de todo mundo, mas pode melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes.”

Ele também reforça que nem sempre a cirurgia de retirada é indicada.

“A cirurgia de remoção é indicada para todos? Não, não é. Precisa retirar sempre? Também não. Esteticamente, a gente vai readequar o corpo à nova realidade, às custas de uma cicatriz.”

Hidrogel: outra substância, outros perigos

Durante a entrevista, o especialista também explicou as diferenças entre o PMMA e o hidrogel — substância que causou os problemas iniciais de Kamila Simioni.

Segundo ele, embora ambos tenham base acrílica, tratam-se de materiais distintos.

“Hidrogel é outro produto. O PMMA é feito com microesferas de acrílico; já o hidrogel é um gel de acrilato — a base também é o acrílico, mas é um material diferente.”

O corpo, diz ele, reage ao hidrogel de outra forma. “O hidrogel causa uma reação do organismo, não de endurecimento como o PMMA, mas de encapsulamento. Ele fica encapsulado, não é absorvido e não migra. Fica ali, no lugar onde foi aplicado, podendo ser palpável.”

Ainda que tenha efeito preenchedor, o hidrogel também pode gerar complicações. “O hidrogel também é um método de preenchimento por reposição de volume, e o corpo reage formando um tecido cicatricial ao redor dele. As complicações mais comuns são a formação de pequenos nódulos (granulomas), que às vezes conseguimos esvaziar com uma agulha, drenando o hidrogel.”

Esse esvaziamento, no entanto, nem sempre é possível. “Mas isso não é fácil. Normalmente ele fica multilobulado, ou seja, vários pequenos nódulos se juntam formando um nódulo grande e palpável.”

Na prática, o tratamento definitivo do hidrogel se assemelha ao do PMMA. “O tratamento do hidrogel é o mesmo do PMMA: remoção cirúrgica, com cicatriz. Não tem como remover só o hidrogel com agulha. É muito raro conseguir acertar com uma agulha exatamente o nódulo certo, mesmo com ultrassom ou técnicas modernas.”

Além disso, o volume aplicado costuma ser exagerado, o que dificulta ainda mais a abordagem médica. “Isso porque, normalmente, quem usa hidrogel usa em quantidades absurdas — já recebi paciente com até um litro injetado.”



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